A Siemens Energy, empresa que foi, recentemente, adjudicada a empreitada da construção da Linha Amarela do Metro de Superfície de Luanda, avaliada em 1.3 mil milhões de euros, é acusada em suspender, de maneira indevida, uma funcionária, identificada por Selma Leopoldo, por esta ter denunciado actos de racismos, assédio, pressão psicológica, tratamento laboral injusto, entre outros.
Os actos de “práticas laborais desleais”, em que incluem “despedir trabalhadores por mútuo acordo”, constatam de uma exposição, feita por esta funcionária, que o Jornal 24 Horas teve acesso, onde é citado um cidadão expatriado, de nome Clifford Klass, como “mexerico” (fofoqueiro), que “espalha rumores”, afirmando de que “Angola é um país problemático”, “não suporta os negros” e estar aqui “por dinheiro e estilo de vida luxuoso”.
Na longa exposição, a funcionária, que exerce a função de Gestora de Projectos, assegura que a SE Angola adotou, há muito tempo, “práticas laborais desleais” e estes factos, de “descontentamento”, que configuram atentado à honra dos trabalhadores, já foram relatados, em várias ocasiões, “em Câmaras Municipais, SPEAKUP e nas redes sociais.
“Durante o inquérito, SE VOICES, no início do ano fiscal de 2023, denunciei racismo, assédio e tratamento laboral injusto. Infelizmente, fui confrontada pela minha chefia, Mr. Figueiredo, Ronald Groot, Mike Breckenridge, sobre as razões que me levaram a denunciar estes factos”, escreveu Selma Leopoldo, acrescentando que “estavam convencidos de que tinha sido eu a dar o feedback, uma vez que era a única mulher PM. Isto foi um choque para mim, pois nos dizem sempre que o inquérito é anónimo!”.
Na sequência deste incidente, relata, em Novembro/Dezembro de 2022, enviou um e-mail ao Departamento Contencioso da SE e informar de que era “tratada injustamente” e “penalizada no incentivo anual” sem qualquer justificação.
“A chefia informou-me de que eu tinha de preencher os formulários de objectivos anuais depois, o que me levou a apresentar uma queixa ao Compliance, através do SPEAKUP”, citou, salientando não compreender como a gerência, em Angola, de Mike Breckenridge, “pode violar o processo sem fundamentação ou consequências”.
“Em Janeiro de 2023, mais uma vez, fui penalizada no aumento salarial, pois só recebi 11%, quando o resto dos funcionários recebeu 25%”, descreveu, voltando a questionar de como a direcção, em Angola, foi autorizada a manipular o aumento inflacionário e a discriminá-la.
No documento Selma Leopoldo, detalha que a 26 de Janeiro de 2023, através da cultura “Speak up”, alertou “a Siemens Energy S.A. sobre a fuga de informação confidencial”, por parte de 2 colegas, nomeadamente o Sr. João Mangovo (Fiscal) e a Sra. Nair Cangongo (RH), cujo conteúdo da mesma “comprometia, não só a integridade da empresa, e da sua direcção”.
A mesma assegura que reportou os factos à organização local, mas Clifford Klaas não conseguiu responsabilizar os nossos chefes locais de RH e de Impostos, pelas suas difamações contra a empresa. Apresentei todas as provas à direcção local, mas nada foi feito”, apontando de outras funcionárias “apresentaram queixas e reclamações sobre o comportamento e a conduta de Ronald”, desde que ele chegou à SE.
“Porque é que a empresa está a tratar os funcionários de forma diferente? Ronald está acima da lei? Ronald é insubstituível? Ronald é melhor do que os restantes 50 trabalhadores?”, questiona, realçando de que, na sequência das situações descritas, “comecei a sofrer uma grande pressão por parte de Mr. Groot”, que se manifestava “desesperado por saber como e onde é que eu havia recebido as informações.”
Selma Leopoldo garante ter recebido, por WhatsaApp, no número privado, uma mensagem de Mr. Groot a convidá-la para almoçar no centro comercial. “Mais tarde, retirou/adiou o convite devido à uma situação de trabalho. Mas eu, também, respondi que não me ia encontrar com ele em mais lado nenhum, a não ser no escritório”
“Em 16 de Março de 2023, fui surpreendida por ter sido convidada para uma reunião para discutir um acordo mútuo. Fiquei, completamente, chocada com esta decisão. Fui-me embora, mas informei, claramente, o Sr. Groot que se a empresa já não me quisesse, ele poderia enviar-me o acordo mútuo por correio electrónico e eu assiná-lo-ia.”, apontou.
Na exposição, a mesma cita que os Recursos Humanos, na pessoa da senhora Gina, asseguram que “o senhor Clifford Klass faz mexericos sobre os empregados e espalha rumores de que Angola é um país problemático. Ele não está apto a exercer o cargo. É tendencioso, xenófobo e pouco profissional. Por favor, deixem-no reformar-se. Ele só serve para fazer com que as pessoas sejam afastadas por acordos mútuos”, denunciou.
Contacto ocupado
O Jornal 24 Horas tentou, no âmbito do contraditório, contactar a direcção da Siemens Energy Angola através de um contacto telefónico disponível no site da empresa, com sede na Rua do Centro de Convenções devia S8, Condomínio Sigma Group, edifício E, r/c, Luanda Sul, Talatona, mas sem sucesso, por este dar, constantemente, ocupado.
Voltaremos, em próximas edições, com a outra parta do conteúdo da exposição da senhora Selma Leopoldo, tão logo conseguirmos obter o contraditório da empresa, em função das graves acusações feitas.
