Angola está a debater-se com uma gritante falta de chuva em quase toda extensão do território nacional. A situação está a causar êxodo rural na província de Benguela, onde centenas de famílias deslocam-se em direcção ao litoral da província à procura de sobrevivência. Igualmente, estão a registar-se assaltos a propriedades agrícolas, como reflexo do aumento da penúria alimentar em certas zonas do interior de Benguela.
Márcia Elizabeth*
Com efeito, desesperadas pela falta de chuvas, várias famílias deixam municípios como a Ganda e Chongoroi, os dois eleitos para a fase inicial do programa de combate à fome e pobreza denominado ‘Kwenda’, na província de Benguela.
É assim que, do interior, aos municípios da Baía Farta e Catumbela, com percursos acima dos 200 quilómetros, homens, mulheres e crianças aceitam trabalho por um salário nunca superior a oito mil Kwanzas (cerca de 10 dólares actualmente), valor proporcionado pelo referido programa Kwenda, uma situação que está a ser vista «como trabalho forçado».
«É muita fome porque não chove, estamos aqui desde Dezembro por causa da fome», disse um adolescentena comuna do Dombe Grande (Baía Farta), em declarações à Emissora Católica.
Outro município que regista fuga de cidadãos é o Cubal. Conforme o líder comunitário João Tchiteculo,«tudo o que as pessoas tinham como esperança, como o milho, secou, tudo secou», disse, acrescentando: «os quimbos, principalmente, há mesmo populares que já não têm nada para comer, muita gente já faz trabalho forçado», lamenta.
Tchiteculo refere que ‘«é um caso sério, as autoridades não dizem nada e as pessoas perguntam como será nos próximos meses».
Nada que surpreenda o produtor José Cabral Sande, que já previa um êxodo rural e disse que «daqui a mais dias menos dias veremos estas comunidades da Ganda, Cubal, Caimbambo e Chongoroi em disputa de comida nos contentores de lixo», alertou Sande.
Outro sinal de penúria alimentar, segundo o empresário Paulo Neves, são os assaltos a fazendas agrícolas.
«Quando há esta fome, infelizmente, as propriedades agrícolas viram armazéns. Este ano nem sequer consigo tirar mangas para comer em casa, porque grupos de 15 a 20 miúdos atiram pedras aos guardas, entram e roubam», conta o agricultor.
O Governo Provincial de Benguela, com armazéns desfalcados, sem programas para acudir famílias vulneráveis, já informou que está à espera de Luanda para fazer face aos focos de pobreza na região.
Parque do Bicuar invadido
Enquanto isso, a seca prologada que afecta a região sul e que se pode agravar com a ausência de chuvas nos últimos meses, causa receios à administração do Parque Nacional do Bicuar de que o espaço seja invadido por pastores de regiões vizinhas para a pastagem.
A escassez de água registada em contexto da seca leva a que, sobretudo, criadores tradicionais de gado percorram quilómetros em busca de zonas favoráveis ao pasto.
Nos últimos meses, manadas de gado bovino provenientes da província do Cunene têm invadido a reserva natural.
Em alerta por experiência recente, o administrador do Parque Nacional do Bicuar, José Candundo, olha para o objecto social da reserva natural e apela aos administradores municipais a encontrarem alternativas para o fenómeno.
«O parque não é alternativa de pasto para o gado; o parque foi criado com objecto social diferente, para a criação condições turísticas para a preservação das espécies faunísticas e florestais que ali habitam para estudos académico – científicos», disse.
«Todavia esses problemas de imigração da comunidade pastoril nunca terminaram, mas esse fenómeno abrange a região sul toda e tem muitas alternativas para se fazer transumância do gado e essas alternativas devem ser desenhadas pelas administrações municipais onde a sua comunidade esteja afectada com este fenómeno», acrescentou.
O responsável destaca que do trabalho até agora realizado já foi possível retirar da reserva natural mais de duas mil cabeças de gado e aponta alternativas para contornar a situação.
«E continuamos a fazer o mesmo serviço porque o parque não foi feito para se fazer transumância. Volto a apelar que temos que encontrar saídas, mesmo a própria província em si, da Huíla, para a zona das Tundas e Mulondo, que são mais afectadas, os pastores têm que subir a zona do rio», aconselhou.
O Parque Nacional do Bicuar, localizado na província da Huíla, é uma das promissoras reservas turísticas do Sul de Angola com uma extensão de 1.200 Km 2. *(Com agências)