Início Sociedade As comunidades das zonas onde se explora recursos naturais devem estar envolvidas nos projectos

As comunidades das zonas onde se explora recursos naturais devem estar envolvidas nos projectos

por Redação

Associação Mãos Livres e o Movimento Tchota, realizam sexta-feira (17), em Luanda, uma mesa redonda sobre o impacto ambiental da exploração de recursos naturais em Angola

Domingos Kinguari

De acordo com informação  prestada ao Jornal 24 Horas online pelo presidente da Associação Mãos Livres, Guilherme Neves, o objectivo desta mesa redonda é debater o impacto ambiental da exploração dos recursos naturais em Angola, «e recolher contribuições sobre o papel que as instituições do Estado e da sociedade civil podem ter na resolução dos problemas identificados. A mesa redonda terá a duração de um dia para se discutir o impacto ambiental na exploração de recursos naturais em Angola», disse.

O responsável referiu que «o primeiro painel vai falar sobre os desafios para mitigar o impacto da exploração dos recursos naturais no contexto actual, e o segundo vai abordar o impacto ambiental da exploração dos recursos naturais e a resposta da sociedade civil».

A Associação Mãos Livres e o Movimento Tchota, entregaram no ano passado ao Executivo, dirigido pelo Presidente da República, João Lourenço, uma proposta de regulamento de alteração do actual Código Mineiro, Lei n.º 31/11 de 23 de Setembro, que já foi analisado em Conselho de Ministros.

As organizações pretendem que na nova Lei sobre o Código Mineiro conste os direitos das comunidades, devendo o órgão de tutela e titular do direito mineiro, em coordenação com os órgãos locais, envolverem a participação das comunidades nos processos de estudo, consulta e exploração das áreas em que é desenvolvida a actividade de mineração.

Sobre o desalojamento das comunidades que tem acontecido com muita frequência e sem qualquer alojamento, «havendo necessidade de deslocação das populações, deve o titular da concessão realojar as populações afectadas nos termos do artigo 17º da Lei que aprova o Código Mineiro. As comunidades afectadas nos projectos de exploração mineira devem ser realojadas de forma segura, digna e com todas as condições de habitabilidade, convivência e serviços básicos», refere a proposta daquelas organizações da sociedade civil.

Em relação à força de trabalho local, a mesma norma considera que «as comunidades locais das áreas de implementação de projectos mineiros gozam de prioridade de empregabilidade, devendo os titulares do direito mineiro assegurar emprego e a formação técnica dos recursos humanos locais até setenta por cento do pessoal trabalhador do projecto mineiro», disse.

Esclarece que «compete aos órgãos centrais e locais em coordenação com as populações locais monitorar o cumprimento do estabelecido no mesmo artigo. Nos casos de empregabilidade nas áreas de implementação de projectos de exploração mineira os planos devem ser feitos mediante a proporcionalidade ou gradualismo a curto, médio e longo prazo, dos quadros ou pessoal a integrar nas comunidades em redor», enfatiza.

A responsabilidade civil, «a aplicação das penas previstas no presente regulamento será feita sem prejuízo da responsabilidade civil por perdas e danos resultantes de qualquer infracção definida no presente regulamento», diz a norma.      

Executivo protege empresas que violam a lei ambiental

Este jornal conversou com o jurista Domingos Manuel para nos falar sobre o impacto ambiental que as zonas mineiras apresentam. O mesmo considera que, «em Angola, os minerais, especialmente os hidrocarbonetos fosseis, desempenham um importantíssimo papel na economia. Se considerarmos que a maior parte das receitas do Orçamento Geral do Estado é proveniente da produção do petróleo».

Para o interlocutor, «os minerais não são só importantes para o desenvolvimento económico do nosso país, mas também de toda a humanidade e são classificados consoante a idade da pedra, do bronze e do ferro. Os minerais contribuem também para o aumento de postos de emprego e são fontes de aquisição de divisas de que o país carece para a compra de bens e serviços no estrangeiro», disse.

«A actividade mineira produz inevitavelmente impactos ambientais em todas as suas fases, desde o reconhecimento, prospecção, pesquisa, avaliação, implantação da mina, exploração, beneficiação e o encerramento da mina. Essas operações implicam o desmatamento, a capinação, a abertura de poços e sanjas, aberturas de vias de acesso, sondagens, lavra, deposição de estéreis e ou rejeitados, beneficiamento e recuperação da área explorada», refere.

Em sua opinião, «a responsabilidade por danos ambientais tem sido tradicionalmente classificada em civil, administrativa e criminal, embora que no nosso país o Poder Executivo protege as empresas infractoras; caso isso não acontecesse, o impacto ambiental nos mares de Cabinda e do Soyo deveria ser visto de uma outra forma. As populações saem prejudicadas devido à negligencia dos políticos», acusa.          

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