A companhia aérea angolana TAAG recebeu nos últimos três anos mais de mil milhões de dólares sem explicar como foram gastos, disse o economista Carlos Rosado de Carvalho
Face à uma situação que alguns especialistas consideram que devia levar à declaração de falência, a empresa começou entretanto a despedir trabalhadores como, aparentemente, parte de um programa de reformas que, segundo Rosado de Carvalho, ninguém conhece.
“Nos últimos 5 anos a TAAG teve um prejuízo de quase mil milhões de dólares, entre 2019 e 2020 o estado colocou na TAAG cerca de 950 milhões de dólares, ainda agora em 2022, o Porto de Luanda injectou 75 milhões de dólares na TAAG, mas ninguém sabe o que foi feito destes valores, o que se passa em concreto dentro da TAAG?”, questiona Carlos Rosado de Carvalho. “Sabe-se que está em reestruturação mas ninguém conhece este plano de reformas”, acrescentou.
Até ao momento já foram despedidos 50 trabalhadores de acordo cm a comissão sindical da TAAG. A direcção da empresa diz que os despedimentos podem ser temporários, mas o sindicato não acredita.
O líder da comissão sindical dos trabalhadores da Companhia, Sebastião Fernandes, considerou ser “um número grande de despedimentos já feitos, 50 trabalhadores postos na rua é um número considerável e com impacto negativo”.
“A direcção da companhia diz que estas pessoas poderão voltar caso a TAAG conheça melhores dias de robustez financeira e de trabalho, mas eu, enquanto advogado e sindicalista não acredito, sei que é um discurso para fora, para amenizar as coisas porque no bom rigor estas pessoas já não regressam, mesmo aqueles colegas dispensados temporariamente em bom rigor já não regressam à empresa”, disse.
Para o consultor em Finanças Públicas Eduardo Nkossi, a “ TAAG devia declarar falência técnica e abrir uma nova companhia”. “Tanto a TAAG como as demais empresas públicas angolanas funcionam como o sistema de governação do país, muitos vícios de desvios e roubalheira”, acrescentou.
PCE acusado de desviar um milhão e meio de dólares
Recorde-se que, segundo uma denúncia de trabalhadores da TAAG tornada pública através de uma carta, o administrador Executivo e presidente da Comissão Executiva (PCE), Eduardo Fairen Soria, “que é cunhado de Ricardo de Abreu (ministro dos Transportes)”, teria desviado cerca de um milhão e meio de dólares da empresa logo depois de ser nomeado.
A carta redigida pelos referidos trabalhadores da TAAG, endereçada ao Presidente da República, na sequência da nomeação dos membros do novo Conselho de Administração, denunciava que o novo presidente da Comissão Executiva, Eduardo Fairen Soria, é marido de uma prima do ministro dos Transportes, Ricardo de Abreu, e consta dos registos da empresa que retirou dos seus cofres, “sem despesa que justifique, mais de 1 milhão e meio de dólares” por gastos com “falsos trabalhos de consultoria que nunca fez através da empresa Blackbird”.
Quando se anunciou que havia necessidade de se concretizar o Plano de Reestruturação da TAAG- EP, visando incentivar a política empresarial com o propósito de se efectivar os seus objectivos estratégicos, todo corpo directivo anterior da empresa teve que cessar funções.
Alegou-se, na altura, que “os accionistas da TAAG, que passou a ser SA (Sociedade Anónima), elegeram um novo Conselho de Administração para assumir a gestão diária, confirmando o início de um novo ciclo no modelo de governança empresarial, que transformou a Empresa Pública (EP) em Sociedade Anónima (SA)”.
Foi então nomeado o cidadão espanhol Eduardo Fairen Soria como administrador Executivo e presidente da Comissão Executiva (PCE), facto que causou espanto em diversos meios da sociedade. Neste âmbito, foram indicados Ana Francisca da Silva Major, para presidente do Conselho de Administração – Não Executiva; Rui Paulo Pinto de Andrade Teles Carreira, administrador Não Executivo, integrando ainda a Comissão Executiva da TAAG, Custódia Gabriela Pereira Bastos; Lisa Mota Pinto; Steve Taverney Azevedo e Adelaide Isabel de Sousa Godinho, todos administradores executivos.
A nomeação do novo PCE, face às mudanças efectuadas na TAAG, causou apreensão em meios sociais e públicos, considerando que o mesmo foi apontado como sendo cunhado do ministro dos Transportes, Ricardo de Abreu, cuja gestão, enquanto governante, tem sido reiteradas vezes apontada como danosa ao erário público e eivada de muitos “truques” para enganar o Chefe de Estado, pelo que levantou suspeições de envolvimento do ministro e suposta protecção ao cunhado, diante da acusação de que o indivíduo recém-nomeado já se apoderara de cerca de um milhão e meio de dólares da empresa. (Com agências)