Desde as primeiras horas de terça-feira (07), os trabalhadores da Sonadiet, que prestam serviço nos projectos Paz Flor, Clov e Esso Kizomba, todos no bloco 15 e 3 em offshore, na base do Kwanda onshore, entraram em greve, porque a direcção daquela empresa viola o acordo colectivo de trabalho, declarando um aumento salarial na ordem de três por cento, que não foi aceite pelos operários
Domingos Kinguari
A informação foi prestada ao Jornal online 24 Horas pelos membros da comissão sindical da Sonadiet, justificando que «não aceitamos a proposta da empresa, porque a inflação acumulada do ano de 2021 é de cerca de vinte e cinco por cento. Nesta senda, o colectivo de trabalhadores e o sindicato deram uma moratória de catorze dias úteis à empresa por meio de uma carta com conhecimento ao Ministério dos Petróleos e Recursos Naturais, sem qualquer pronunciamento por parte da entidade empregadora», enfatiza.
Os operários consideram que «é muito triste o que a direcção da empresa está a fazer, tem coagido os trabalhadores a aceitarem os irrisórios aumentos salariais, prejudicando a maioria, até o já acordado no entendimento colectivo», alertam.
Por sua vez, o secretário-geral do Sindicato das Indústrias Petro – Químicas e Metalúrgicas de Angola (Sipeqma), Luís Manuel, alegou à imprensa que a greve dos trabalhadores da Sonadiet, observada desde terça-feira (07), «é questão de reivindicar os seus direitos. É uma reivindicação que já vem de 2014 e que começou com o reajuste cambial», disse.
Esclarece que «a compreensão dos trabalhadores é que os mesmos abdicaram da reivindicação do reajuste cambial aplicável nas empresas petrolíferas, que no fundo ficou como dívida; então estamos a reclamar a taxa de inflação, devido à perca do poder de compra resultante da lei n.º 2/12 de 13 de Janeiro, que obriga que as empresas devem pagar os operários angolanos em Kwanza, e as firmas têm por obrigação respeitarem a taxa de câmbio diária do Banco Nacional de Angola».
O sindicalista assegura que «neste momento a principal reivindicação é a taxa de inflação do ano transacto que está a rondar à volta dos vinte e sete por cento. E a empresa, infelizmente, sempre com maldade de não assumir as suas responsabilidades, pretende apenas disponibilizar um aumento de três a cinco por cento, muito abaixo das expectativas dos trabalhadores. Nós, os sindicatos, não concordamos com o argumento da empresa Sonadiet», disse.
O sindicalista justifica que a direcção da empresa não está a cumprir com o acordado, «porque alega que não tem condições de cumprir com a taxa de inflação e o aumento de três por cento é que está na razão deste aumento miserável. E nós não aceitamos, porque em Angola não é só a Sonadiet que opera na indústria petrolífera e existem outras firmas que respeitam o reajuste cambial. Algumas empresas como a Sonadiet não o fazem por má-fé. Existem muitas empresas que estão a respeitar a inflação e fazem o reajuste de forma anual», lembra.
«A reivindicação vem de longe»
Entretanto, considera que a greve não tem um horizonte para terminar. Tudo depende da direcção da empresa; «a reivindicação começou no dia 7 e não tem tempo para terminar, temos que informar que na segunda-feira (06), depois da greve declarada e no dia da paralização, recebemos a notificação da Inspecção – Geral do Trabalho a pedir uma mediação, que começou quarta-feira (08), mas já com a greve decretada. Se nesta mediação o diálogo for frutífero e satisfatório, esta greve pode terminar em tão pouco tempo. Mas esperamos que haja condescendência da parte da entidade patronal em reconhecer o direito do trabalhador, porque para nós estão a prevaricar em não cumprir o que a lei estabelece».
Luís Manuel assegura que a greve afecta todos os trabalhadores daquela instituição do ramo petrolífero; «sabemos que a direcção da Sonadiet está em Luanda, mas os seus maiores serviços estão na Base Sonils, na Base do Kwanda e outros estão em offshore e estes já abandonaram as plataformas e estarão em terra pois já aderiram à greve. O pessoal que está no Soyo também já paralisou as suas actividades laborais», disse.
«A reivindicação que datava de 2014 terminou num acordo colectivo e o entendimento a que se chegou é que o reajuste cambial ficasse para o passado, mas como dívida; então ficou-se apenas com a taxa de inflação e acordamos que a empresa cumpriria com a taxa de inflação, do ano transacto, que está em vinte sete por cento e é o que os operários reclamam», recorda.
Questionado se, em tempo de campanha eleitoral, quando os sindicatos realizam greves se são ou não bem interpretados pelos políticos, respondeu dizendo que não… «não há questão política nas nossas greves. Na verdade as eleições vão acontecer, mas se a empresa está a aproveitar-se desse facto e desrespeita os trabalhadores ao não cumprir aquilo que é de direito, só porque estamos em campanha, nós estamos apenas a reivindicar um direito que nos assiste, não podemos ficar calados só porque estamos em época eleitoral, a nossa greve não belisca a campanha eleitoral que está em curso, antes pelo contrário, temos fé que as nossas reivindicações serão ouvidas. Essa reivindicação já vem de há muitos anos e não é só na empresa Sonadiet», garante.
Assegura que a «angolanização» no sector petrolífero não está a acontecer; «ela é tão importante e converge para a melhoria da vida dos trabalhadores. Devo dizer que ela concorre também para a diversificação da economia. Um trabalhador angolanizado entende-se que é para substituir o posto de um expatriado. Se o trabalhador angolano ganhar como merece, também vai contribuir melhor para a diversificação da economia, porque vai ter o salário melhorado e o próprio Estado ganha, poi isso vai contribuir nos impostos. A ‘angolanização’ é um tema tão importante, actual e transversal».
Mais dados sobre a incidência da greve em próximas edições deste portal.