A Procuradoria-Geral da República (PGR) de Angola entregou ao Estado a TV Zimbo, a Rádio Mais e o jornal O País, órgãos do grupo Media Nova, “em virtude de terem sido constituídos com o apoio e o reforço institucional do Estado”.
Márcia Elizabeth
A decisão inscreve-se no chamado processo de recuperação de capitais públicos desviados durante o regime de José Eduardo dos Santos.
O grupo pertencia ao antigo vice-presidente Manuel Vicente e aos generais Leopoldino Fragoso do Nascimento “Dino” e Manuel Hélder Vieira Dias Júnior “Kopelipa”, todos homens próximos do antigo Presidente.
Com o futuro daqueles órgãos de comunicação indefinido, o Sindicato dos Jornalistas Angolanos (SJA) teme que a passagem do grupo Media Nova para tutela do Estado possa alterar a sua linha editorial.
“O Sindicato espera que não se mexa na linha editorial nem haja interferências dos novos donos, ainda que seja o Estado, tal não deve servir para que esses órgãos fujam do que estabelece a lei quanto ao exercício do jornalismo”, alerta o secretário-geral do SJA, Teixeira Cândido, que reitera que a lei é clara e recomenda “que os jornalistas sejam isentos, imparciais e plurais”.
Alguns profissionais consideram que o fato desses órgãos terem passado à tutela do Estado é apenas um regresso à fase inicial, porque significa que os órgãos desse conglomerado voltaram ao seu dono, atendendo que foi um projeto criado à sombra do regime para se criar a ideia de uma certa abertura e democratização do regime, com alternativas à TPA.
O antigo jornalista e atual deputado pela CASA-CE, Makuta Nkondo, pensa que não vai haver alteração da linha editorial porque “os que integram a coordenação de gestão da TV Zimbo são bem conhecidos, são activistas do MPLA. Tudo isto reflete já a preparação de mais uma fraude eleitoral”, conclui.
Desde a passada quinta-feira, a TV Zimbo, uma das empresas do grupo, tem à frente uma comissão coordenada pelo antigo administrador para conteúdos Paulo Julião. Segundo informações, o Jornal O País ficará sob dependência do Jornal de Angola. É um assunto que ainda vai dar “pano para mangas”!