Pela primeira vez em Angola, uma cirurgia cardíaca pediátrica de alta complexidade foi realizada com sucesso por uma equipa composta exclusivamente por profissionais do sexo feminino. A intervenção teve lugar na segunda-feira, 4 de Agosto, no bloco operatório do Complexo Hospitalar Cardeal Dom Alexandre Nascimento, e envolveu uma criança de 13 anos, diagnosticada com insuficiência valvular reumática grave.
A operação foi conduzida pela cirurgiã cardiovascular Dr.ª Joseneidy Ariana Fernandes Carvalho, de 33 anos, a primeira mulher angolana formada em cirurgia cardíaca pediátrica, com especialização concluída em Cuba. A equipa multidisciplinar incluiu anestesistas, perfusionista, instrumentista, circulante e assistente cirúrgica, todas mulheres.
“Tive a honra de liderar uma equipa composta inteiramente por mulheres, o que só percebi a meio do procedimento. Estávamos tão concentradas na paciente que o detalhe passou despercebido. Só mais tarde nos demos conta do simbolismo daquele momento: éramos oito mulheres, unidas por uma missão comum, salvar uma vida”, explicou a Dr.ª Joseneidy.
A cirurgia durou cerca de quatro horas, tendo sido substituída a válvula do coração por uma prótese biológica. A paciente, também do sexo feminino, apresenta uma evolução clínica favorável, tendo sido transferida da Unidade de Cuidados Intensivos para a enfermaria 36 horas após o procedimento.
“As crianças têm uma recuperação surpreendente. Já caminha pela enfermaria, interage com a equipa… Às vezes temos de lembrá-las que foram operadas!”, acrescentou a cirurgiã.
Apesar de não ter sido uma operação planejada com enfoque de género, o facto de ter sido realizada exclusivamente por mulheres ganha destaque como um marco simbólico para o sector da saúde em Angola, tradicionalmente dominado por figuras masculinas nas especialidades cirúrgicas.
“Ser cirurgiã ainda é visto como algo raro para uma mulher, mas não devia ser. Podemos ser delicadas e, ao mesmo tempo, firmes e competentes. Espero que este momento inspire outras jovens médicas a entrarem para áreas cirúrgicas. Precisamos de mais mulheres nesta especialidade”, afirmou Joseneidy .
A médica revelou ainda que o Complexo Hospitalar de Doenças Cardio-Pulmonares Cardial Dom Alexandre do Nascimento tem recebido pacientes de diversas províncias do país, tanto com doenças cardíacas congénitas como adquiridas, e reforçou a importância de fortalecer as equipas e condições para cirurgias cardíacas pediátricas regulares em Angola.
“Agradeço profundamente ao Ministério da Saúde e ao Complexo Hospitalar por me permitirem exercer com dignidade a profissão que escolhi. Temos muito caminho pela frente. Este feito não é apenas clínico, é também cultural. Mulheres podem, e devem, liderar, inclusive em salas de cirurgias, concluiu a médica.
O Ministério da Saúde congratula a equipa médica pela competência técnica, humanismo e dedicação demonstrada neste acto, e reafirma o seu compromisso com o reforço das capacidades nacionais para prestação de cuidados especializados e inclusivos.
Gabinete de Tecnologias de Informação e Comunicação Institucional Ministério da Saúde.
