PCA da Sonangol continua à “grande e à francesa”, intocável e impune, como acontece com todos os ladrões e vigaristas que se escondem nas vestes de dirigentes e desgraçaram o país
Santos Pereira
O presidente do Conselho de Administração da Sociedade Nacional de Combustíveis de Angola (Sonangol), EP, Sebastião “Pai Querido” Gaspar Martins, protagonizou em Agosto do ano passado um caso inquietante que idignou, sobremaneira, não só funcionários da petrolífera, mas também a sociedade angolana em geral, ao mandar que fossem pagos cinco bilhetes de passagem aérea, na ordem dos quase 28 milhões de kwanzas, a favor da sua filha, genro e netos.
Apesar de todo o reboliço que o assunto criou, com a sociedade a pedir a sua exoneração imediata e que a Procuradoria Geral da República (PGR) elaborasse o respectivo processo – crime, nem o Executivo tugiu ou mugiu e a PGR simplesmente ignorou as acusações. Assim sendo, o embusteiro, mais um, continua à “grande e à francesa”, intocável e impune, como acontece com todos os ladrões e vigaristas que se escondem nas vestes de dirigentes deste país.
“Pai Querido”, ao longo dos tempos, tem sido acusado de outras “engenharias”, porém, quanto a esta, recorde-se que a peripécia começou com uma “solicitação superior” protocolada com o n.º 184/CSG/2021, feita pelo próprio PCA às áreas competentes da Sonangol, no dia 10 de Agosto de 2021, a fim de que fossem pagos os referidos bilhetes de passagem à Emirates – Sucursal de Angola, no valor de 27 822 314,00 (vinte e sete milhões, oitocentos e vinte e dois mil e trezentos e catorze kwanzas), com o itinerário Luanda/Dubai/Houston, nos Estados e Unidos, e vice-versa.
Com validade de um ano, os cinco bilhetes de passagem foram adquiridos pela Sociedade Nacional de Combustíveis de Angola EP., dois dias após a solicitação feita, isto é, a 12 de Agosto de 2021, através de um pagamento efectuado a partir da conta da petrolífera angolana no Banco de Fomento Angola (BFA) n.º 165026211 30 001.
Beneficiaram do referido pagamento Janice Tiana Policarpo Gaspar Martins Ascenso (filha), cujo bilhete de passagem em 1.ª classe custou 8 452 669,00 kz (oito milhões, quatrocentos e cinquenta e dois mil e seiscentos e sessenta e nove kwanzas), com data de partida agendada para 16 de Agosto de 2021 e regresso a 20 de Agosto de 2022.
Mário Ascenso (genro), com um bilhete de passagem em classe executiva, no valor de 5 872 885,00kz (cinco milhões, oitocentos e setenta e dois mil e oitocentos e oitenta e cinco kwanzas), com data de partida agendada para o dia 25 de Outubro de 2021 e regresso a 20 de Agosto de 2022, igualmente com o itinerário Luanda/Dubai/Houston e vice-versa.
Os outros três bilhetes de passagem, também em classe executiva, foram emitidos em nome dos netos de “Pai Querido”: Anya Ascenso, Mário Ascenso e Sara Ascenso, todas no valor de 4 498 920,00kz (quatro milhões, quatrocentos e noventa e oito, novecentos e vinte kwanzas), com data de partida agendada para o dia 25 de Outubro de 2021 e regresso a 20 de Agosto de 2022, com o mesmo itinerário da passagem dos progenitores.
Uma abordagem feita na altura com um quadro sénior da Sonangol apontava que teria sido emitido um documento interno a dar conta de uma posterior regularização da situação por parte do solicitante, mas sem uma indicação concreta de quando e como deverá ser feita esta regularização.
Uma das fontes deste jornal, que solicitou anonimato e que se mostrou “bastante indignada” com o facto, desabafou que a nota de repúdio que atribuia a esse episódio não se baseava apenas no facto de se tratar da filha do PCA da Sonangol, mas, sobretudo, pelo facto desta ser maior de idade, ser quadro superior com formação na University of Leeds, nos Estados Unidos da América, e igualmente ser funcionária sénior de um dos maiores bancos africanos, o Standard Bank Angola, onde ocupava inclusive o cargo de chefe de sector de óleo e gás.
Segundo o que se noticiou então, apurou-se que, além de funcionária do Standard Bank Angola, Janice Tiana Policarpo Gaspar Martins Ascenso é igualmente sócia da mãe (Ana Maria Cardoso Policarpo Gaspar Martins) na sociedade comercial Darling’s – Queridos, Limitada, empresa com sede em Luanda, na rua Rey Katyavala, e com uma sucursal em Talatona, sita na Via S8, condomínio Cidade Financeira.
A Darling’s – Queridos Limitada, é uma empresa de direito angolano que actua no mercado há 17 anos, tendo as instalações compostas por áreas distintas, como salão de beleza, barbearia, bazaar e loja de artigos de decoração.
Voltando ao assunto inicial, ao que tudo indica, este é mais um dos muitos casos de vígaros protegidos pelas autoridades e que a PGR finge não ter conhecimento de nada. Daqui a quatro meses “a culpa acabará por morrer totalmente solteira”!