Início Sociedade  Devido à greve dos médicos a situação nas urgências e hospitais de Luanda é alarmante

 Devido à greve dos médicos a situação nas urgências e hospitais de Luanda é alarmante

por Redação

O número de doentes nas urgências de Luanda duplicou no primeiro dia de greve dos médicos que reivindicam melhores condições salariais e laborais. A situação, geral, nos bancos de urgência dos diversos hospitais, sobretudo em Luanda, tem sido bastante complicada ao longo dos tempos e agora, poucas horas depois do início da greve, tudo piorou de forma alarmante

São muitos os cidadãos que  aguardavam por uma consulta no Hospital dos Cajueiro, em Luanda, no dia do início da greve dos médicos,  21 de Março de 2022. Os profissionais da Saúde reclamam por melhores condições salariais e laborais. Os médicos retomaram a greve, por tempo indeterminado, três meses após a primeira paralisação.

Pacientes e familiares queixaram-se segunda-feira (21) da morosidade no atendimento e das condições de acomodação dos hospitais públicos de Luanda, onde o número de doentes nas urgências duplicou no primeiro dia de greve dos médicos “por tempo indeterminado”.

A necessidade da melhoria dos serviços ambulatórios foi apontada como uma das dificuldades de quem acorre aos serviços de urgência das unidades hospitalares da capital angolana, sobretudo quando estes registam uma procura considerável, como se constatou nos principais hospitais de Luanda.

Com os médicos em greve a partir das primeiras horas de segunda-feira, a paralisação desses profissionais também tem reflexo nos pacientes, estando apenas garantidos serviços mínimos com 25% da equipa médica disponível, assim como os cuidados intensivos.

“Cheguei aqui às 08h30 locais e até agora (perto das 12h00) não fui atendido; tenho aqui o filho internado, deram uma ficha para fazer uma radiografia e até agora estou aqui à espera, estão apenas a mandar esperar”, disse à Lusa Sebastião Salvador, pai de um menor internado no Hospital Geral dos Cajueiros, município do Cazenga.

A unidade hospitalar, localizada num dos municípios mais populosos da capital angolana, registou nesse dia uma procura superior de pacientes, sobretudo no banco de urgência, cuja resposta era dada por uma equipa em serviço.

Perto de 30 médicos compõem o corpo clínico no Hospital Geral dos Cajueiros, “insuficientes para responder à procura”, mesmo se nesta altura a unidade opera com mais de metade dos médicos.

Segundo a médica estomatologista Ruth Cruz, a enchente na unidade hospitalar não é normal, mas, observou, há muitas doenças e os médicos estão “aqui para responder a essa demanda”.

“Diariamente podemos atender entre 50 e 70 pacientes cada médico, no serviço ambulatório, e durante as 24 horas podemos atingir os 350 pacientes/dia e essa enchente também é reflexo da greve dos médicos”, afirmou a médica angolana, em declarações à Lusa.

A falta de espaço para a acomodação de pacientes e respectivos familiares no banco de urgência foi uma das reclamações da paciente Madalena Pereira, que após fazer uma radiografia disse não encontrar um local cómodo para o repouso.

A greve dos profissionais da saúde, em Luanda, é também sentida no Hospital Américo Boavida, unidade do nível terciário, como assegurou o coordenador do núcleo sindical daquele hospital público, Mateus Valentim.

“A greve é, sim, um facto, o pessoal está motivado, estamos hoje (segunda-feira) no primeiro dia e estamos exactamente a tratar de questões administrativas e operacionais da greve, embora o objectivo seja agravar a medida da greve, mas estão garantidos os serviços mínimos”, salientou.

O especialista em medicina interna lamentou igualmente as condições de acomodação dos pacientes, sobretudo dos serviços ambulatórios, “muitos sentados no chão e em bancos de betão”, enquanto aguardavam pelo atendimento.

“De facto, a urgência é grande e vemos que também faltou alguma informação, porque muitos utentes acorreram à nossa unidade sem conhecimento da greve e, então, começaram a manifestar o seu desagrado quando se depararam com a greve”, apontou.

O cenário de indignação, enchente e morosidade no atendimento no Hospital Américo Boavida, como consequência da greve, foi descrito igualmente por Lutango Bernardo Kilola, que disse que o seu irmão está há mais de 24 horas sem ser atendido.

“Estou aqui desde as 12h00 de ontem (domingo), o meu irmão partiu o dedo e até agora não foi atendido, e acho que isso acontece devido à greve dos médicos (…) é por falta de pagamento, é meio estranho eles terem problemas de salários”, afirmou.

“Há muitos pacientes, inclusive nos corredores do hospital, está muito cheio, o Governo tem de zelar por isso, porque é mesmo muito complicado. A enchente começa na urgência e há pessoas graves que até podem perder a vida numa brincadeira”, lamentou.

Os motivos da greve estão afixados de forma explícita em algumas unidades de saúde. “Pela melhoria do sistema de saúde, pela melhoria da assistência primária, pela melhoria salarial, pela humanização, pela transparência, fazemos greve”, lê-se num cartaz afixado no portão principal da Maternidade Ngangula, distrito urbano da Ingombota.

O cartaz assinala ainda: “Médico angolano, trabalho com amor, não por amor, contas não se pagam com amor“, aludindo à necessidade de melhor remuneração dos profissionais do sector, que na maternidade Ngangula asseguram os serviços mínimos.

Situações idênticas estão a verificar-se em outras unidades como O Josina Machel, hospital Pediátrico, maternidade Lucrécia Paim, no hospital geral e nos hospitais municipais como o do Capalanga, em Viana. (Com agências)

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