Este é mais um dos muitos episódios protagonizados por elementos das ditas “elites do poder” em Angola, que desgraçaram o país e o enterraram no profundo abismo da miséria em que se encontra ainda actualmente. Contado na primeira pessoa pelo cidadão Mário Cumandala que testemunhou e foi vítima das sórdidas vigarices de tais indivíduos
De acordo com uma comunicação que circula nas redes sociais, em 2007, James Edwards, de nacionalidade sul – africana, era o representante do Banco Crédito Suíço para África e o signatário desta revelação (Mário Cumandala) era o representante credenciado do mesmo Banco para Angola.
Marta dos Santos, irmã do antigo Presidente da República, José Eduardo dos Santos, dona da empresa Prodoil, queria na época um empréstimo de USD 3 milhões do banco Crédito Suíço naquela semana, para cobrir despesas com os blocos que sua empresa havia ganho então da Sonangol. Na reunião, que ocorreu no Hotel Trópico, com o Sr. James, ele deixou claro que a sua instituição bancária, só emprestaria à Dona Marta, caso o valor do projecto, fosse acima de USD 10 milhões.
Assim, Mário Cumandala explica que Marta dos Santos, ainda na referida reunião disse-lhe: “filho, aqui está o meu cartão e vais fazer o plano de negócios para que a Prodoil consiga obter este empréstimo”. Quando ficou claro que os terrenos (os melhores de Luanda de acordo com o filho varão dela que estava na reunião) que ela queria oferecer como hipoteca, não eram aceitáveis pelo banco, ela nunca mais atendeu os meus telefonemas até hoje. E para minha surpresa, algumas semanas depois, pelo braço forte do Presidente José Eduardo dos Santos, naquele época, foi despachado um tal de Sr. Clemente para Londres, sem o meu conhecimento enquanto representante do Banco em Angola, para negociar directamente com o Banco Suíço a possibilidade de a Dona Marta & filhos, passarem a ser os representantes do Banco em Angola e não eu. Só que ele, o Sr. Clemente, não só chegou atrasado à reunião em Londres, como não tinha consigo nem sequer um cartão de apresentação e, assim sendo, o banco ligou-me para confirmar a identidade dele, que eu neguei por nunca ter ouvido falar do mesmo”.
Continuando, o declarante apresenta “outra peça do xadrez neste episódio, que foi, na época, o secretário de Estado para as Empresas Públicas, Augusto da Silva Tomás, que era o padrinho desse projecto. Este solicitou-me que levasse o Sr. James ao ministro das Finanças, na época o Dr. José Pedro de Morais Júnior, para que o Banco Crédito Suíço também pudesse fazer empréstimos ao Ministério das Finanças e à Sonangol.
Foi aprovado na reunião subsequente, eu presente, com o ministro das Finanças e a senhora Madalena, que era a secretária do ministro, um valor acima de USD 400 milhões, a favor do governo angolano. A reunião foi marcada pela assinatura dos contratos. Para meu espanto, no dia em que os executivos do Crédito Suíço vieram de Londres para Angola, para assinar os contratos, o ministro José Pedro de Morais fora enviado pelo chefe do Executivo ao Bié para inaugurar o ‘Nosso Super’. Nessa mesma semana, o secretário Augusto da Silva Tomás encontrava-se em Washington DC, em missão de serviço. Que tragédia para mim e desapontamento dos bancários que vieram de Londres para serem assim tratados pelo Governo angolano.
Quanto aos executivos do Crédito Suíço, regressaram no dia seguinte para Londres, frustrados e furiosos comigo, e os projectos com a Dona Marta não avançaram. Em conclusão, o Banco Crédito Suíço não só não concretizou o seu desejo de ser parte da solução dos problemas que a nossa banca angolana enfrentava na época, mas perdeu-se um gigante que queria instalar-se em Angola disposto a providenciar capital para as empresas nacionais.
Com a crise imobiliária que iniciou em 2009, o Crédito Suíço, através da “Mergers & Aquisitions” (Fusões e Aquisições), coisa que o nosso general Kundi Payhama nunca ouviu falar, porque senão ainda estaria na praça, fez fusão com a First Boston e isso fez com que a busca de parcerias com Angola ficasse congelada.
As pessoas politicamente expostas, Marta dos Santos (por ser irmã do então Chefe de Estado, Augusto da Silva Tomás e Pedro de Morais Júnior, foram em parte, a razão porque este projecto não avançou. Num encontro privado, ainda me lembro como se fosse ontem, depois de mostrar as minhas credenciais do Banco Crédito Suíço ao Dr. Augusto Tomás, ele disse sem reservas que, de acordo com o meu contrato de 1% a 5%, com o Banco, que estava plasmado no documento, caso o empréstimo de USD 2 bilhões à Sonangol e de USD 400 milhões ao Ministério das Finanças fossem concretizados, os valores que me caberiam teriam que ser divididos entre, ele, José Pedro de Morais e eu. Eu, sem nenhuma chance de avançar sem eles, aceitei.
Ainda bem que o projecto falhou, porque eu nunca entendi, na época, porque eles, com tanto dinheiro que já tinham, ainda precisavam da minha humilde comissão do Banco. Hoje não só entendo, como acho que o feitiço virou-se contra estes dois feiticeiros, Augusto Tomás foi condenado e José Pedro de Morais Júnior é o próximo a ir para a Cadeia de São Paulo. Deus afinal escreve mesmo direito em linhas tortas.
Note-se que na época, o meu desejo era ver um banco como o Crédito Suíço em Angola a financiar grandes projectos. Quando a Dona, ex poderosa, Marta dos Santos, tentou sabotar o projecto e os homens fortes em quem confiei eram todos mafiosos, algo aprendi. Quem com porcos se mete, fica sujo; hoje já não vejo esses monstros como anjos, isto porque eles são directamente responsáveis por causa de suas ganâncias desenfreadas, pela miséria e mortes infantis que se embateram contra esta geração e as gerações futuras deste país. A corrupção matou e está a matar, ainda hoje, crianças e os nossos mais velhos.
Em conclusão, o país estava à mercê deste tipo de monstros e nós, como peixes pequenos mergulhados na boa vontade de ver Angola a crescer, perdemos oportunidades de produzir mais-valia para o país e, além do mais, o “status quo “era mesmo normal no regime Eduardiano. O tráfico de influência era a nota do dia. Sem eles, naquela época, nada andava, mas graças ao nosso Deus, hoje, com o Governo de JLO que está no leme, projectos desse calibre teriam sim receptividade em Angola.
O país mudou e bancos como o Bank of America, Barclays Bank, Credit Suisse, e outros, precisam estar aqui para fazer diferença na banca angolana. O Dr. Massano, actual governador do BNA, deve mostrar que pode mobilizar estes gigantes para Angola e assim seremos nós todos a viver o sonho de uma Angola moderna e financeiramente diversificada.
A banca nacional e internacional deverá ter sim um lugar cimeiro nisso tudo. Não deixe que a sua actual equipa económica e o governador do BNA desmoronem o seu e nosso sonho de uma Angola sempre a subir. A mão invisível sempre irá reinar em economias de mercado livre, e quanto cedo aceitarmos essa realidade, com a banca nacional e internacional bem presentes na nossa praça, melhor será”. (Mário Cumandala)