«O Percurso Histórico do Bairro Golfe ‘’Ngoló’’ e Sua Gente» – Memórias Indeléveis, é o título da primeira obra literária de Manuel Bartolomeu Dias «EMÊ-BÊ-DÊ», que foi lançado recentemente no largo dos bordões na subzona 10, bairro dos Correios, no município do Kilamba Kiaxi, e contou com a presença de muitos leitores.
Domingos Kinguari
Em entrevista ao jornal de notícias ‘24Horas’, o seu autor Manuel Bartolomeu Dias disse que a obra literária comporta catorze capítulos e 154 páginas. Retrata as vivências e as convivências da gente do Golfe do antigamente.
O escritor revela que faz um percurso literário da história do emblemático bairro Golfe de Luanda, «enquanto musseque na altura. Do nome do tempo colonial nem sequer chamava-se como actualmente, era chamado de ‘campo do Golfe’, em função da modalidade que era praticada e que foi trazida pelos estrangeiros funcionários da Fina Petróleos e do Kenguela Norte», recorda.
Continuando, explicou que «após ter sido habitado pelos colonos e pelos negros provenientes dos musseques como a Samba e Prenda, os colonos criaram um campo de aviação no actual campo de futebol da administração municipal do Kilamba Kiaxi, onde eram exibidos aviões telecomandados e a população assistia», lembra com alguma nostalgia.
O livro, segundo o seu autor, que foi apresentado para um vasto público luandense, conta a história dos vários aspectos do Golfe, «daquilo que passou e do contributo que demos em prol da independência nacional. Temos anciões, nacionalistas e que muito contribuiram para que a zona hoje fosse o que é. Temos os antigos pioneiros do antigamente que muitos deram para a nossa independência», elucida.
Actualmente, esclareceu, o Golfe já não é um musseque; «deixamos aquilo que foi antigamente e pela divisão política administrativa actual é um distrito. Se bem que temos estado a discutir em paralelo com a Associação dos Naturais e Amigos do Golfe ‘Anangoló’ da tal divisão administrativa que foi feita no bairro. Hoje o Golfe já não tem a tal divisão política administrativa que tinha antigamente. Há a reparar que existe uma divisão do distrito da Sapú em relação ao Golfe. Existe uma diferença muito grande. Anteriormente alinhávamos a Sapú a partir da estrada adjacente da esquadra da polícia com a Divina Providência, e hoje nos invadem até a administração municipal, como tal já não é o bairro do Golfe, mas sim o distrito do Golfe», lamenta.
O autor traz em evidências as várias histórias do Golfe, concretamente do musseque Kassaka, «as velhas chamavam de Buazaka, é o anterior musseque Golfe, não tem nada a ver com o
bairro Palanca. Surgiram várias transformações daquilo que era o musseque Golfe do antigamente que passou a ser o bairro do Golfe até aos dias de hoje. É totalmente diferente. O livro traz um enquadramento dos povos a partir da era colonial até aos anos noventa», disse.
EMÊ-BÊ-DÊ como é conhecido pelos mais próximos, refere que retrata também a personagem de uma das figuras emblemáticas do Golfe, que é o falecido Muangola; «ele é uma referência do bairro. Podemos tratá-lo como um nacionalista, porque faço alusão num dos capítulos de que foi um vilão, ou mesmo herói, para uns. Eu trato o Muangola como o herói deste bairro. A semelhança do Muangola que muito deu para o engrandecimento do MPLA para que pudesse ter um peso dentro desta circunscrição. Tivemos vários nomes como são os casos dos Comandantes Kilombelombé, Faísca, Nem Todos, Adão Zeliki, do Nanona amigo directo do Muangola, Paulo Dilobé, Luís Beka, Mingo Kizukula, o Zé e tantos outros. Estes foram fontes de inspiração para muitos jovens daquela altura. Foram estes que criaram algumas bases, ou células do MPLA no bairro e participaram em determinadas marchas no 1º de Maio», realça.
Manuel Bartolomeu Dias assegura que «temos no livro grandes referências do Golfe para a nossa juventude e as novas gerações poderem conhecer a verdadeira história do ‘’Ngoló’’», disse.
Neto foi o primeiro deputado pelo MPLA no Golfe
O prefaciador do livro e fundador da Associação dos Naturais e Amigos do Golfe (ANANGOLÓ), Manuel Alfredo, revelou que «nessa óptica o jovem escritor EMÊ-BÊ-DÊ, residente há mais de quatro décadas nessa parcela, com este rebento resgata a história que, no seu desenvolvimento económico, social e político, baseou-se no cultivo de lavras e de um musseque veio a definir-se em subúrbio da urbe luandense», disse o prefaciador.
Como revelou, «no rebento constam noções básicas de toda trajectória percorrida pelo povo do Ngoló no vasto território municipal que, no seu todo, estão relegados no bairro do Golfe, foram relatados aqui no memorial histórico, baseado em depoimento de determinados nacionalistas e munícipes que protagonizaram factos relevantes que a história hoje registou, embora alguns tenham passado ao anonimato», disse.
«Neste quesito, no culminar da luta de libertação nacional, logo depois da chegada à Luanda do camarada presidente Agostinho Neto, no antigo aeroporto Craveiro Lopes, no dia 4 de Fevereiro de 1975, dirigiu-se imediatamente para o bairro do Golfe, dada a sua participação efectiva na luta de resistência, que teve repercussão nacional e internacional. Daí contactados os bravos combatentes que saíram da clandestinidade e ousaram enfrentar o poderio militar colonial português», enfatiza.
Para tal, Manuel Alfredo avançou que, «passou a desenvolver várias actividades políticas e diplomáticas, consubstanciadas no reforço e criação de bases militares nos comités de acção, com guerrilheiros provenientes da primeira região político-militar, com a criação da Assembleia do Povo. O saudoso Presidente Neto, assumiu-se como deputado da localidade do
bairro do Golfe, como sua zona de acção, mandando construir o novo bairro Golfe, com a edificação de hospitais, escolas, mercados, lojas do povo e a distribuição da rede eléctrica e água canalizada em fontenários», disse.
Enfatizou que «temos aqui uma obra histórico-documental que evidencia um povo heroico durante o período colonial e pós-colonial, que caracteriza o povo do Golfe e enaltece deste modo a vida dessa gente, para assim dizer, que também tem alma, um lugar onde o jovem escritor passou toda sua infância e juventude, que como não podia deixar de ser, marcaram-lhe grandemente a sua vida e engrandeceu a sua veia de escriba», enaltece.