Da representação dos fiéis da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD), que não se reveem na dita “comissão de reforma”, foi enviada à nossa Redacção uma nota de repúdio, endereçada à TV Zimbo, que se publica na íntegra:
Foi com muita tristeza, senso de injustiça e imenso pesar que nós, os mais de 500 mil fiéis, que não se reveem na ala dos dissidentes (erroneamente chamada de “ala Angolana”), da Igreja Universal do Reino de Deus, instituição presente no território nacional desde 1991 e autorizada a exercer o trabalho evangelístico desde o ano de 1992, tendo no seu seio todos os extractos sociais da sociedade angolana representados, tomamos conhecimento da série de ofensas proferidas pelo Dr. David Mendes no programa da TV Zimbo.
Assim sendo apresentamos a presente nota de repúdio:
Ao usar do espaço de tempo a que tem direito na emissora TV Zimbo, o Sr. Deputado achou-se no direito de ofender, julgar e condenar os mais de 500 mil fiéis da Igreja Universal do Reino de Deus, como se de um juiz se tratasse, ao invés de agir como um simples defensor de uma causa que só recentemente teve o seu julgamento iniciado, usando uma série de expressões ofensivas, sendo a mais sonante a que se referia à Igreja Universal do Reino de Deus como “centro de criminosos” (sic)!!!
Não é de hoje que o sr. Deputado/advogado se tem dirigido de maneira errónea e ofensiva contra os membros da Igreja Universal do Reino de Deus, numa clara incitação ao ódio e à intolerância; todavia, assim como ensina o nosso Senhor Jesus, temos dado a outra face.
Contudo, as palavras proferidas pelo Sr. David Mendes ultrapassaram os limites do tolerável e do razoável, uma vez que ofende de forma gravíssima a honra dos mais de 500 mil fiéis da IURD representados pelos mais diversos extractos sociais visto que, para a ciência do Sr. Deputado/advogado, há no nosso seio, profissionais, mães, pais, jovens, crianças, empregados, desempregados, professores, médicos, militares, polícias, empresários, profissionais liberais, jovens, estudantes, operários, camponeses, quitandeiras, vendedores ambulantes, militantes de vários partidos, cidadãos nacionais e estrangeiros, que foram totalmente como produto de um centro de criminosos e, subjectivamente, conotados como criminosos!
Somos, acima de tudo cidadãos, contribuintes, eleitores e com direitos consagrados na Lei!
A Declaração Universal dos Direitos do Homem, define o respeito universal e observância dos direitos humanos e liberdades fundamentais para todos, sem distinção de raça, sexo, língua ou religião.
Se o facto de sermos membros de uma denominação nos torna criminosos, o que dizer daquelas denominações que usam da violência para impor a sua religião?
Mais do que uma ofensa grave e caluniosa, totalmente desprovida de senso, pudor, ética e deontologia, o Sr. David Mendes nunca se referiu de tal forma a nenhuma outra instituição do país (pública ou privada), mesmo havendo uma série de evidências noticiosas, de casos recentes que veem à público no nosso país.
Então, qual é a razão de tanto ódio e intolerância por parte de um advogado e deputado?
Não é de hoje que certa imprensa dedica tal tratamento pejorativo à Igreja Universal do Reino de Deus, numa clara demostração de desconhecimento, visto que a Igreja é formada por pessoas que compõem a sociedade angolana, e não as paredes que edificam os templos.
O Cristianismo é professado por mais de 2,3 bilhões de pessoas na face da Terra e as suas origens remontam de 2 mil anos antes de Cristo, sendo uma das religiões com mais ramificações no mundo.
A Igreja Universal do Reino de Deus é uma denominação Cristã, Evangélica, protestante e está presente em mais de 130 países no mundo com o único objectivo de ganhar almas e não ser denominada de centro de criminosos como aludiu o Sr. Deputado/advogado.
O Sr. David Mendes, na qualidade de advogado, e mais ainda, na de representante do povo, deve saber que esse tipo de linguajar ofende pessoas e acaba sendo, em última análise um claro desrespeito às categorias que ele representa como deputado e advogado, porque se esse mesmo critério fosse usado para toda a vez que um deputado ou advogado errasse, teríamos o direito de generalizar, assim como o sr. Deputado fez questão de o fazer ao se referir à Igreja Universal.
Mas não é o caso aqui, visto que o processo ainda está em tribunal, O Sr. Deputado deve ter em consideração que o tempo da beligerância no nosso país e do uso da força bélica para impor à força a vontade de alguém já se findou há mais de 20 anos e há mais de 30 anos celebramos a ampliação da democracia e do multipartidarismo, direitos esses que são conquistas de todos os angolanos e que integram a liberdade de consciência, culto, religião e da livre escolha.
Foi graças à esse mecanismo que o sr. Deputado ocupa hoje uma cadeira no parlamento e mais ainda, por um partido da oposição, coisa que era impensável até antes de 1991 e a Igreja Universal do Reino de Deus foi reconhecida pelo Estado Angolano a exercer a sua missão evangelística em todo o território Nacional.
Tudo isso para dizer que a maior característica das sociedades modernas é que elas evoluem e, portanto, são dinâmicas, não havendo espaço para intolerância.
Martin Luther King Jr. disse em certa ocasião: “A injustiça num lugar qualquer é uma ameaça à justiça em todo o lugar”
Caso o sr. Deputado não tenha percebido, nós somos a maioria que está a ser injustiçada e oprimida. Tal injustiça fez com que os nossos templos fossem lacrados e considerados cena de crime, numa clara ofensa à nós, e não havendo paralelo em parte alguma do mundo, uma instituição a ser encerrada em função do julgamento de alguns clérigos e um total atropelo aos mais diversos artigos da nossa constituição, com especial destaque ao Artigo 41º que trata da Liberdade de Consciência, de Religião e Culto.
Somos nós, os mais de 500 mil fiéis os que fomos expulsos dos nossos locais de culto e estamos ao relento há quase dois anos.
Somos nós os que estamos a ser reprimidos violentamente apenas por levantar as mãos para orar ao nosso Deus.
Somos nós, os mais de 500 mil fieis que estamos a sofrer a mais inclemente perseguição religiosa nos 31 anos da nossa jovem democracia.
Somos nós as principais vítimas das ofensas e golpes diários desferidos por grande parte da imprensa e sem direito ao contraditório.
E agora, para piorar, o sr. Deputado/advogado vem anunciar que somos membros de um centro de criminosos!
O sr. Deputado/Advogado tem um mandato para representar o povo, convém não esquecer-se que nós somos o povo a quem o senhor jurou defender sem parcialidades.
Nesse pronunciamento, o sr. Deputado/Advogado cita o “Julgamento da Igreja Universal do Reino de Deus”. A cegueira causada pelo ódio que nutre contra a nossa Instituição e pelo desejo de ver a sua causa triunfar, ainda que injustamente, para atender à interesses escusos por parte dos seus clientes, o fazem ignorar claramente que as instituições não cometem crimes, e sim indivíduos.
Até o presente momento, o que ficou claramente comprovado pela imprensa foi a invasão dos templos (abrimos um parêntesis para esclarecer que esses templos que, embora o senhor não queira dizer, foi construído por intermédio dos dízimos, de ofertas voluntárias, suor e sacrifícios da Fogueira Santa, que é a expressão mais alta da nossa Fé, doa à quem doer) e a violência usada pelos seus clientes, isso sem deixar de mencionar a usurpação dos meios e bens que não pertencem a eles, e que estavam cedidos pela Igreja no esforço ingente de ganhar almas para o nosso Senhor Jesus Cristo.
Diferentemente de alguns impostos e taxas que pagamos de forma obrigatória no princípio bíblico de dar à César o que é de César, na Igreja Universal é possível ver o destino das nossas ofertas, porque estão totalmente palpáveis nos assentos para os cultos, nos templos confortáveis, no pagamento dos mais diversos compromissos e na propagação do evangelho no país e no mundo.
Ora vejamos, se o sr. Deputado é beneficiário de um direito consagrado na Constituição, nós, os mais de 500 mil fiéis da Igreja Universal do Reino de Deus, que não se reveem na auto denominada comissão de reforma, gozamos dos mesmos direitos e prerrogativas, mais ainda porque num estado democrático e de direito, a tolerância é a tónica sonante.
Sempre que um indivíduo ou grupo se ofende com a liberdade de outrem, está a ferir esses princípios.
Como é que o senhor deputado, defende o controlo das igreja pelo Estado? Fê-lo de forma deliberada ou está a arquitectar uma alteração na CRA? Porque na qualidade de deputado, o senhor David Mendes deve estar muito ciente que a Constituição estabelece claramente a separação do Estado da Igreja, também conhecido como princípio da laicidade.
E nós todos sabemos o fim que esse tipo de comportamento intransigente, racista, preconceituoso e xenófobo já causou ao nosso país.
Ao denominar a nossa igreja de “centro de criminosos”, o senhor ofendeu a honra de milhões de trabalhadores de todos os extratos sociais representados na IURD. Caso não seja do seu conhecimento, nobre deputado, sob o guarda-chuva da Igreja Universal, abrigam-se todas as raças, nacionalidades, etnias, géneros, línguas e culturas em total e plena convivência sadia, sendo que os que não se reveem nessa forma multirracial de cultuar à um Deus que não vê cores e nem raças, acabam por sair da Igreja, como é caso dos seus clientes.
Nós, os mais de 500 mil fiéis que não se curvaram à rebelião, repudiamos de forma veemente as suas palavras porque são evidências de um comportamento que não se coaduna com o estado democrático que pretendemos construir.
O facto de ser advogado dos dissidentes e um defensor do patriotismo não lhe confere o direito de obrigar a sociedade a demonizar aos que não se reviram no posicionamento destes dissidentes, até porque defender o patriotismo não é destruir a Constituição e nem muito menos forjar provas para favorecer infractores, diga-se de passagem, dos agora seus clientes, porque todos temos os mesmos direitos perante a lei e até prova em contrário, não houve acusação formal por parte do tribunal, que é, em última instância aquele que irá dirimir o conflito, visto que numa omissão deliberada ou tentativa de ludibriar a opinião pública, alguém afirmou em cadeia nacional que não existem conflitos na IURD.
Nós, os mais de 500 mil membros da IURD estamos serenos e aguardamos pelo fim do processo para que nos sejam devolvidos os nossos templos e possamos voltar a cultuar como tem sido nos 30 anos desde que a Igreja está em Angola, salvo essa interrupção que já dura dois anos e que foi motivada por indivíduos que já haviam sido destituídos como presbíteros por conta da sua conduta imoral e contrário aos estatutos da nossa igreja.
Para terminar, queremos ressaltar que esse tipo de discurso de ódio (centro de criminosos) e que beira ao fascismo de Salazar não se coaduna com a cultura de paz que tanto o país tem buscado cultivar, em que até o Titular do Poder Executivo tem sido um exemplo em atitudes como a do pedido de perdão às vítimas de conflitos armados e não só.
Sr. Deputado/advogado esse comportamento apresentado por si é de uma era de costumes repressivos e que se assemelha às práticas da polícia do regime colonial, que perseguiam adeptos de religiões negras, restringindo seus cultos e coagindo a prática de sua fé.
Não se pode, em pleno gozo da democracia e abrigados em uma Nação miscigenada e multiétnica como é a Nação Angolana, nos depararmos com expressões de ódio e intolerância religiosa ou qualquer estrutura social que estabeleça a segregação de um povo.
Por todo exposto, e em defesa do Estado Democrático de Direito, do Estado Laico e dos princípios constitucionais de dignidade e de liberdade de consciência, de religiãoconsagrados na Carta Magna do nosso país, em favor da prática da tolerância religiosa e da cultura de paz e em conformidade com seus princípios cristãos, nós, os 500 mil fiéis repudiamos veemente toda pratica que atente contra a dignidade humana.
Nós somos a Universal. O Estado é laico e, por dever, deve abrir seu púlpito para todas as vozes. Se hoje celebramos a paz entre irmãos, não seja o Sr. Deputado/advogado aquele que vai querer apagar o incêndio com gasolina, pelo que exigimos e aguardamos a sua retratação pública no meio em que proferiu as ofensas e o seu pedido de desculpas aos mais de 500 mil fiéis ofendidos na sua infeliz intervenção.