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Empresa de segurança ‘Protector’ acusada de espezinhar a lei e proteger falsos angolanos

por Redação

A empresa de segurança privada angolana, Protector, emprega, ao arrepio da lei, estrangeiros que em Portugal eram trapaceiros, guardas de discotecas e estão em Angola a ocuparem cargos de chefia contrariando a norma, sem que a Polícia Nacional fiscalize e faça cumprir a lei por receber  «alguns envelopes»

Domingos Kinguari

Ao que consta, os estrangeiros que a empresa emprega, são sobretudo portugueses com a situação migratória duvidosa. Contudo, para movimentarem-se à vontade e obterem algumas vantagens de forma obscura, os mesmos são portadores de bilhetes de identidade nacional tratados no “Pau Grande” do Cazenga, ou seja, falsos.

A informação foi prestada ao Jornal 24 Horas online, por uma fonte ligada à direcção de Recursos Humanos da empresa Protector, dizendo que os estrangeiros que ocupam cargos de destaque naquela empresa de segurança, na sua maioria, são estrangeiros e de origem portuguesa.

«São indivíduos que antes eram trapaceiros e delinquentes e hoje, com o empurrão de alguém que os foi buscar, estão a realizar uma ‘neocolonização’ na empresa, porque muitos deles não têm grande equivalência e em função da cor da pele têm super – protecção dos donos da empresa. Eles cometem também o crime de possuirem bilhete de identidade nacional, mas que não consta na base de dados do Serviço de Identificação Civil do Ministério da Justiça e dos Direitos Humanos», acusa.

Este Jornal, em Dezembro último, deslocou-se à Direcção Nacional dos Arquivos de Identificação Civil do Ministério da Justiça e dos Direitos Humanos, onde abordou um funcionário sénior, que pediu anonimato, e disse: «os mesmos expatriados, são cidadãos portugueses que estão como responsáveis naquela empresa de segurança, mas os seus nomes não constam na base de dados. Se têm bilhetes de identidade nacional são falsos e não passaram pelos nossos serviços. Isto constitui um caso de polícia criminal», alerta.

A nossa reportagem esteve também no Serviço de Migração e Estrangeiros, tendo obtido a e informação de que, alguns deles, entraram em Angola de forma legal e com vistos de trabalho. «Estão há alguns anos no país e não existe necessidade deles continuarem em Angola, porque as empresas de segurança devem ser dirigidas por nacionais e não por estrangeiros. Os serviços que os mesmos prestam, no nosso mercado existem cidadãos que o podem fazer. Não há necessidade de continuarem porque não trazem mais valia. Os expatriados devem apenas vir ao país para dar formação, mas não é o caso destes senhores. Alguns deles estão com os vistos caducados e já deveriam regressar, mas como têm alguns responsáveis do SME que os protegem, por isso circulam à vontade».

A fonte não aceitou revelar os nomes dos estrangeiros que trabalham na empresa de segurança Protector e que estão com os vistos de trabalho vencidos, alegando que aqueles expatriados têm a protecção da alta chefia do SME que recebe boas gratificações e quando vão a Portugal de férias ficam às expensas deles; por isso é que não conseguem autuá-los porque existe uma troca de favores.   

Acrescentando, referiu que a prática vem-se realizando desde a era do falecido José Luís, o proprietário da empresa; embora a sua esposa, Anabela Gomes de Carvalho, tenha conhecimento da situação, não aceita destruir o esquema mafioso porque tira dividendos com a presença dos referidos expatriados.

Como já se mencionou, a maior parte dos expatriados, que por sinal são ‘tugas’, são portadores de bilhetes de identidade angolanos que fazem uso no seu dia a dia. Os documentos foram tratados por alguns funcionários seniores da empresa Protector que receberam alguns valores para realizarem a acção criminosa, tendo recorrido à ‘máquina de falsificação’ do ‘Pau Grande’ ao Cazenga.

Comissário reformado português? 

Segundo a fonte, alguns desses estrangeiros têm a situação migratória legal em Angola, mas também fazem uso do tal ‘bilhete de identidade nacional’, talvez para serem confundidos com angolanos, já que alguns são de pele negra e proveem da antiga metrópole com a intenção de explorar, talvez ainda pensem que Salazar continua a mandar. 

Continuando, informou que «Paulo Matos, que é o chefe das oficinas, quando veio trabalhar na Protector, apareceu com a nacionalidade portuguesa. Em função da ‘bandidagem’ agora faz uso de ‘bilhete de identidade nacional’, como sendo natural da província da Huíla. Diz-se que é comissário reformado da Polícia Judiciária portuguesa. Veio explorar os angolanos para acrescentar no dinheiro da sua reforma. Estas situações têm sido possíveis porque os que deveriam velar para a legalidade e segurança nacional deixam-se embargar no crime de falsificação de documentos e outros, em vez de ‘cortar o mal pela raíz’, o que é lamentável; por causa dos benefícios que obtêm preferem fechar os olhos e manterem-se num silêncio sepulcral», garante.

Revelou que «Rui Paulo Dias, de nacionalidade portuguesa, actual director-geral adjunto, com a falsificação, agora é natural do Soyo; Hélio Semedo, actual chefe de Recursos Humanos, é luso-guineense, no bilhete falso é também natural do Soyo, na província da Zaire, sem nunca terem pisado aquelas terras e nem conhecem a cultura dos mossorongos», deplora. 

A fonte conta que outra trapaceira que depois de embarcar no mesmo crime preferiu fugir do país temendo ser descoberta, «é a Júlia Gameiro, que pertencia à direcção de Gestão de Negócios, já não faz parte da empresa e voltou para Portugal, constava como natural da Huíla. Mas uma coisa eles fizeram e continuam a fazer em companhia dos seus comparsas que ainda não regressaram, sobrefacturam os contratos, enganam a dona da empresa, a quem  apresentam um valor diferente, retirando o excedente que vai parar aos seus bolsos», acusa.

Porém, garante, «alguns expatriados que facturaram muito em Angola já deixaram o país, como são os casos de Rocha Adão, antigo supervisor de Logística de nacionalidade sul-africana, que também se passava por natural do Lobito. Roger, John Rock e o Paul Geven, este último morreu nas Lundas, também receberam documentos nacionais do ‘Pau Grande’», frisou.   

Quanto a Rui Fernandes, director operativo adjunto, este não alinhou com os seus conterrâneos, preferiu manter a nacionalidade portuguesa. Já o novo director do Centro de Coordenação Operativa, denominado CEO, Mário Delfino, ainda é português, mas os seus comparsas, com a liderança de Hélio Semedo, já estão a fazer demarches para o mesmo obter documentos nacionais do ‘Pau Grande’. Mário Delfino andou na ‘tuga’ sem qualquer ocupação e andava nas boites a jogar cartas, sonoker e aparece em Angola, apadrinhado pela dona da empresa, Anabela Gomes de Carvalho, viúva de José Luís.

Este Jornal apurou que o actual director de Recursos Humanos, Hélio Semedo, expatriado e que faz uso de bilhete de identidade angolano de forma fraudulenta, quando andou em Portugal era porteiro de discotecas e foi trazido a Angola também pela mão de Anabela Gomes de Carvalho que, naquela altura, frequentava de forma assídua a boite em que o luso-guineense trabalhava.

Hélio Semedo é acusado pelos seguranças nacionais de maltratar os ‘protectores’, tudo porque está em Angola em nome de Anabela Gomes de Carvalho. «Hélio Semedo é um ladrão e compra carros de marca Audi, Toyota Fortune e tantos outros, mas o seu salário não lhe permite comprar tantas viaturas de luxo. O filho de Anabela Gomes de Carvalho já descobriu os vários furtos do luso – guineense e está a apertá-lo. Contudo, o indivíduo não aceita comparecer aos encontros e arranja argumentos que não convencem. «Hélio Semedo é um bom mentiroso e fala mais do que a sua idade, aliás, correm rumores que, em função dos vários desfalques efectuados pelo antigo porteiro, o mesmo poderá ser corrido da empresa por furto de dinheiro».

De acordo com a lei das empresas privadas de segurança, quem deve ocupar o cargo de chefe de Operações são os nacionais. Mas na Protector acontece ao contrário. Nenhuma empresa deste ramo actua com director-geral adjunto, é a única, que faz tudo em sentido contrário e a Polícia Nacional que deveria fiscalizar não o faz por interesses inconfessos.

A fonte garante que os estrangeiros sentem-se seguros na Protector porque conta sempre com a presença do Comandante Geral da Polícia Nacional, Paulo de Almeida, que está em todas as festas, inaugurações e outras actividades, ao passo que outras empresa do mesmo ramo não gozam do mesmo privilégio, situação que gera desconfiança.

 «Estas informações são falsas e caluniosas»

Em nome dos ‘forasteiros’, Hélio Semedo, em conversa com o Jornal 24 Horas online, no dia 20 de Dezembro do ano transacto, num tom intimidatório, começou por dizer que, em Portugal, estudou direito na Universidade de Coimbra e foi um dos melhores estudantes. «Eu tirava nas provas 19 valores e estive sempre nos quadros de honra», disse de forma arrogante.

Apesar do seu tom ameaçador, o jornalista não se sentiu coibido de efectuar o seu serviço. Na sequência, confrontado com as acusações que pesam contra si questionou: «mas estas pessoas pretendem o quê? Os jornalistas não devem prestar atenção a coisas fúteis, devem  preocupar-se com notícias mais importantes, isto não é um caso para ser divulgado, Angola tem mais coisas para serem noticiadas», argumentou.

Hélio Semedo não aceitou que gravássemos a conversa e transcrevemos as suas declarações. Ao ser-lhe reiterado que todo o acto de falsificação é um facto noticioso e ele não está em condições de determinar o que se pode ou não divulgar, porque os jornalistas sabem o que é um facto noticioso, retrucou bruscamente dizendo que «estas informações são totalmente falsas. Se eu tivesse a certeza quem foram os caluniadores iria processá-los e pagavam-me uma indemnização bastante cara e com esse dinheiro deixava de trabalhar para cuidar da minha reforma. Estas acusações só acontecem num país em que não existe ‘rei nem rock’. Estas acusações são uma ofensa grave e constituem injúria. Só não vou avançar para a via judicial porque tenho respeito à sua profissão».

Em sua opinião,  «em África as participações judiciais não têm pernas para andar, embora que estejam estatuídos em várias constituições. Eu tenho visto de trabalho, o Rui Matos também, ou seja, todos nós estamos em Angola de forma legal. Isto para mim é mais uma notícia falsa», disse.

«Estou a perder o meu tempo para ouvir coisas inúteis, o meu tempo é dinheiro, alguém está a agir de má-fé e usa a influência dos jornais. A empresa Protector só contrata estrangeiros que estejam legalmente em Angola. Nós não contratamos pessoas ilegais, até os vigilantes angolanos devem ser antigos militares, mas volto a garantir-lhe que esta denúncia é caluniosa. O senhor pode olhar para mim, acredita que possuo bilhete de identidade angolano falso?  Estou em Angola há nove anos e sempre trabalhei com visto de trabalho. Sou casado com uma cidadã angolana, mas nunca aceitei pedir a nacionalidade angolana, e a lei me permite. Sou casado há desasseste anos e a minha esposa é advogada», assegura.

«Temos contado nas nossas actividades com a presença do Comandante Geral da Polícia Nacional, Paulo de Almeida, no dia da inauguração das nossas instalações ele esteve presente. Por isso ele conhece que nós estamos em Angola de forma legal. E também aproveito para convidar o Sr. Jornalista para falar da nossa empresa, que somos a primeira e única do sector de segurança privada que demos emprego aos deficientes físicos, temos artistas na empresa. Faça um bom trabalho e não apareça para levantar assuntos caluniosos e que não dignificam os angolanos», enfatiza. 

Enquanto isso, vangloriou-se que foi presidente da associação de emigrantes em Portugal. «Sinto muito orgulho de estar em Angola, sobretudo em África. Criei em Portugal o alto centro de migração e etnias . Angola também é meu país, por eu ser africano, e tivemos o mesmo sofrimento quando da colonização. Tenho a minha vida na Europa, não tenho interesse em falarmos mais deste assunto porque expõe a nossa empresa e cria outros transtornos em termos de imagem», considerou.

Entretanto, lamentou que em Angola demora-se muitos, longos e penosos anos para se adquirir a nacionalidade. «É muita burocracia para ser cidadão angolano», referiu, frisando que «se tivessemos esses documentos o Serviço de Investigação Criminal já estaria atrás de nós».

Hélio Semedo foi buscar as pastas dos arquivos e mostrou-nos, mas não aceitou que se lesse os documentos; mostrou apenas algumas copias de passaportes e não mostrou os vistos, nem tão pouco as cópias dos bilhetes de identidade de que são acusados.

Em jeito de remate, referiu: «sou inspector reformado da Polícia Judiciária de Portugal, tenho melhor vida em Portugal do que em Angola, mas como sinto-me em casa, vim contribuir para o crescimento deste país. Se estivesse na Guiné-Bissau teria um cargo no governo, o meu irmão é ministro na Guiné. Estas acusações irritam-me, tenho cinquenta anos de idade», afirmou.

O assunto não se esgota por aqui. Voltaremos!       

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