Os acontecimentos do dia 30 de Janeiro, em Cafunfo, continuam a merecer as mais diversas análises e conjecturas. Diversos analistas consideram que houve excesso do uso de força e abuso do poder no incidente ocorrido na vila de Cafunfo. A associação Mãos Livres e o Bloco Democrático-BD também já se pronunciaram.
Assim sendo, o político angolano Abel Chivukuvuku considerou que houve excesso do uso de força e abuso do poder no incidente ocorrido em Cafunfo, província da Lunda Norte, que provocou, segundo as autoridades, seis mortos, cinco feridos e 16 detidos.
O político reagia ao incidente na sequência de uma tentativa de manifestação de um grupo de pessoas, que as autoridades classificaram como um «acto de rebelião», porque, estavam munidos de armas e atacaram uma esquadra de polícia.
Segundo Abel Chivukuvuku, não é a polícia que autoriza ou desautoriza manifestações, por ser apenas um órgão administrativo, para assegurar a ordem, «mais nada». «E tudo o que nós podemos interpretar é que houve excesso do uso da força, abuso do poder e violação dos cidadãos, é só isso, tudo o resto é manipulação, como já estamos habituados», referiu.
Para o político, a argumentação do governo não é aceitável e «é mais uma vez um exercício de manipulação da consciência dos angolanos». «Duas pequenas perguntas, se é rebelião armada por que é que nenhum dos indivíduos tinha armas, como é que é armada sem armas. As imagens que circularam de cidadãos mortos, nenhum deles tem uma arma ao lado, como é que é rebelião armada?», questionou.
«Se é rebelião armada de 300 pessoas, como é que não morreu nenhum polícia e nenhum militar, só morreram os cidadãos, portanto, é mais uma vez manipulação, porque todos nós conhecemos a natureza violenta do sistema, todos nós conhecemos as práticas das nossas forças de ordem pública e segurança, que, infelizmente, ao invés de proteger o cidadão vão contra o cidadão», acrescentou.
De acordo com Abel Chivukuvuku, o país «deveria ter vergonha do sadismo que demonstraram nas imagens», onde «até os feridos que estavam, no chão que tentaram levantar-se, levaram pontapés, tanta maldade para quê»?
Bloco Democrático e Mãos Livres também já se pronunciaram sobre Cafunfo. «Partilhamos a profunda dor que invade a Sociedade Angolana e, mais directamente, dor que arraza a estabilidade emocional das famílias enlutadas porque manifestantes foram vítimas da repressão que causou a morte de cidadãos angolanos», afirma num comunicado a “Mãos Livres”, Associação dos Juristas e Jornalistas na Defesa e Difusão dos Direitos Humanos e da Cidadania.
A associação considera «um autêntico matadouro» o que aconteceu na província da Lunda Norte. «A Comunidade Internacional acompanha o infortúnio e está indignada pela desmedida represália que acabou sendo autêntica chacina de cidadãos angolanos, na Vila de Cafunfo», acrescenta.
A “Mãos Livres” denuncia que a Cidadania Angolana «sobrevive à beira da extrema miséria» e que esta situação decorre há décadas «porque a governação menospreza o Bem-Estar reclamado pela Sociedade Angolana». «Logo, os resultados confundem-se com a generalizada desgraça que atrofia as aspirações de famílias residentes na citada Zona de Exploração Diamantífera».
A associação relembra que o Chefe de Estado, general João Lourenço,«orientou no sentido de serem evitados actos de violência e impedidas situações que causem morte» no seio da Sociedade Angolana.
«Lançamos um veemente repto para que (em Angola) chacinas não se repitam! Por tal razão, na condição de ‘Defensores do Bem Vida’, reiteramos o alerta: A Soberania do Estado Angolano só vale desde que a Justiça prime pela salvaguarda dos Direitos Humanos. Com profundo Sentimento de Pesar, às famílias enlutadas, endereçamos Condolências».
A Direcção do Bloco Democrático-BD e os seus militantes, foram a primeira organização política a tomar posição sobre Cafunfo afirmando, num comunicado, que «choca a consciência nacional e internacional, não podendo, por isso, deixar ninguém indiferente».
O partido acredita que «mais uma vez, o actual regime mostra a sua verdadeira essência, recorrendo às armas para calar as vozes discordantes». «Não é possível calar eternamente as reivindicações populares, quando elas assentam em pedidos de justiça», acrescenta.
Para o Bloco Democrático, o MPLA e «o regime que procura por todos os meios eternizar», são «os únicos responsáveis por este estado de coisas», defendendo que devem ser responsabilizados.
«Este verdadeiro “massacre” ficará para a história como mais uma das suas manchas. Exigimos responsabilidade criminal e responsabilidade política. Abaixo a repressão! Viva a liberdade de manifestacao! Solidariedade para com o povo sofredor da Lunda-Norte! Liberdade, Cidadania e Modernidade». *(Com agências)