A sociedade angolana já vive praticamente um ambiente de campanha eleitoral e, por isso mesmo, diversos actores políticos e não só, já questionam a situação que se foi preterindo, sobre os membros das elites no poder, políticos, generais, procuradores, juízes entre outros, acusados de serem os que mais roubam do erário público e depositam nos (seus) bancos angolanos, quando não escondem o produto dos roubos em caves, contentores, quintas, entre outros
Santos Pereira
Aproximam-se as eleições gerais e, por todo país, o ambiente já “fervilha” de expectativa, ansiedade por mudanças, entre as mais diversas especulações quanto à prestação dos partidos políticos e dos políticos em geral.
O Executivo vai-se esmerando para fazer crer ao eleitorado que merece o benefício da dúvida e deve ser reconduzido. Porém, entre o que se fez e o que se deixou de fazer, considerando as promessas feitas no pleito eleitoral passado, permanece um senão que nunca foi condignamente esclarecido, que é criação de bancos, grande parte deles, senão mesmo todos, constituidos para absorver e dar destino incerto à maior parte das riquezas de Angola que enriquece muita gente além-fronteiras, deixando o povo angolano na miséria.
Ao longo dos tempos tem-se reiteradamente apontado que os bancos angolanos (grande parte deles) são instituições duvidosas e sem o mínimo arcabouço para que sejam bancos na plenitude da palavra. Tais estabelecimentos foram criados mais ou menos há cerca de década e meia, com o objectivo principal de branquear capitais ilicitamente obtidos pelos seus criadores.
O povo angolano, já de si sofredor por séculos, numa altura em que devia sorrir e trabalhar com vontade e felicidade pelo desenvolvimento do seu país e pelo bem-estar geral continua a sofrer, talvez de forma mais atroz do que em tempos passados. Sofrimento esse imposto por angolanos insensíveis, apátridas e carcamanos.
Por ocasião do acordo entre o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Governo angolano, uma das exigências daquela instituição internacional foi a redução dos bancos em Angola, porque, no seu entender, os mesmos apenas são prejudiciais à economia e finanças do país, considerando que os donos, sócios e accionistas de tais instituições bancárias, geralmente são altos governantes e altas patentes nacionais, que os criaram com fins óbvios.
Apesar de a maior parte deles terem os seus nomes em listas como criminosos, que deviam estar sob a alçada dos órgãos de Justiça do país, o que se tem assistido não é abonatório para os referidos órgãos, nem para o propalado combate à corrupção.
A Procuradoria- Geral da República (PGR) e órgãos afins da Justiça não deviam estar com “meias – medidas” apertando os prevaricadores, mafiosos e comparsas, escudados nas elites do poder, para acabar com toda essa chalaça de pseudo-bancos que só servem para desgraçar a nação.
No âmbito do combate à corrupção em Angola e para se perceber melhor determinadas “engenharias” propositadamente criadas para desviar as atenções do foco principal do assunto e baralhar posições, um ex-quadro sênior do Banco Nacional de Angola (BNA), denunciou a algum tempo através ao jornal ‘Confidence News’, que grande parte da carteira de depósitos dos bancos comerciais do país, resulta de actividades ilícitas, sobretudo da corrupção no sector público.
De acordo com a fonte citada, os que mais dinheiro têm em bancos angolanos são políticos, altas patentes das Forças Armadas, da Polícia Nacional e serviços de inteligência, juízes, procuradores, quadros superiores da administração central, ex-gestores de empresas públicas e seus familiares, pela facilidade com que obtêm os dinheiros, ou seja, produto de roubo.
“Infelizmente, em Angola, um político, familiar ou ‘testa-de-ferro’, tem mais dinheiro aplicado num banco, que um empresário”, lamentou o ex-funcionário do Banco Nacional de Angola.
A fonte avançou ainda que entre 2002 e 2016, os bancos angolanos não questionavam a origem de fundos dos seus clientes, até porque muitos deles “eram encaminhados aos gestores, ‘através de um membro do conselho de administração’ da instituição”.
“O BNA sempre fechou os olhos, porque também ‘funcionou como um centro de corrupção’ e nunca exerceu o seu real papel de regulador e supervisor do sector bancário”, salientou.
Tais montantes em dinheiro foram postos a circular em grandes bancos como BAI, BFA, BIC, BPC, BESA, BNI, Banco Sol, etc, mas também em pequenos bancos que surgiram posteriormente.
O profissional bancário disse na ocasião que, “caso se queira combater verdadeiramente a corrupção e localizar os fundos desviados”, devia ser criada uma comissão integrada pela Procuradoria-Geral da República (PGR), Unidade de Informação Financeira, Banco Nacional de Angola (BNA), Inspecção Geral da Administração do Estado (IGAE), “para promover uma auditoria dos maiores aforradores e a origem dos fundos que entraram nos bancos comerciais nos últimos 15 anos”.
Ainda de acordo com a fonte, esta medida deveria abranger transferências ou depósitos acima de dez milhões (10.000.000) de Kwanzas ou o equivalente em moeda estrangeira, ao câmbio de então.
Assim, quanto a este assunto, o ambiente continua turvo e não se vislumbra o horizonte em que se fará clareza sobre a questão, que é melindrosa quanto baste!