Início Sociedade Governo angolano visto como incapaz de conter a fome que se alastra pelo país e ignora apelos da sociedade

Governo angolano visto como incapaz de conter a fome que se alastra pelo país e ignora apelos da sociedade

por Redação

A fome, que se alastra por Angola,  está a causar inúmeras vítimas mortais, além de provocar um aumento sem precedentes da criminalidade. Residentes das localidades afactadas, activistas sociais e líderes religiosos, continuam a denunciar o aumento da fome em várias regiões de Angola, devido à seca, mas também à falta de programas do Governo, que está ser apontado como incapaz de controlar a situação

Segundo fontes fidedignas, mais de 1,3 milhões de pessoas estão em situação de insegurança alimentar grave depois da pior seca das últimas quatro décadas, no sul de Angola. A situação tende a piorar, prevendo-se que até Março do próximo ano, esse número poderá subir para 1,58 milhões de pessoas, segundo uma projecção da iniciativa IPC, que monitoriza a situação no terreno.

Se até há pouco o grito provinha do Sul do país, agora as denúncias surgem da Lunda Sul e, por exemplo, do município da Ganda em Benguela, onde os produtores deixaram de trabalhar porque a produção é roubada na calada da noite pelos munícipes que alegam fome.

No Cunene, a situação de fome é tão grave que, segundo o padre da Igreja Católica Gaudêncio Félix, há mesmo pessoas a morrerem em consequência da falta de comida, enquanto outras fogem para a vizinha Namíbia.

“Encontrei pessoas que estão há dois, três dias sem comer, algumas a morrerem mesmo, outras até podem não perder a vida imediatamente, mas a sua esperança de sobrevivência é reduzida, a comida que se está distribuir não chega para nada, não é possível sobreviver com três quilos de fuba durante meses, com famílias de 10 membros”, diz aquele líder religioso para quem “é uma pena o nosso Executivo ignorar o apelo dos bispos para decretar estado de emergência no sul do país”.

“Infelizmente, vamos assistindo à incapacidade do mesmo Executivo em resolver o problema da fome e vemos pessoas a fugirem para a Namíbia à procura de melhor sorte”, lamenta Gaudêncio Félix, que também alerta para o aumento do crime.

“Os roubos aumentaram, a delinquência, e vão aparecendo cada vez mais crianças abandonadas pelas próprias famílias, é uma situação triste”, conclui aquele padre.

Mais a leste, na província da Lunda Sul, o cenário não é diferente, como diz o Soba Kapemba.

Ele lembra que “como tudo vem de Luanda e as estradas para aqui não favorecem, com a alta dos preços dos principais produtos, a fome aperta e a solução encontrada por alguns é a marginalidade”.

“A pobreza aumenta por estas paragens, os jovens passam o tempo na rua a pedir, durante o dia e de noite há roubo, muitos assaltos, as pessoas já não conseguem dormir tranquilas, cresce a miséria, as pessoas, por causa da fome vão ficando doentes”, conta aquela autoridade tradicional.

O empresário e produtor nacional Rui Magalhães afirma que na região da Ganda, na província de Benguela, a fome está quase por todo o lado.

Magalhães revela que há tanta fome na Ganda que os agricultores locais preferem parar a pouca produção, por causa dos roubos.

“Durante a noite, as pessoas são capazes de roubar quase uma tonelada de produtos do campo, a polícia não tem capacidade de intervenção, o empresário só vê uma saída, que é parar a produção”, sublinha aquele produtor que destaca uma grave situação de insegurança.

Desde há meses, activistas sociais pediram ao Governo que declare o estado de emergência no Sul do país na sequência da pior seca que há 40 anos se abate sobre Angola, pedido também feito pela Conferência Episcopal de Angola e São Tomé (CEAST) em Outubro.

O Governo não respondeu positivamente, mas o Presidente criou uma equipa de trabalho para enfrentar a situação no Sul, há dois anos. Contudo, até agora não há qualquer informação sobre o trabalho que tem vindo a efectuar (isto é se têm feito alguma).

Enquanto isso, a Organização Não Governamental “Omunga” acusa o Governo de “arrogância” por não declarar o estado de emergência no sul de Angola. O coordenador da organização, falando à DW África lamenta a “falta de sensibilidade” ao sofrimento da população.

O coordenador da Omunga diz que é preciso agir já e declarar o estado de emergência. Mas o Executivo continua a ignorar os apelos da sociedade, refere João Malavindele, acrescentando que essa não é a única matéria em que o Governo tem feito ouvidos de mercador.

Para João Malavindele, “o Governo tem lidado com essa situação de forma muito leviana. A situação da seca e fome no sul de Angola merece muito mais do que promover simples campanhas de doação de comida. Este é um problema cíclico. O problema da falta de água já deveria ter sido resolvido há bastante tempo, mas nunca houve um compromisso político sério para o mitigar”.

“Tudo o que foi feito até agora contra a seca é pouco. Devia-se pensar particularmente em intervenções a curto prazo, e, nesse sentido, uma das coisas que estamos a exigir, como sociedade civil, é que se declare o estado de emergência”, realçou. (Com agências)

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