Angola é o único país africano de língua oficial portuguesa referenciado num relatório do Fórum Africano de Políticas da Criança sobre a prática de ataques relacionados com rituais contra crianças
Angola é o único país africano de língua oficial portuguesa referenciado num relatório divulgado quarta-feira (01) pelo Fórum Africano de Políticas da Criança (ACPF, na sigla em inglês) sobre a prática de ataques relacionados com rituais contra crianças.
No documento, “Revelando a Nossa Vergonha Oculta – Abordando Acusações de Feitiçaria e Ataques Rituais”, apresentado terça-feira numa videoconferência a partir de Addis Abeba, “acredita-se que centenas de milhares de crianças em África sejam acusadas todos os anos do que é amplamente considerado em toda a África como um crime particularmente hediondo: bruxaria”.
A directora-executiva do ACPF, Joan Nyanyuki, defende que “em todo o continente africano, muito foi feito para melhorar as leis e políticas destinadas a acabar com a violência contra as crianças”.
No documento são referenciados 19 países como cenário de casos de prática de crimes de infanticídio rural, ataques contra crianças com deficiência, ataques contra crianças com albinismo e casos de violência contra crianças acusadas de bruxaria.
Os exemplos dados pelo documento apontam para casos relatados de infanticídio ritual no Benim, Burkina Faso, Etiópia, Gana, Madagáscar e Níger, enquanto Angola, Benim, Burkina Faso, Essuatíni, Etiópia, Gana, Libéria, Madagáscar, Ruanda e Zimbabué relataram ataques rituais contra crianças com deficiência.
O Burundi, República Democrática do Congo, Madagáscar, Malaui, Mali e Tanzânia relataram ataques a crianças com albinismo e na África do Sul, República Centro-Africana, República Democrática do Congo, Etiópia, Libéria, Nigéria e Tanzânia são referidos casos de violência contra crianças acusadas de serem bruxas.
“Para proteger as crianças do dano das acusações de feitiçaria, não é necessário negar que a ‘feitiçaria’ existe. Em vez disso, é importante priorizar a protecção infantil, ao mesmo tempo que se previne o abuso de crianças, abordando a crença de que tal abuso pode de alguma forma proteger as comunidades do perigo percebido”, defende-se no documento.
A investigação de que resultou o relatório permitiu descobrir que à excepção do trabalho realizado por algumas organizações não governamentais, “poucas organizações e Estados em África desenvolvem esforços sistemáticos para prevenir esse abuso”.
Joan Nyanyuki defende “ser necessário um esforço abrangente e coordenado por actores estatais e não estatais para descobrir a natureza, magnitude e impacto da violência relacionada com acusações de feitiçaria e ataques rituais. Essa abordagem garantirá que os sistemas, leis e políticas de protecção infantil sejam aprimorados para lidar adequadamente com essas formas de violência contra crianças”. (In Observador)