José Eduardo dos Santos terá distribuído a sua herança pelos filhos, ainda em vida. Tchizé dos Santos quer que os oito filhos façam um teste de ADN. Quem são, afinal, estes oito?
Oficialmente, José Eduardo dos Santos tinha oito filhos. Há quem sustente que o antigo Presidente de Angola tem dez ou mais filhos, mas os que sempre apareceram em ocasiões públicas como tal, em festas familiares e outras, foram Isabel, Welwitschea (Tchizé), Filomeno (Zénu) José Eduardo (Coréon Du), José Avelino (Joess), Danilo, Joseana e Eduardo Breno.
Aliás, a última intervenção de Tchizé dos Santos, a filha que mais polémica tem causado depois da morte de José Eduardo dos Santos, aponta exactamente para esse número. “Vou requerer teste de ADN a nós, os oito filhos, só para ver se todos somos mesmo dignos de assinar ‘dos Santos’ e se todas as mães foram sérias”, disse Tchizé.
José Eduardo dos Santos terá distribuído a sua herança pelos filhos, ainda em vida, mas agora Tchizé dos Santos garante que “se alguém não foi sério e se o filho não for de José Eduardo dos Santos terá que perder todas as benesses”. “Querem brincar? Então vamos”, acrescentou.
Ao que consta, o antigo chefe de Estado era “pragmático” e “terá dado a cada um dos filhos aquilo que achava que cada um devia ter”, chamando “cada um a seu tempo”.
O ex-Presidente angolano, José Eduardo dos Santos, não deixou testamento, dificultando a tarefa da justiça espanhola na batalha legal que envolve Governo e a família, disse à Lusa fonte próxima do processo.
“Não existe testamento, isso foi já confirmado pelos familiares e pelo chefe da escolta com que confidenciou durante os últimos 33 anos”, realçou a fonte.
Segundo a mesma fonte, “cada um dos filhos sabe perfeitamente o que ele deixou”, acrescentou, admitindo que “ainda muita água vai correr debaixo da ponte”, já que o antigo chefe de Estado não deixou por escrito a sua última vontade.
Entretanto, o Governo angolano deu indicações aos advogados que o representa em Barcelona para averiguar se José Eduardo dos Santos poderia encontrar-se em situação ilegal, como foi noticiado pelo Club K, tendo afastado essa possibilidade.
“Se fosse um imigrante ilegal, o assunto já estaria resolvido”, disse a fonte, indicando que José Eduardo dos Santos era tratado pelos mesmos médicos em Barcelona há vários anos e gozava do mesmo estatuto de quando era Presidente, que lhe permitia permanecer o tempo necessário em Espanha para tratamento médico na clínica Teknon, onde morreu no dia 8 de Julho, com 79 anos.
“Ele não era residente em Espanha, e sim em Angola. Tinha uma equipa de apoio, com cerca de 15 pessoas, afectas ao seu serviço e à sua escolta e esta sim, era rendida a cada 30 dias. Os únicos que tinham visto de longa duração eram o Presidente, o seu médico pessoal e o chefe da escolta, mas José Eduardo dos Santos não tinha necessidade de sair de Espanha, até porque estava muitas vezes internado”, detalhou.
A questão foi levantada pelo site Club K, segundo o qual o juiz espanhol que julga a causa “descobriu” que o ex-Presidente estaria ilegal em Espanha pois tendo entrado com passaporte diplomático ( que não requer visto de entrada), excedeu o tempo que lhe era permitido e não solicitou o visto para permanência no país.
Segundo a filha Tchizé dos Santos, as pessoas com passaporte diplomático podem entrar livremente nos países, mas não podem permanecer mais de 90 dias, e “se o fizerem terão de tratar um cartão de residente”, que José Eduardo dos Santos não possuía.
“A embaixada, o Governo de Angola, não trataram de nada e nem precisavam de fazê-lo. Bastava dar um estatuto diplomático ao eng. Jose Eduardo dos Santos e registá-lo com esse estatuto junto do Ministério das Relações Exteriores espanhol para ele constar da lista do corpo diplomático. Assim, hoje em dia poderiam ser eles a mandar por que a casa do eng. Eduardo dos Santos seria território de Angola, seria uma casa diplomática, o que nunca ocorreu”, disse, numa mensagem de voz enviada à Lusa.
Esta poderá ser uma semana decisiva para o tribunal espanhol, que pediu exames toxicológicos complementares à autópsia, adiando a decisão judicial sobre a guarda e eventual trasladação do corpo do ex-Presidente para Angola.
O tribunal deverá também convocar as autoridades policiais e migratórias espanholas, para apurar a legalidade da permanência de Eduardo dos Santos no país ibérico e onde era de facto a sua residência.
Duas facções da família dos Santos disputam, na Vara de Família do Tribunal Civil da Catalunha, quem ficará com a guarda do corpo de José Eduardo dos Santos.
De um lado, está Tchizé dos Santos e os irmãos mais velhos, que se opõem à entrega dos restos mortais à ex-primeira dama e são contra a realização de um funeral de Estado antes das eleições para evitar aproveitamentos políticos.
Do outro, está a viúva Ana Paula dos Santos e os seus três filhos em comum com José Eduardo dos Santos, que reivindicam também o corpo e querem que este seja enterrado em Angola nos próximos tempos.
Esta pretensão é apoiada pelo Governo angolano que anunciou a intenção de fazer um funeral de Estado, mas teve de se contentar com sete dias de luto nacional e um velório sem corpo, enquanto a disputa prossegue nas instâncias judiciais, a poucas horas do início da campanha para as eleições gerais, tornando-se num facto político que está a marcar a corrida eleitoral.
Em entrevista no passado domingo a meios de comunicação social angolanos, o ministro de Estado e chefe da Casa Militar do Presidente da República, general Francisco Furtado, que lidera a delegação que representa o Estado angolano, mostrou-se confiante num desfecho favorável, salientando que os cidadãos angolanos e a comunidade internacional querem ver “o problema resolvido”.
“Toda a Nação angolana quer a presença do seu antigo líder no país para lhe render a merecida homenagem”, disse Francisco Furtado, sublinhando que se as autoridades espanholas tiverem em conta as razões que levaram o ex-Presidente a Barcelona “não haverá outro desfecho que não seja o regresso do corpo para Luanda”. (Com agências)