Casos de justiça popular são constantes em Luanda e ocorrem quase todas as semanas, sendo frequente circularem nas redes sociais imagens dos supostos bandidos a serem queimados, depois de espancados por multidões em fúria
A situação está a tomar proporções alarmantes. De um tempo a esta parte, diversos delinquentes têm sido mortos por populares quando são apanhados em flagrante delito. Cansada dos momentos de instabilidade e da crescente criminalidade de que tem sido vítima, a sociedade tem optado algumas vezes por fazer justiça por mãos próprias, facto que tem chocado alguns cidadãos que recentemente trouxeram o assunto à baila e demonstraram indignação por existir quem considere o referido acto aceitável.
A reflexão à volta do tema aconteceu nas redes sociais, e levou vários jovens a darem suas opiniões a respeito, chegando grande parte destes a considerar tais práticas como inaceitáveis numa sociedade considerada democrática e de direito.
Segundo o que tem sido noticiado, recentemente, um alegado assaltante foi queimado vivo por populares, após uma suposta tentativa de assalto, numa avenida movimentada em frente a um dos principais centros comerciais da cidade de Luanda.
O porta-voz do comando provincial de Luanda, Nestor Goubel, disse que a ocorrência deu-se por volta das 12:00, em Talatona (Luanda), após uma tentativa de assalto por parte de quatro homens que se faziam transportar em duas motorizadas e partiram em perseguição de um cidadão que saía de uma agência bancária.
Já perto do centro comercial, o homem foi abordado pelos assaltantes “que fizeram um disparo de arma de fogo”, tendo a vítima sido atingida na região do tórax.
Rapidamente, “gerou-se uma cena de pânico”, a população envolveu-se e conseguiu segurar um dos supostos envolvidos no assalto, enquanto os outros três se metiam em fuga. “O meliante foi neutralizado e a população acabou por atear fogo ao mesmo”, enquanto os outros três comparsas continuam foragidos. A vítima do assalto foi transportada de emergência para uma unidade hospitalar, não se sabendo se terá sobrevivido.
Os casos de justiça popular são constantes em Luanda e ocorrem quase todas as semanas, sendo frequente circularem nas redes sociais imagens dos supostos bandidos a serem queimados, depois de espancados por multidões em fúria.
Populares apontam os referidos acontecimentos como sendo uma “guerra” entre cidadãos comuns e os meliantes e, consequentemente, chamam a atenção das autoridades competentes a fim destas fazerem o seu trabalho como deve ser.
“É uma guerra entre os cidadãos comuns e os bandidos ou delinquentes. Os bandidos matam os cidadãos comuns e os cidadãos matam os bandidos… então, enquanto os responsáveis pela ordem e tranquilidade não fazerem bem o seu trabalho, isso vai continuar a ser um mal necessário”, afirma um internauta, enquanto outro refere que “esta posição não é uma defesa do crime ou de bandidos. Já fui assaltado várias vezes em Luanda, incluindo à mão armada, e odeio-os. É uma defesa de uma sociedade regida por leis, regras e um sistema judicial minimamente coerente. Mesmo se este sistema não exista cá”.
Houve também quem comentou a respeito da vulnerabilidade a que os cidadãos estão expostos, uma vez que a segurança pública foi posta em causa.
“A sociedade em que vivemos está cada vez mais violenta, as ruas viraram selvas e as pessoas têm se tornado selvagens também. Facto sim é que a lei proíbe a justiça por mãos próprios (artigo 1• do Código Processual Civil). Mas o que realmente existe”, mencionou.
Outro internauta mencionou sobre como as pessoas estão mais preocupadas em filmar e publicar tais episódios reprováveis, quando deveriam estender as mãos e impedir tal acção.
“Ou queremos ser um estado democrático e de direito, ou queremos fazer justiça por mãos próprias. Uma sociedade que aplaude um assassinato público em via pública está profundamente doente. Ver pessoas a filmar e fotografar um corpo a ser queimado na rua como se nada fosse”, é simplesmente hediondo.
Recorde-se o episódio deoutro jovem que tentou cometer um assalto na via pública, nos arredores do Shopping Avenida do Morro Bento, teve a sua vida ceifada por populares que optaram por fazer “justiça por mãos próprias”, queimando-o em plena via pública.
(Com agências)