A direcção do Instituto Superior de Ciências de Educação de Cabinda (ISCED), está a fazer pressão psicológica ao professor universitário Ezequiel Bernardo, para que deixe de ensinar de forma científica e passa a falar de acordo com os interesses políticos
Domingos Kinguari
Conforme se apurou, uma das formas usadas para o fazer recuar tem sido a intimidação com impedimento de entrar na casa que lhe atribuída pela instituição durante vinte e quatro horas.
A informação foi prestada por um grupo de professores universitários solidários com Ezequiel Bernardo, destacando que o mesmo é docente do ISCED-Cabinda desde 2014, «mas o certo é que o professor viu-se impossibilitado de entrar em sua casa durante 24 horas, porque foi trancada com um cadeado; só lhe foi possível entrar em casa depois de se trocar a fechadura», repudiam os professores.
Segundo os referidos docentes, que preferiram falar na condição de anonimato, essa pressão psicológica vivida pelo académico Ezequiel Bernardo foi a mesma vivida no tempo da PIDE-DGS, em que os presos políticos que estavam em Tarrafal sofreram as mesmas sevícias.
«O certo é que o professor, para voltar à casa teve que manter contacto com a direcção de finanças de Cabinda, para saber as motivações de tal acção, tendo a mesma alegado falha», contestam.
«Como despejar alguém sem aviso prévio? A que se deve tal atitude? Ao certo é que para o professor, para voltar a entrar em casa tiveram de romper a porta e colocar outra fechadura. Isto só mesmo nas ditaduras e nas monarquias onde existe este tipo de comportamento. Academia é para fazer ciência e não política. A política é feita nas organizações partidárias e não na universidade. Agora, os políticos querem fazer da universidade os seus ‘caps’, por isso é que a qualidade do ensino é um fracasso, por se fazer da academia uma caixa de ressonância dos políticos», rebatem os professores.
As fontes disseram que «esta casa foi disponibilizada pelo ISCED para acomodação dos professores, mas no dia 18 de Novembro, o professor Ezequiel Bernardo encontrou as portas encerradas com um papel escrito, ‘contactar a reitoria’. Atitude reprovável na medida em que o professor não tinha sido informado e nem a instituição a que está afecto. Essa acção que levou o professor a dormir em lugar incerto fez transparecer existir alguma situação obscura entre as duas instituições. O ISCED fazia parte da Universidade 11 de Novembro e após a sua autonomia, apercebe-se haver resistência na distribuição do patrimônio imobiliário», denunciam.
Neste âmbito sublinharam que «é preciso haver respeito pela pessoa humana, porque é o foco da universidade. A universidade deve estar preocupada com a humanização da sociedade. Além da falta de respeito e do abuso do direito, criado pelo ISCED contra esse académico, isso constitui uma violação do direito e constitui crime».
Contactada via telefônica a coordenação da comissão instaladora do ISCED/ Cabinda, na pessoa de Domingos Gabriel Ndele Nzau, a informação que obtivemos foi a de que ele não aceita pronunciar-se sobre o assunto e remete-o para o reitor da universidade 11 de Novembro, João Fernando Manuel. Nenhum deles aceitou pronunciar-se.
Contactamos o académico Ezequiel Bernardo, que remeteu o assunto para o ISCED, mas não confirmou nem desmentiu o litígio; alegou apenas: «devem contactar a direcção do Instituto Superior de Ciências de Educação, não cabe a mim falar do mesmo», disse o académico de forma lacónica.