Devido às ‘agressões brutais’ contra os estudantes nos protestos do passado sábado, em Luanda, o Movimento dos Estudantes Angolanos vai entregar uma queixa-crime à Procuradoria-Geral da República. A polícia angolana dispersou com tiros e lançamento de gás lacrimogéneo uma manifestação de estudantes que protestavam.
O Movimento dos Estudantes Angolanos (MEA) anunciou esta quarta-feira (21) que vai entregar uma queixa-crime na Procuradoria-Geral da República (PGR) contra a polícia nacional devido às ‘agressões brutais’ contra os estudantes nos protestos de sábado, em Luanda.
O posicionamento do MEA foi apresentado numa conferência de imprensa de balanço sobre a manifestação de sábado, em que os estudantes protestaram contra a subida de propinas e emolumentos nas instituições de ensino do país. Segundo o MEA, a queixa-crime contra os efectivos da polícia angolana deve entrar na PGR na sexta-feira (23), lamentando a «agressão violenta» de que dizem ter sido alvo e da qual resultou «20 estudantes feridos, 15 desmaios e detenções arbitrárias».
O secretário nacional do MEA para o Ensino Superior, Laurindo Mande, que apresentou um comunicado à imprensa, acusou também a polícia angolana de «ter roubado sete telefones dos manifestantes, valores monetários e outros haveres».
Para o MEA, a polícia nacional violou um acordo prévio sobre o término da manifestação, no Largo dos Ministérios, porque, segundo o responsável do MEA, «destacou no local mais de 100 agentes de intervenção rápida que agrediram os manifestantes».
Em declarações à Lusa, o activista e coordenador do movimento pelas autarquias em Angola, Kambolo Tiaka-Tiaka, um dos agredidos, juntamente com a sua filha de 16 anos, que ficou ferida num braço, disse que a polícia lhe tirou o telemóvel e ficou com dinheiro. «A minha filha foi arrastada até ao carro e sofreu ferimentos num braço», lamentou.
A polícia angolana dispersou, no sábado, com tiros e lançamento de gás lacrimogéneo a manifestação de estudantes que protestavam, em Luanda, contra a subida de propinas, após um início de marcha pacífica. O ‘elevado’ preço das propinas e emolumentos nas instituições públicas e privadas e «falta de qualidade no ensino» foram alguns dos propósitos da manifestação promovida, na capital angolana, pelo MEA.
Mais de 250 estudantes e membros da sociedade civil responderam afirmativamente ao apelo do MEA e concentraram-se no Largo das Heroínas, local onde antes do início da marcha os estudantes expulsaram o presidente do Conselho Nacional da Juventude (CNJ), Isaías Kalunga, que teve de sair escoltado perante a ‘fúria’ dos jovens.
«Kalunga fora», era o grito de protesto contra a presença do líder do CNJ que não escapou, inclusive, de uma garrafa de água lançada contra si pelas costas.
Esta quarta-feira o MEA «repudiou e demarcou-se» dos incidentes que concorreram para a expulsão do líder do CNJ, tendo «reprovado o comportamento negativo por parte de alguns activistas». «Não foi o nosso desejo, por isso protegemos o mesmo (Isaías Kalunga) para que não fosse alvo de agressão», referiu Laurindo Mande.
A comissão directiva do CNJ repudiou, em comunicado, os actos e «condenou» a tentativa de agressão ao seu líder, pela qual responsabilizou militantes de partidos políticos. A polícia de Luanda, por sua vez, anunciou ainda no sábado que deteve três manifestantes, na sequência dos protestos de estudantes, garantindo, no entanto, que haviam sido soltos posteriormente e que «não houve registo de feridos».
O porta-voz do Comando Provincial da Polícia em Luanda, inspector-chefe Nestor Goubel, justificou que os efectivos da polícia agiram para «repor os pressupostos acordados» com os organizadores sobre o percurso da marcha.
O MEA deu conta ainda que uma manifestação também ocorreu na província do Huambo, com registo de 12 detidos e três feridos, e na província do Uíje, com cinco detidos, inclusive um cidadão chinês que «filmava a violência contra os manifestantes».
Na província do Moxico, leste de Angola, não houve detenções e o MEA «enalteceu» a postura da polícia naquela circunscrição. (In Observador