Início Sociedade Resultado do inquérito da queda do helicóptero da FANA em Benguela ficou no “segredo dos deuses”

Resultado do inquérito da queda do helicóptero da FANA em Benguela ficou no “segredo dos deuses”

por Redação

Desde o dia 22 de Setembro do ano passado que a Força Aérea Nacional (FANA) anunciou que  divulgaria o que terá estado na base da queda de um dos seus helicópteros, que resultou na morte de dois ocupantes e três feridos.  Contudo, este Jornal soube que os resultados do inquérito nunca sairão à público, mas aponta-se “erro humano”do piloto como a causa do acidente

Domingos Kinguari

Segundo uma fonte ligada à FANA, que prestou a informação ao jornal 24 Horas online, a queda do helicóptero, que se despenhou no dia 22 de Setembro de 2021, na localidade de Kapilongo, município de Benguela, provocou a morte dos dois pilotos e três feridos. As vítimas mortais são dois pilotos seníores; mas a fonte não precisou as causas do acidente.

Embora o inquérito tenha sido efectuado naquela altura, por questões de sigilo profissional não se divulgou a causa do acidente. Apurou-se, entretanto, que o aparelho, do tipo Alouette Três, saiu de Menongue para o Lobito, mas deveria passar pela Huíla para reabastecer e seguir então para Benguela, mas fez o contrário; o piloto terá confiado em demasia nos seus longos anos de experiência e, infelizmente, não resultou, causando o desastre que lhe ceifou a vida e a do outro ocupante.

Na altura, a FANA comunicou à imprensa que se aventava a hipótese de ter existido fogo no interior do aparelho, que seguia em direcção à cidade do Lubango, província da Huíla. A bordo do Alouette Três seguiam ainda o comandante, o mesmo que esteve envolvido num acidente de aviação juntamente com profissionais da Televisão Pública de Angola, há alguns anos, o técnico de bordo e uma senhora que apanhara boleia.

A comissão de inquérito composta por técnicos aeronáuticos da FANA, saiu de Luanda no mesmo dia para apurar as causas, tendo a culpa recaido ao piloto por negligência às normas da aviação. 

Ao mesmo tempo, o Estado-Maior General das Forças Armadas Angolanas informou, através da comunicação social, que uma comissão de inquérito fora criada e enviada ao local do sinistro para averiguar as causas do acidente, e deveria oportunamente levar ao conhecimento público os resultados que fossem apurados.

Mas passados quatro meses, “nem água vai e nem vem”, aliás, tem sido recorrente quando acontecem acidentes de aviação, sobretudo com aparelhos da FANA, nunca se divulgar os resultados do inquérito, ou seja, nada sai à público, e tudo morre no “secredo dos deuses”.

Segundo a nota que foi publicada no dia 23 de Setembro de 2021, o helicóptero do tipo Alouette Três, com a matrícula H-233, despenhou-se no trajecto Lobito-Lubango, na região de Catengue, a setenta e cinco quilómetros da cidade de Benguela, provocando a morte do comandante de bordo e de um oficial, assim como dois feridos graves, que se encontravam a receber tratamento médico no Hospital Geral de Benguela, e que depois foram transferidos para o Hospital Militar Principal de Luanda. O que se sabe é que estes feridos já estarão melhor.

Em 1995, um outro acidente aéreo, registado na província de Benguela, vitimou quase toda a equipa de futebol da Maboque quando a aeronave em que seguiam embateu contra uma montanha, sem contudo se saber os resultados do inquérito.

O jornal 24 Horas online desde Dezembro último que tem efectuado esforços para ouvir a versão do porta-voz das Forças Armadas Angolanas, brigadeiro Jorge Napoleão, mas o mesmo não atende as nossas ligações, assim como não responde as nossas mensagens.

Por dentro dos Alouettes Três

A aeronave, monomotor, foi desenvolvida a partir do bimotor AW109, do qual herdou as dimensões exteriores e interiores, assim como a redundância dos sistemas hidráulico, eléctrico e do combustível.

Trata-se de um helicóptero extremamente versátil, capaz de operar em ambiente nocturno, com a utilização de óculos de visão nocturna, e de cumprir um leque bastante alargado de missões, como sejam: instrução básica e avançada de voo; busca e salvamento; evacuação sanitária; patrulhamento e observação; apoio ao combate aos incêndios rurais.

Está equipado com um trem de aterragem do tipo “patins”, com capacidade de instalação de flutuadores para a missão de busca e salvamento em ambiente marítimo. Para esta missão em particular, pode ainda ser equipado com guincho e farol de busca.

Tem a capacidade de transportar até sete passageiros (além do piloto), ou uma maca e cinco passageiros, ou ainda 1400Kg em carga suspensa, onde se inclui um balde para o combate a incêndios rurais.

O Alouette Três é um helicóptero utilitário ligeiro de transporte, monomotor, fabricado pela ‘Aérospatiale’, na França. É um desenvolvimento do Alouette Dois, tendo um tamanho maior e uma maior capacidade de carga. Originalmente propulsado por uma turbina turbomeca artouste três B, o Alouette é reconhecido pelas suas capacidades de operação em grandes altitudes, sendo o ideal para o salvamento em áreas montanhosas.

A primeira versão do Alouette Três, o protótipo SE-3160 voou pela primeira vez em 28 de Fevereiro de 1959. A sua produção foi iniciada em 1968, mantendo-se até 1968. Em 1968 começou a ser produzida a versão SA-316B.

Versões: SE-3160/SA- 316 A Alouette Três: o primeiro Alouette Três da série levantou voo em Julho de 1961, ano em que são entregues os primeiros exemplares a utilizadores militares. Esta versão passou a designar-se SA-316A a partir de 1968;

HAL Chetak: versão do SE-3160 construída sob licença na Índia. Esta designação inclui a versão indiana do SA-316B construída posteriormente;

SE-3164 Aloutte canon: protótipo de helicóptero de apoio tático construído com base num SE-3160 modificado, onde foi instalado um canhão orientável de tiro rápido de 20 mm apontável para a esquerda da cabine, quatro mísseis AS-11 ou AS-12 ou casulos de foguetes. Foi também testada uma versão com duas metralhadoras browning montadas na lateral da fuselagem;

AS-316 B Alouette Três: versão do SA-126A com o mesmo motor, mas aperfeiçoado;

IAR -316B: versão do SA-316B construída sob licença na Roménia;

IAR-317 Skyfox: projecto romeno de helicóptero de ataque com uma cabine bi lugar em tandem, baseado no IAR-316B;

F+W Alouette Três S: versão do SA-316B construída, sob licença, na Suíça;

SA-316C Alouette Três: última versão do SA-316, com um motor Artouste três D de 870 CV;

SA-319B Alouette Três: versão remotorizada com uma turbina turboméca astazou XIV de 870 CV, permitindo uma redução de consumo na ordem dos 15 por cento – 20 por cento;

SA-319C Alouette Três: última versão do Alouette apenas com modificações de pormenores.

As dimensões do Alouette Três, o seu comprimento é de 10,03 metros (32,9ft); altura três metros (9,84ft), área dos rotores 95,38 metros (1030 ft), tem como diâmetro dos rotores 11,02 (36,2ft), o seu peso é de 11,02 metro (36,2ft), 1143 de quilograma (2520 Ib), o peso carregado é de 2200 quilograma (4850 Ib). A velocidade de máxima é de 220 quilometros por hora (119 kn), velocidade de cruzeiro 185 quilometro por hora (99.9 kn), alcance (MTOW) 540 quilometro (336 mi), teto máximo 3200 n (10500ft), razão de subida 4,3 m/s, armamentos/metralhadoras, 1x canhão lateral 20 mm (0,79 in).

Os Alouettes ao serviço das colónias portuguesas

Os SE-3160 Alouette Três (ALTRÊS) foram adquiridos pela Força Aérea Portuguesa a partir de Abril de 1963 como complemento aos poucos aparelhos Alouette Dois já em serviço, para actuarem nas operações militares da guerra colonial, que decorreu em Angola. Guiné Bissau e Moçambique.

O Alouette Três tornou-se num dos principais ícones da guerra, ficando famosas as imagens dos paraquedistas e comandos a saltar dos aparelhos, enquanto estes pairavam a cerca de três metros do solo, durante as operações de heli-assalto.

Os ALTRÊS básicos desarmados, com o nome de código ‘’canibais’’ realizavam essencialmente operações de transporte, heli-assalto e evacuação sanitária. A estes ALTRÊS juntaram-se os helicanhões, com o nome de código ‘’ lobos maus’’, com um canhão de vinte mm montado virado para bombordo, disparado por um apontador através da porta lateral aberta. Em 1973 realizaram-se algumas experiências no sentido de incorporar lança-foguetes de trinta e sete mm ou 2,75, mas nunca chegaram à fase operacional.

A Força Aérea Portuguesa adquiriu um total de 142 Alouette Três, o segundo maior número de um único modelo de aeronave ao serviço de Portugal, logo a seguir ao North –American T-6.

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