Trabalhadores insatisfeitos da Divisão de Segurança Privada (DSP) afecta ao Grupo Edgar – Fran Lda., nomeadamente guardas, vulgarmente chamados “seguranças”, denunciaram ao Jornal 24 Horas online que têm sido vítimas de irregularidades praticadas pela direcção da empresa, assim como da falta de pagamento regular dos salários
Licínio Adriano
Trabalhadores de segurança (guardas) ligados à Divisão de Segurança Privada (DSP) do Grupo Edgar – Fran Lda, que falaram sob anonimato por razões óbvias, acusam a direcção daquela empresa de os “explorar” e de atrasar consecutivamente no pagamento de salários.
Geralmente, a empresa fica a dever vários meses de salário e depois, para aliviar a tensão, vai pagando um a dois meses, mas nunca pagando a dívida na totalidade, afirmam os queixosos. Neste momento, disseram, “há vários colegas com quatro, três e dois meses por receber, mas o próprio director, que é bastante arrogante, nunca diz quando é que vai regularizar a nossa situação, não aceita ouvir as nossas reclamações, ameaça-nos com despedimento e diz mesmo: ‘quem não está satisfeito entrega a farda e pode ir embora’”, alegam.
Segundo os denunciantes, alguns acabam mesmo por ir embora e nunca mais recebem os salários em atraso. “Temos colegas que se vão embora porque ficam aborrecidos, e não recebem mais nada porque a direcção justifica que abandonaram o trabalho; eles não se preocupam com isso, porque em seguida, por causa da carência de emprego, logo admitem outros que são postos imediatamente a trabalhar sem qualquer preparação”.
Soube-se que os “seguranças” permanecem nos postos por turnos de 48 horas consecutivas, sem direito a alimentação. “Quando somos admitidos dizem que o salário é 35 mil kwanzas por mês, mais subsídio de alimentação e de transporte. Eles dão-nos 5 mil Kz/mês para alimentação e 5 mil para transporte. Mas quando nos pagam, sempre com muitos truques, só nos entregam 25 mil kwanzas porque alegam que descontaram 10 mil Kz da alimentação e transporte, além de que há sempre descontos incompreensíveis, às vezes num valor de dois meses ficamos reduzidos a um mês”.
Os trabalhadores consideram injustos e aproveitadores tais procedimentos da direcção da empresa. “Aproveitam-se da crise e da falta de emprego no país, as pessoas precisam de trabalhar e hoje faz-se qualquer coisa; há muitos jovens de nível universitário e com outras formações que, por falta de emprego, estão a trabalhar como guardas de segurança; mas os responsáveis destas empresas só olham para os seus lucros e exploram sem piedade os cidadãos. O que se faz na DSP é desumano, admitem os trabalhadores afirmando uma coisa e depois fazem outra. Um segurança fica 48 horas consecutivas no posto, é desgastante e perigoso, tanto para a nossa vida como para o bem que guardamos porque ficamos fagilizados e os bandidos podem aproveitar-se disso; os cinco mil kwanzas que dão para alimentação de um mês, hoje em dia, ao preço que tudo está, não é nada e ainda por cima retiram do nosso salário, que nunca é pago regularmente, é um crime”, desabafam.
Ainda na mesma esteira, os descontentes referem que os trabalhadores recém – admitidos são colocados nos postos sem qualquer preparação, não se procede de acordo com a lei e os trabalhadores ficam à mercê dos caprichos do empregador que faz o que bem entender, despede quando quer e nada lhe acontece, porque o trabalhador está desprotegido pela forma como é admitido, sem contrato de trabalho, sem nada que o possa defender.
Segundo um especialista sindical, a DSP ou o Grupo Edgar – Fran Lda., a este propósito, incorre em violação clara de pressupostos não só da Lei Geral do Trabalho mas também da própria Constituição da República de Angola, no que toca à violação dos direitos do trabalhador, por um lado, e violação dos direitos do cidadão e dos direitos humanos, por outro lado.
“Procedimentos desta natureza consubstanciam-se como crime, previstos e puníveis pelas leis em vigor no país. Tais empresários tiram proveitos explorando os cidadãos, ante a fragilidade que enfrentam por falta de emprego, aliciam, manipulam, aproveitam-se da boa – fé das pessoas, que é crime de abuso de confiança, para depois não respeitar os seus direitos e ainda por cima não lhes pagar os salários devidos pelo esforço despendido”, explica o sindicalista.
Como se não bastasse, o especialistas afirma ainda que essas empresa também fazem propaganda enganosa ao garantir aos clientes que prestam um trabalho profissionalizado, com pessoal idóneo e devidamente preparado, quando na realidade não é o que acontece.
Fazendo jus à Lei de Imprensa, o Jornal 24 Horas foi em busca do contraditório, tendo contactado por telefone, na segunda-feira (01), através de número cedido pelos queixosos, o supervisor da DSP, identificado apenas por Gilberto.
O supervisor ouviu calmamente o que lhe foi exposto, trocou algumas palavras com o jornalista e acabou por “atirar a bola” para a direcção da empresa, ou seja, do Grupo Edgar – Fran Lda, fornecendo o contacto do director-geral, alegando que a situação o ultrapassava e só a direcção poderia responder às questões com precisão.
Atendendo o feriado pelo Dia dos Finados, só na quarta-feira (03), depois de várias tentativas, foi possível falar com o director-geral, cujo nome não foi avançado. Ao tomar conhecimento que se tratava do Jornal 24 Horas e do propósito da chamada, imediatamente o homem em linha começou a vociferar com arrogância quanto baste, dizendo que não tratava de tal assunto por telefone e que voltasse a entrar em contacto com o supervisor, Gilberto, para que ele marcasse hora para um encontro pessoal e desse o endereço do escritório da empresa.
Ligando novamente para o Sr. Gilberto, este disse que não era ele a pessoa indicada para marcar hora para um encontro e fornecer o endereço da direcção. Um tanto confuso, o jornalista perguntou a razão do “empurra – empurra”, pelo que Gilberto esclareceu que, pouco antes da nossa ligação, o director ligara para ele, agastadíssimo, acusando-o de ser ele o culpado por agitar os trabalhadores e de ser a pessoa que levou o problema ao jornal.
Considerando o contexto, o jornalista comunicou que já tinha feito o que é devido, deu a possibilidade da empresa defender-se e dar a sua versão dos factos, mas diante do ambiente que se criou iria publicar o texto.
Mal acabou de falar com o supervisor, ligou o director-geral exigindo que o jornal lhe fornecesse os nomes dos trabalhadores que fizeram a denúncia e só assim se pronunciaria. Ante a recusa do jornalista que explicou que não podia “queimar” as fontes e que os trabalhadores falaram sob anonimato para não sofrerem represálias, o alegado director-geral “foi aos arames”, acusou o supervisor Gilberto de ser “amigo” do jornal e de ter sido ele quem forneceu os dados aqui descritos, o que foi negado, porque não é verdade. Gilberto apenas foi contactado depois dos trabalhadores terem feito a denúncia e passarem o contacto do supervisor.
Mesmo assim, o director, entre alegações de que tudo o que lhe foi descrito “é mentira” e de lições de jornalismo, passou às ofensas e ameaças em termos bastante deselegantes: “se você é o dono do jornal põe a matéria no ar e depois vais ver o que te acontece… Se você pôr essa matéria no ar eu vou processar o jornal e vocês vão me sentir no tribunal… Experimenta pôr isso no ar e vão saber quem sou eu…”, gritava o homem ao telefone.
Não adiantando ouvir mais impropérios, o jornalista avisou que ia desligar e, em jeito de remate final, o agastado director gritou: “Põe a matéria no ar, mas fiquem já a saber que a partir de hoje, o vosso amigo Gilberto está despedido!”
A atitude do dito director-geral do Grupo Edgar – Fran Lda, apenas demonstra o tipo de pessoa que é, assim como o nível da sua gerência. Na sequência, uma fonte ligada à mesma empresa confidenciou ao jornal que a desconfiança do director em relação ao supervisor tem a ver com o facto de, o mesmo, não ver também a cor do seu salário há três meses!
É caso para dizer que, para “bom entendedor meia palavra basta”!