A viagem do Presidente da República, João Lourenço, aos Estados Unidos da América está a ser preparada minuciosamente, ao pormenor, por uma equipa constituida a nivel da Presidência. Contudo, especialistas alertam que a permanência em Angola de empresas ou grupos com ligações ao terrorismo internacional pode ser uma condicionante
Japer Kanambwa
João Lourenço é um dos 10 Presidentes africanos convidados pelo Chefe de Estado norte-americano, Joe Biden, para participar na cimeira EUA-África marcada para 13 – 15 de Dezembro em Washington, daí que a preparação da sua viagem esteja a merecer cuidados antecipados e todas as atenções possíveis.
O propósito de João Lourenço é fazer da visita a Washington uma oportunidade para demonstrar “sincera vontade” de elevar o nı́vel das relações com os EUA, assim como reforçar interesses políticos e prevenir previsı́veis tomadas de posição norte-americanas em relação a procedimentos do Governo angolano que possam ser considerados indevidos.
Ultrapassada que foi a dúvida quanto a lisura e transparência das eleições gerais realizadas em 24 de Agosto último, não significa que os EUA não estejam atentos aos acontecimentos em Angola, embora, no âmbito da sua política internacional e dos seus interesses estratégicos e de segurança, possam “ignorar” alguns factos no que tange a problemas democráticos e atropelos aos direitos humanos.
A actual “brandura” nas relações entre os EUA e Angola, segundo fontes abalizadas, tem a ver com o importante papel que Angola desempenha a nível das organizações regionais africanas, empenhando-se a fundo na mediação e resolução de conflitos em África, com maior ênfase para a Região dos Grandes Lagos, promovendo o desenvolvimento e buscando solução para as questões de Paz e Segurança africana, quer a nível regional como internacional.
Igualmente, a posição geográfica de Angola no continente africano e defronte para o Oceano Atlântico, considerada altamente estratégica e importante para as questões de segurança global, interessa sobremaneira aos Estados Unidos.
Entretanto, nos últimos dias, circulam notícias descrevendo que o Governo angolano liderado por João Lourenço continua a manter uma estreita ligação com o consórcio libanês Dar Al-Handasah, liderado por Talal K. Shair, que é acusado de apoiar e financiar o terrorismo internacional.
Para os EUA, o terrorismo internacional é o seu pior inimigo e não poupa esforços e meios para o combater.
Recorde-se que, em Novembro de 2015, por decisão da Reserva Federal dos EUA, foi suspensa a venda de dólares a bancos angolanos, devido a evidências de violação sistemática de regras de regulação e compliance do sector e suspeitas de que os dólares vendidos a Angola acabavam por ser desviados para financiar organizações terroristas como o ISIS e o Hezbollah.
Neste sentido, as autoridades americanas prenderam e acusaram judicialmente dois potenciais financiadores do Hezbollah, identificados por Hatem Baraka e Kassim Tajideen, revelando o papel de empresas em Angola no financiamento do referido grupo terrorista, com destaque para o grupo Dar Al-Handasah.
O grupo libanês, Dar Al-Handasah, continua a sugar as riquezas em Angola com o seu “modus operandis” de subornos, pagamento de subcontratos e outras “engenharias” para a execução de obras do Estado, incluindo as do Plano Integrado de Intervenção nos Municípios (PIIM) e as que têm sido adjudicadas a empresa Omatapalo.
Esta situação pode ser uma “pedra no sapato” de João Lourenço e condicionar, de certa forma, o almejado relacionamento profícuo entre os dois países.