No rescaldo do discurso de Putin, onde anunciou a mobilização de cerca de 300 mil reservistas para a guerra, o mundo – e os russos – vai reagindo. A União Europeia vai manter a ajuda militar à Ucrânia e aumentar as sanções à Rússia, anunciou o chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell, no final de uma reunião de emergência em Nova Iorque
O alto representante da União Europeia (UE) para os Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança, Josep Borrell, pediu esta quinta-feira (22), à China que use a sua influência sobre a Rússia para acabar com a guerra na Ucrânia.
Numa reunião à margem da Assembleia Geral das Nações Unidas, Borrell transmitiu ao ministro dos Negócios Estrangeiros chinês, Wang Yi, as “expectativas europeias de que a China usará a sua influência sobre a Rússia para acabar com a guerra, que está a causar uma crise alimentar, energética e de instabilidade financeira, em todo o mundo”, de acordo com um comunicado emitido pelo gabinete de imprensa do Alto Representante.
Borrell também mencionou a situação “precária” em torno da fábrica nuclear de Zaporiya, enfatizando que um acidente nuclear pode acontecer a “qualquer momento”, e que uma maneira de evitar uma crise nuclear deve ser discutida como prioridade.
Os ministros dos Negócios Estrangeiros da União Europeia concordaram em preparar novas sanções contra a Rússia, que se materializarão o mais rápido possível, conforme anunciado por Borrell.
Este novo pacote de sanções, em resposta à decisão de Moscovo de mobilizar 300 mil reservistas, vai afectar novos sectores da economia russa, incluindo tecnologia, e incluirá novos indivíduos.
Por outro lado, e tendo em conta o aumento do fluxo de russos a querer sair do país, a Finlândia já veio dizer que vai preparar uma “solução nacional” para limitar ou mesmo impedir a passagem de turistas russos pelo seu território.
Enquanto isso, o conselho de ministros dos Negócios Estrangeiros da UE, reunido de emergência em Nova Iorque, “decidiu manter a ajuda militar à Ucrânia e aumentar as sanções económicas, sectoriais e individuais à Rússia”, disse Borrell aos jornalistas no final do encontro.
“Foi uma decisão tomada rapidamente nesta reunião de emergência do conselho de ministros dos Negócios Estrangeiros e que demonstra a determinação da União Europeia (UE) em continuar a ajudar a Ucrânia a enfrentar a agressão russa”, salientou.
Borrell remeteu para mais tarde as medidas detalhadas, referindo que só poderão ser definidas numa reunião formal, e manifestou-se certo de que será alcançado “um acordo unânime para as novas sanções”.
O alto representante da UE para os Negócios Estrangeiros adiantou apenas que há a intenção de afectar sectores tecnológicos russos e deu como certo que “vai haver uma nova lista de pessoas” abrangidas pelas sanções a adoptar.
“Compreendo que gostariam de saber quem são as pessoas, quais são os sectores, quais são os montantes, mas isso é algo que não podia ser feito hoje. Hoje foi a decisão política”, reforçou.
A UE quis com esta decisão enviar “uma mensagem política forte” horas depois do discurso de Putin, afirmou.
O ministro dos Negócios Estrangeiros ucraniano, Dmytro Kuleba, participou “na primeira parte da reunião” dos ministros da UE “para informar acerca dos últimos desenvolvimentos”, referiu Borrell.
“As referências a armas nucleares não abalam a nossa determinação, resolução e unidade em ficar ao lado da Ucrânia e o nosso apoio alargado à capacidade da Ucrânia de defender a integridade territorial e soberania, demore o que demorar. Mais ainda, a UE reafirma o compromisso de maior apoio à resiliência dos parceiros orientais e Balcãs ocidentais”, de acordo com uma declaração divulgada no final do encontro dos responsáveis da UE.
“A UE mantém-se inabalável no apoio à independência, soberania e integridade territorial da Ucrânia e exige que a Rússia retire imediata, completa e incondicionalmente todas as tropas e equipamento militar de todo o território da Ucrânia, nas fronteiras reconhecidas internacionalmente”, pode ler-se no documento.
Na quarta-feira (21), o Presidente da Rússia, Vladimir Putin, anunciou a mobilização de reservistas, referendos para a anexação de territórios ucranianos e prometeu recorrer a “todos os meios ao seu dispor”, numa alusão ao armamento nuclear, acrescentando: “isto não é bluff”.
A ofensiva militar lançada a 24 de Fevereiro do corrente ano pela Rússia na Ucrânia causou já a fuga de quase 13 milhões de pessoas — mais de seis milhões de deslocados internos e quase sete milhões para os países vizinhos -, de acordo com os mais recentes dados da ONU, que classifica esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
A invasão russa, justificada pelo Presidente russo, Vladimir Putin, com a necessidade de “desnazificar” e desmilitarizar a Ucrânia para segurança da Rússia, foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que tem respondido com envio de armamento para a Ucrânia e imposição à Rússia de sanções em todos os sectores, da banca à energia e ao desporto. (Com agências)