Início Sociedade Em Angola “não temos universidades, temos centros de extermínio de raciocínio”, diz professor

Em Angola “não temos universidades, temos centros de extermínio de raciocínio”, diz professor

por Redação

Nova greve de professores universitários enfraquece ainda mais a má qualidade do ensino superior angolano, avisam especialistas

A terceira greve de professores do ensino superior no espaço de um ano vai ter efeitos catastróficos na qualidade do ensino superior em Angola que por si só é muito fraca, disseram especialistas do sector à VOA.

Os professores voltaram a entrar em greve depois de terem paralisado o trabalho no final do ano passado e novamente em Maio do corrente ano, reivindicando melhores condições salariais e de trabalho.

Rafael Aguiar, especialista em ciências da educação e professor universitário, afirma que muitos dos estudantes depois destes ciclos de greves são aprovados para outras classes e concluem o ensino superior sem sequer terem assimilado 30 por cento dos conteúdos exigidos, quer em quantidade quer em qualidade.

Ele acredita que os estragos provocados aos estudantes são incalculáveis e irreversíveis.

“Os empregadores, alguns, admitem apenas estrangeiros e depois nós mesmos criticamos”, disse, afirmando depois que “há casos de empregadores que, não tendo outro mercado para recrutar, admitem esses estudantes e isso reflecte-se na fraca produtividade nacional e na economia”, diz o professor.

“Veja que mesmo sem haver greves a qualidade já é questionável, com estas greves cíclicas todo sistema fica impactado negativamente”, acrescentou.

A solução deste problema passa, segundo Aguiar, pelo investimento imediato no sector.

“O Estado tem mesmo que ter coragem para subir a 20 por cento o investimento na educação, que pode afectar os outros sectores, mas em médio prazo este investimento vai acabar por resolver o problema dos demais sectores”, conclui.

O professor universitário impedido de exercer no país por motivos políticos, Osvaldo Caholo, acredita que o problema nem sequer está na greve ou falta dela, a questão é muito mais profunda do que se calcula.

“Nós sequer temos universidades de facto em Angola, o que existe no país são centros de extermínio do raciocínio, para se manter o sistema, porque sem liberdade é impossível ter universidades”, afirma.

Caholo afirma que “os estudantes vão para as universidades para obterem os canudos e se tornarem escravos com qualificação, que têm de se ajoelhar e mendigar, para o ‘Deus’ do pão (emprego) que é o MPLA” acrescenta Caholo, que frisa ainda que “nenhum filho de governante angolano quando está no país vai para estas escolas, eles estudam nas escolas portuguesa, francesa e escolas diplomáticas e quando adultos vão para o exterior, ou seja, é impossível alguém resolver o problema enquanto não consomem o que eles proporcionam para o povo”.

Por seu turno, Joaquim Lutambi, responsável do Movimento dos Estudantes Angolanos (MEA) diz que são eles que mais sofrem com estas paralisações.

“Isto só vai agudizar cada dia mais o problema que vai se repercutir no produto final da universidade que é o próprio estudante que já tem poucas aulas”, afirma.

A greve dos professores que começou na segunda-feira, 24, poderá ser levantada por decisão da assembleia geral do sindicato dos professores. (In VOA)

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