Início Sociedade João Lourenço foi fornecedor da cadeia de retalho Kero cuja venda a privados permanece incerta

João Lourenço foi fornecedor da cadeia de retalho Kero cuja venda a privados permanece incerta

por Redação

A rede de supermercados Kero, em vias de ser vendida a privados, já teve o Presidente da República, João Lourenço, como um dos seus fornecedores, através da sua unidade de produção agrícola nos arredores de Luanda, que fornecia à referida cadeia de retalho, produtos horto – frutícolas, ovos e aves

Segundo notícias postas a circular, o resultado do concurso lançado para a venda a privados da rede de distribuição Kero permanece incerto, quase três semanas após o dia 15 de Outubro, data avançada para o anúncio do vencedor.

Citando fontes do sector, as notícias referem que o vencedor ainda não anunciado, poderá ser o Alimenta Angola, grupo que detém quatro lojas de cash & carry, focadas sobretudo no canal “Horeca” (hotéis, restaurantes e catering), cuja primeira loja foi aberta em 2009 e que está a celebrar actualmente 12 anos de presença no mercado angolano.

Com sócios maioritários brasileiros e indianos, o grupo Alimenta Angola resulta da decisão de expansão da cadeia brasileira de distribuição Tenda Atacado, surgida numa visita de António Severini, presidente do grupo, a Luanda.

O negócio em Angola baseia-se predominantemente na comercialização de produtos de origem brasileira e alguns de origem portuguesa. O grupo promove a sua imagem enquanto comprador por excelência de produção de Angola.

O Alimenta Angola tem seguido um roteiro de expansão lento, mas seguro, conseguindo superar a crise das divisas que afectou fortemente o sector da distribuição (por via das importações) desde 2016.

A sua actual direcção em Angola, liderada por Marcos Paulo, pretende retomar a expansão da rede para fora de Luanda – Malanje e Benguela. O grupo é um dos 200 maiores contribuintes em Angola.

Seis propostas terão sido entregues ao Ministério do Comércio e Indústria, e meios do Governo transmitiram à comunicação social que entre estas estavam as de alguns retalhistas internacionais como o francês Carrefour e o sul-africano Shoprite, informaçãoentretantonão confirmada.

O Kero, que chegou a ser referência ao nívelda gestão e da marca, desenvolvida pela empresa multinacional especializada em branding Daymon Worldwide, está a atravessar um período de turbulência, com problemas de rupturas de abastecimento e de tesouraria. A desvalorização da empresa é avaliada por fontes do sector em mais de 50% nos últimos dois anos. A empresa foi perdendo vários fornecedores e consultores devido a pagamentos em falta.

Um dos fornecedores do Kero seria o próprio Presidente da República, João Lourenço, através da sua unidade de produção agrícola nos arredores de Luanda, que fornecia à cadeia de retalho, produtos horto – frutícolas, ovos e aves.

Recorde-se que a rede de supermercados Kero, pertenceu a figuras do círculo próximo do ex-Presidente da República, José Eduardo dos Santos, entretanto alvo de processos judiciais, sobretudo para recuperação de activos.

Assim sendo, em 2020, o Estado angolano passou a deter 90% do capital social do Grupo Zahara Comércio S.A., que inclui o Kero, que deste modo passou a integrar o sector empresarial público.

Os activos do grupo foram entregues ao Estado pelos principais accionistas, Helder Vieira Dias ‘Kopelipa’, Leopoldino do Nascimento ‘Dino’, na sequência dos processos judiciais em que os dois primeiros constam como arguidos.

O Serviço Nacional de Recuperação de Activos passou a ser o detentor da rede de distribuição na sequência do arresto dos activos do grupo pela Procuradoria Geral da República (PGR), por terem sido constituídos com fundos públicos, aos quais se associam diversas acusações de crimes económicos ainda em processo de investigação, a maioria dos quais relacionados com o escândalo de corrupção que envolve o ICBC — Banco Industrial e Comercial da China e o empresário chinês Sam Pa.

Em Julho, o Instituto de Gestão de Activos e Participações do Estado (IGAPE) abriu um concurso público para a cedência da rede de hipermercados e supermercados detida pelo grupo Zahara.

O concurso tem a natureza de um contrato de cedência do direito de exploração e gestão da rede a uma empresa privada por um período de dez anos, sem opção de compra, e inclui doze lojas, das quais oito na província de Luanda e quatro nas províncias de Benguela, Huíla e Huambo.

Ainda em Outubro, outro dos retalhistas angolanos, Nosso Super (supermercados e hipermercados), foi igualmente lançado no mercado para exploração e gestão privada por cinco anos.

Enquanto isso, o programa de privatização de activos empresariais (PROPRIV) tem sofrido atrasos significativos devido à crise de 2020/2021 e, em sentido inverso, a “holding” empresarial do MPLA (GEFI) mantém-se como um dos principais grupos económicos, enquanto a Sonangol tem reforçado o seu papel enquanto accionista (Unitel) e investidor (projecto da Barra do Dande), apesar do seu elevado endividamento e avultados prejuízos financeiros.

Das 126 empresas que, ao abrigo do PROPRIV, deveriam ter sido privatizadas em 2020, apenas 39 foram vendidas, sobretudo a investidores locais.

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