Início Política Um ciclo que não acabou – Os “bajús” que ajudaram a desgraçar o país

Um ciclo que não acabou – Os “bajús” que ajudaram a desgraçar o país

por Redação

De “bajús” em “bajús”, neste aspeto a situação atual do país não mudou. Ontem os “bajús” lambiam os sapatos de José Eduardo dos Santos; hoje, labem os de João Lourenço e, o ciclo, continua.

O ativista e politólogo angolano Adão Ramos, falando à DW África, disse que na era da governação do ex-Presidente José Eduardo dos Santos, o país estava dividido em dois grupos: “Aqueles que defendiam tudo e mais alguma coisa, de forma exaustiva e, os outros que pensavam diferente, que manifestavam opinião contrária, eram vistos como pessoas que estavam a ser instrumentalizados por agentes externos”.
Os bajuladores conhecidos por “bajús” eram especialistas em diferentes áreas do saber que apareciam nos principais espaços noticiosos e de análise das estações televisivas e radiofónicas angolanas. Usavam frases como “o país tem rumo” e tudo era “graças ao esforço do arquitecto da paz”, uma alusão ao ex-Presidente Eduardo dos Santos.
“Muitos ‘bajús’ já viraram a casaca e estão a defender completamente o contrário do que defendiam antigamente”, acusa o ativista. E há quem gostaria que os “bajús” se retratassem publicamente pelas posições que tomaram.
Adão Ramos explica ainda que, por outro lado, havia os revolucionários, baptizados por “revús”; um grupo de cidadãos compostos por políticos da oposição, membros de organizações não governamentais, religiosos e ativistas.
Por exemplo, Manuel Chivonda Nito Alves, era um dos rostos mais visíveis da luta contra o “Eduardismo” e chegou a ser julgado por difamação contra o Chefe de Estado. Por isso, ficou conhecido como o “preso do Presidente”.
Nito Alves refere que “sempre tivemos a convicção no Movimento Revolucionário que o problema de Angola era José Eduardo dos Santos e o seu MPLA. Significa que João Lourenço também não é inocente”.
A este respeito, em entrevista à TV portuguesa SIC Noticias em 2013, o ex-Presidente José Eduardo dos Santos, afirmou que estes eram “jovens frustrados e sem sucesso escolar”.
Um deles é o ativista Inocêncio de Brito: “O nosso país não estava a ser gerido como devia ser. Estava a ser gerido por interesses particulares e não interesses nacionais. O que valia era a manutenção do poder e não essencialmente a gestão do país”.
O ativista Adão Ramos conta que, “enquanto os analistas se esmeravam nos elogios à governação, estavam a acontecer coisas; o país estava realmente a ser assaltado”.
Hoje parece que tudo está a vir à superfície, revela Adão Ramos. Entende que “Isso prejudicou grandemente o avanço do país e agora estamos numa situação a assistir coisas que nos envergonham”.
Uma delas, é a situação ligada, sobretudo, à empresária angolana Isabel dos Santos, que viu, em Dezembro do ano passado, as suas contas bancárias e as suas participações sociais a serem arrestadas pela justiça angolana.
Associa-se a isso, as revelações do “Luanda Leaks”, a investigação de que o ex-Presidente está a ser alvo em Mónaco, o julgamento de José Filomeno dos Santos, a condenação de Augusto Tomás, ex-ministro angolano dos Transportes, o relato de centenas de milhões de euros desviados para o exterior, entre outros casos.
Mas os “bajús” que ontem aplaudiam as nomeações dos filhos do ex-Presidente, Isabel dos Santos para gerir a Sonangol, petrolífera estatal, Filomeno “Zenú” dos Santos na gestão do Fundo Soberano de Angola ou Weslwitschia “Tchizé” dos Santos na administração do canal 2 da Televisão Pública de Angola (TPA), “ estes “bajús” (hoje) não aparecem a público para se retratarem”, critica.
A justiça angolana tem sido acusada de ser seletiva na luta contra corrupção por estar supostamente a indiciar apenas a família “Dos Santos”. Aliás, Isabel dos Santos por várias vezes disse em entrevistas que há uma perseguição política contra si.
Adão ramos diz que é necessário responsabilizar todos que se beneficiaram do dinheiro do Estado. Considera que “aproveitaram da pior maneira as suas funções para roubarem, mas estão alí escondidos. Alguns ainda são aplaudidos, vistos como heróis, vistos como pessoas que prestaram serviços relevantes à pátria”. (Com a devida vênia à DW África)

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