Assinala-se sexta feira (15.01) o Dia do Antigo Combatente e Veterano da Pátria em Angola. Entretanto, diversos ex-militares estão descontentes com a forma como têm sido tratados pelo Estado angolano.
O veterano Francisco Mabiala não tem muito a comemorar num dia que pode ser considerado de glória. O ex-combatente diz que lutou para ver uma Angola melhor para os seus filhos e hoje, após tantos anos, diz que esperava mais reconhecimento.
«Somos marginalizados, mesmo sua excelência o Presidente da República conhece o nosso trabalho, mas nunca nos considerou», lamenta.
Além da frustração pessoal por ser desconsiderado pelo facto de ter posto em risco a própria vida pelo país, há também o aspecto económico que descontenta os heróis da pátria. Há muito que os antigos combatentes reivindicam a revisão dos seus subsídios.
Francisco Augusto, de 70 anos, diz que recebe uma pensão mensal de cerca de 20 mil kwanzas (o equivalente a 25 euros) e considera o valor irrisório. «Vinte é o quê? É um saco de açúcar ou um saco de arroz que está a custar 20 mil kwanzas. Arroz não se pode comer sem óleo, sem cebola. O governo tem que aumentar o subsídio do antigo combatente, é pouco mesmo», lança o repto.
A luta pela libertação de Angola contou com três grupos armados. Muitos dos ex-combatentes do Exército de Libertação Nacional de Angola (ELNA), das Forças Armadas de Libertação de Angola (FALA) – braço armado da UNITA – e das Forças Armadas Populares de Libertação de Angola (FAPLA), aguardam pela sua inserção no sistema de pagamento de pensão.
«Não houve êxito para o atendimento, eles ‘baralham’… Demora tanto tempo. E ao fim e ao cabo não dá resultado positivo», diz o antigo guerrilheiro do ELNA, Sebastião da Silva.
O MPLA, por meio do chefe do seu Departamento para Informação e Propaganda, reconhece a necessidade de se dar maior dignidade aos ex-militares. Arlindo Paulo entende que, para a valorização do antigo combatente, é necessário um trabalho conjunto.
«É preciso também continuarmos a pensar hoje na forma de melhorarmos a renda mensal que o antigo combatente tem por direito, porque actualmente naquilo que o antigo combatente tem por receber como subsídio não é compatível com o preço da cesta básica nacional; então é preciso depois equacionar esta situação para continuarmos a ver o antigo combatente com uma imagem dignificada», reforça.
Álvaro Ndengue Mbuale, secretário provincial da UNITA no Bengo, fala em falta de vontade política para se melhorar a vida dos veteranos da guerra de libertação.
«Se houvesse vontade politica… Não poderíamos levar mais de 40 anos após a independência [para resolver isso]. Até hoje vemos [nesta situação] muitos antigos combatentes, aqueles que deram o melhor de si para termos um país livre. Está a faltar vontade política a quem de direito para resolver isso», opina.
O director do Gabinete Provincial dos Antigos Combatentes e Veteranos da Pátria reconhece o estado de precariedade em que vivem alguns antigos combatentes, mas garante que virão dias melhores.
Joaquim Cangulo esclarece que, por força da pandemia e outras situações, mais de 2 mil novos processos de ex-guerrilheiros aguardam por homologação junto ao Ministério de Tutela.
«Esse processo de recadastramento e prova de vida, que teve início em 2019, foi interrompido por força da pandemia da Covid-19. No entanto, houve a obrigatoriedade de cancelá-lo. Tão logo as condições estejam criadas, haverá a retoma deste processo de recadastramento. Quando este terminar, vai-se homologar os processos dos nossos pré-candidatos», esclarece Cangulo.
A província do Bengo administra cerca de 10 mil pensões para antigos combatentes, deficientes de guerra, órfãos, viúvas e acompanhantes. Em 2017, ocorreu a última homologação de processos, quando foram incluídos 1040 novos processos de veteranos na seguranaça social do Estado. (In DW África)