Início Sociedade FUNCIONÁRIOS DA PLATAFORMA PETROLÍFERA DA BBLT (CHEVRON) DENUNCIAM QUE TRABALHAM EM REGIME DE ESCRAVATURA EM TROCA DE SALÁRIOS DE MISÉRIA

FUNCIONÁRIOS DA PLATAFORMA PETROLÍFERA DA BBLT (CHEVRON) DENUNCIAM QUE TRABALHAM EM REGIME DE ESCRAVATURA EM TROCA DE SALÁRIOS DE MISÉRIA

por Editor

O incêndio da plataforma petrolífera no largo de Cabinda na madrugada desta terça-feira (20), além de ter causado17 feridos, dos quais 4 em estado grave e, de acordo com informação de última hora, um foi à óbito, havendo ainda um desaparecido, revelou também situações escabrosas denunciadas pelos trabalhadores, que têm sido ignoradas ao longo dos tempos por quem, em detrimento dos direitos dos angolanos, tira benefícios milionários com a situação.

Um incêndio ocorrido na madrugada desta terça-feira, 20 de Maio, no convés da cave da plataforma de águas profundas “Benguela Belize Lobito Tomboco” (BBLT), localizada no Bloco 14, offshore de Cabinda, causou dezassete feridos, dos quais quatro em estado grave, e um desaparecido.


Das 17 vítimas, quatro encontram-se em estado grave, tendo recebido cuidados no Hospital Central de Cabinda mas, devido a gravidade das queimaduras, dez foram transferido para Luanda e, segundo informação de última hora, um acabou por falecer. Entretanto, há um desaparecido. Embora a plataforma tenha funcionários expatriados, nenhum consta entre as vítimas.


Alguns trabalhadores angolanos, vítimas do sinistro, relatam terem sido surpreendidas por uma explosão e contam como tudo aconteceu: “Cerca das três horas, todos nós estávamos ocupados a trabalhar e só sentimos um estrondo, sentimos um fogo no local de serviço. Não sei como explicar de concreto, porque todos estávamos a trabalhar. Eu estava no andaime e só sei que fui projetado para o chão”.


Outro trabalhador refere que “nós estávamos numa paragem da plataforma a executar as nossas actividades. O que aconteceu é que foi surpresa para todos nós que lá estávamos. A outra equipa estava a mudar uma linha e essa linha tinha resíduos de gás, depois daí causou explosão”, descreve.


Entretanto, apurou-se que reina um clima de grande insatisfação no seio dos trabalhadores angolanos que se queixam de trabalharem num regime forçado, uma espécie de escravatura, em troca de salários de miséria, ao contrário dos trabalhadores expatriados quepouco ou nada fazem, mas beneficiam de todas regalias e auferem salários milionários, diante de um silêncio cúmplice de quem de direito.


Não é novidade, denúncias de maus tratos, de trabalho braçal escravo, más condições laborais, tanto nas plataformas petrolíferas, como nas minas de diamantes e de outros recursos naturais ricos do país, vêm constantemente à público ao longo dos tempos, mas são sucessivamente igonoradas, enquanto as riquezas angolanas são sugadas à exaustão, a troco de miséria.


Um trabalhador angolano descontente, que pediu anonimato por razões óbvias, desabafou:”Sou apenas um funcionário da Algoa, actualmente em missão na África Installer. Dormimos e trabalhamos na BBLT, uma plataforma que está a colocar a nossa saúde e dignidade em risco”.


O funcionário descreve as condições degradantes que ele e os colegas enfrentam diariamente, em troca de um salário base de apenas 209 mil Kz. “Nem chega aos 300 mil Kz, para tentar alcançar esse valor, muitos são obrigados a sacrificar duas semanas da sua folga, trabalhando até 42 dias seguidos sem descanso. As condições de higiene são alarmantes, a água do banho é amarela, suja e imprópria. A exposição constante à lama, óleo e produtos químicos está a deixar muitos doentes e com riscos graves para a saúde, a pontos de criar impotência sexual, sem assistência médica”, denuncia.


O mesmo refere que são obrigados a dormir em barcos, acordar às 3h30 da madrugada para satisfazer a pressão da Chevron, “que trata os trabalhadores como autênticos escravos”, realça.


De acordo com a sua afirmação, as empresas intermediárias (agências) recebem milhões da Chevron, mas pagam uma miserável fatia aos trabalhadores angolanos, que tudo fazem e labutam até sucumbir.


“Se nada for feito, haverá uma revolta. Estamos esgotados e, a continuar assim, o conflito será inevitável”, alertou.


O trabalhador apela às autoridades, principalmente aos deputados à Assembleia Nacional, para que zelem pelos direitos dos angolanos, com destaque para os trabalhadores das petrolíferas que tudo levam e não deixam nada, a não ser miséria, doenças e muito mais. “Queremos justiça, respeito e dignidade para o povo trabalhador de Angola”, apelou.


Manifestações de solidariedade com os trabalhadores afectados não se fizeram esperar, bem como apelos para que as autoridades apurem, de facto, o que se passou e se não houve negligência.


Em comunicado, a Chevron avançou que o incêndio ocorreu por volta das três horas da madrugada, no convés da cave da plataforma de águas profundas Benguela Belize Lobito Tomboco (BBLT) da sua subsidiária angolana Cabinda Golf Oil Company Limited (CABGOC), localizada no Bloco 14, na zona marítima de Cabinda.


Segundo a nota, o incêndio teve lugar durante uma operação de manutenção anual, realizada no âmbito de uma paragem programada. A produção da plataforma já estava suspensa desde o dia 1 de Maio de 2025, precisamente para a execução desta manutenção.


A Cabinda Golf Oil Company Limited (CABGOC), subsidiária da Chevron, garante fornecer atualizações à medida que mais informações forem disponibilizadas e que as causas do incidente estão a ser investigadas, sem avançar detalhes. (J24 Horas)

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