O Movimento de União Nacional (MUN) é uma nova força no cenário político angolano em vias de legalização, porque a sua comissão instaladora ainda aguarda a confirmação do Tribunal Constitucional (TC) para que possa então entrar em acção com toda a plenitude. José Armando Gonçalves, membro e co-fundador desta força política, descreve em entrevista a este jornal, o que motivou a sua criação e afirma que o MUN não pretende ser apenas mais um “partideco” e sim uma verdadeira força motriz que vai fazer a diferença, respeitando as demais opiniões e fortalecer a união de todos os angolanos em prol da harmonia nacional, da estabilidade e da paz. ainda aguarda a decisão do TC para sua legalização, confirma que, desde a sua criação, o escopo do MUN circunscreve-se na união pela diferença de opiniões.
Acompanhe a conversa mantida com o repórter:
Victor Kavinda
Pergunta (P) – Como começa e em que se inspira o MUN?
José Armando Gonçalves (JAG) – O MUN tem origem no PIDA, projecto politico criado em 1997 pelo promotor Karl Sarney Manuel Mponda que, depois do processo entregue ao Tribunal Constitucional foi inviabilizado devido à palavra “deusista”.
Então, em 2002, viaja o promotor Karl Sarney Manuel Mponda para os Estados Unidos onde, em 2010, retoma as actividades antes deixadas pelo caminho e, desta vez, com uma nova roupagem: já não PIDA, mas MUN – Movimento de União Nacional. Sendo um projecto que já tinha estrutura, documentos, era apenas ajustar e começar logo com a mobilizaçao, aproveitando as vantagens tecnologicas (as redes sociais) para expansão da visão.
Assim, começamos a trabalhar neste novo processo que começou a atravessar fronteiras de forma espetacular. Tendo em conta a realidade que o País nos apresenta, como debilidades e insuficiências administrativas, começamos a trabalhar em várias áreas achadas convenientes e fazer estudos demograficos, sociológicos, psicológicos, políticos, para de forma activa e organizada nos fazermos sentir que somos parte da solução dos problemas criados pelos nossos mais velhos pertecentes ao MPLA, a UNITA e a FNLA.
Senão vejamos: desde os anos de 50 a 1975 que começaram a batalhar pela Independência do País, eternamente lhes somos gratos pelo esforço, sacrifício e, sobretudo, pelo sangue vertido, para que este feito se tornasse uma realidade. Mas é bem verdade que cometeram vários erros que hoje estamos a pagar todos de forma lastimável. Tudo porque não tiveram capacidade de encontrar soluções para resolverem os pontos divergentes que os separava. Deixaram-se levar, de um lado pela força e orgulho regionalista fortemente influenciado pela estrategia do colono, no sentido de dividir para melhor reinar e, associado a este mal, a força ideológica que dividia o mundo em dois blocos: de uma lado, os Estados Unidos e do outro lado, a União Soviética (Rússia), isto é, defendendo o capitalismo e o comunismo.
Os Movimentos que surgiram nessa época acima referenciados, passaram a ser defensores destes blocos, cujas consequências hoje todos pagamos. Logo, não tiveram capacidade suficiente de analisar a força influenciadora que os rodeava em detrimento da defesa do país que diziam defender e acabaram por vender quase todo País. Hoje, o angolano paga em troca da falha dos nossos mais velhos, muito caro, entre a fome, desemprego e más condições sociais, tudo porque temos que pagar as dívidas que fizeram ontem em defesa dos seus Movimentos que diziam ser do Povo. E hoje este povo padece com falta de quase tudo. Até o próprio funcionário público não tem esperança de vida, porque o seu salário não pode ser compatível devido às dívidas que o país fez ontem e continuam a fazer hoje. Outro mal, o regionalismo e o tribalismo fez com que os nossos mais velhos criassem 3 blocos: 1º bloco identificado por Bakongos, ligados à UPA – FNLA; 2º bloco Identificado por Ovimbundos, ligados à UNITA e o 3º bloco identificado por Kimbundus, ligados ao MPLA. Assim dividiram também o País em 3 blocos e cada um, defendia os seus interesses em nome da defesa do País.
E a pergunta que podemos fazer hoje é: Foi esta Angola que os nossos pais e avôs sonharam, defenderam e se debateram? Cheia de mosquitos, com falta de boa assistência médico – medicamentosa, atulhada de mendigo, de desempregados, esburacada?Acreditamos que não.
P – Qual a visão e que missão projecta o MUN?
JAG – O MUN tem uma visão e uma missão bem clara e expressa nas seguintes premissas: a) Repensar Angola e Devolver à Pátria a sua Grandeza; b) Tudo pela Pátria, nada contra a Pátria.
P – Com que liderança conta e em que ponto se encontra esta agremiação?
JAG – A nossa liderança é representada pelo Dr. Karl Sarney Manuel Mponda; neste momento agaurdamos o pronunciamento oficial do Tribunal Constitucional sobre o Processo da Comissão Instaladora que recentemente foi entregue nesta Instituição, a quem, atencipadamente, agradecemos profundamente a maneira como fomos tratados e considerados pelos quadros que representam o Departamento dos Partidos Politicos do Tribunal Constitucional. Os nossos parabéns pelo vosso profissionalismo e dedicaçao. Angola precisa de gente como vocês, dedicados e focados.
P – Como se regem?
JAG – O MUN tem órgãos bem assentes e definidos: Conferência, congresso e reuniões ordinárias e extraodrdinárias. Entre estes órgãos, o Congresso é o òrgão decisório para a definição da liderança e traçagem das linhas mestras de condução dos destinos do partido. Caberá ao presidente do partido e/ou ao presidente da Assmbleia Constituinte, convocar nos prazos estipulados pelos estatutos o Congresso, que poderá ser ordinário ou extraodinário, dependente das circunstâncias da sua convocação e dos assuntos a serem abordados nele.
P – Como está a relação com outros partidos políticos?
JAG – O MUN, desde a sua criação, o seu escopo circunscreve-se na união pela diferença de opiniões. Em 2017 tivemos a iniciativa de apresentar a todos os partidos politicos na oposição o documento denomindao “O Fim do Império do MPLA”, tendo este dossier sido entregue a todos os partidos da oposição com assento no Parlamento ( UNITA, FNLA, CASA-CE e PRS).
P – E qual foi a resposta destes partidos?
JAG – Manteram-se em silêncio. Passados 3 anos começamos a ouvir e ver movimentações dos que ontem nos responderam pelo silêncio a formarem uma “Frente Unida”; e fim do império está aonde?
No dossier nós descrevemos e apresentamos a importância de criarmos uma Frente Unida e que fosse dirigida por um representante, não importando de que partido viesse, mas que fosse consensual e que de forma organizada e unida pudessemos enfrentar o regime nas próximas eleições de 2022. Também a resposta para isso foi o silêncio. Então, falar da nossa relação com outros partidos nestes moldes fica difícil, mas nós estamos e continuamos de mãos abertas para todos. Nós não nos identificamos na “oposição” ou no “regime”, mas nos identificamos como sendo a “solução do País”, em resposta aos problemas que os 3 partidos (antigod movimentos de libertação) arranjaram e afunilaram o País. Então, seja com o regime ou com a oposição, todos são nossos parceiros. Afinal temos um ponto convergente: defender a Pátria.
P – Qual é o programa de governação do MUN e que mensagem vai apresentar aos cidadãos para as eleições de Agosto próximo?
JAG – O nosso programa é bem claro: defendemos o federalismo para o surgimento da “Nova Angola”, no sentido de valorizar todo terrtitorio nacional e o Angolano. Nós pensamos que não é preciso viajar de Caxito para Luanda para adquirir um sapato bonito e barato, uma sacola escolar em condições, todo território nacional deve entrar em concorrência económica, diversificada e harmónica, para que enfrentemos o mercado global de tu para tu e discutirmos de forma equilibrado os assuntos geo-políticos do Universo, sem equívocos, por termos tudo quanto Deus nos deu para sermos uma grande Nação sem continuarmos a submeter-nos a ordens alheias à nossa vontade.
Estamos preparados para as próximas eleições, desde que o Tribunal Constitucional nos dê o aval favorável. O MUN tem uma mensagem clara para Angola:”Repensar Angola e Devolver à Pátria a sua Grandeza”. Precisamos primeiro arrumar a casa, romper com as assimetrias politicas e criar transversalidade nas decisões e no modo de viver como donos da sua terra.
É preciso pararmos e repensar Angola, de modo que consigamos devolver à Pátria a sua grandeza. Este é o foco da nossa mensagem.
P – Já fez parte de um outro partido antes? Se sim, porque razão saiu?
JAG – O partido a que pertenço e do qual sou co-fundador chama-se MUN – Movimento de Uniãoi Nacional.
P – O que o levou a aderir à política?
JAG – Sou Filho de Antigos Combatentes; nasci e cresci sob o troar de canhões e tiros. Infelizmente, o que levou os meus pais a combater e defender esta Pátria não é o que esta Angola actual nos apresenta. Meu pai dizia-me: amanhã, quando esta guerra acabar, teremos uma Angola livre e sorridente, onde todos viverão em paz e em harmonia. Infelizmente temos hoje uma Angola contrária, onde a criança não sabe o que é verdadeiramente sorrir, onde a mulher angolana não sabe o que dar aos seus filhos ao pôr do sol e ao amanhecer do dia. O funcionário público recebe um salário em sistema de chapa ganho e ao mesmo tempo chapa gasto. Hoje temos uma Angola sem esperança de acordar com saúde. O pior, é que nos apresentam 3 Angolas: uma Angola da UNITA, do angolano que não tem direito e deve ser excluido; uma Angola do MPLA, que pode tudo, até matar um outro angolano e uma Angola do pacato cidadão, sem beira nem eira.
Então, pensando nisso, nos sentimos na obrigação de fazer política que é a única via que nos permite ajudar a influenciar os detentores do poder a prestar mais atenção aos problemas do povo e resolvê-los de forma pontual.
P- Que conselho deixa à população angolana concernente às eleições que se avizinham?
JAG – É tempo do povo acordar, levantar e andar, rumo à mudança de comportamento e atitude. Precisamos de forma una e indivísivel mudar o rumo da situação. O País está adoentado e precisa de cura urgente e o único médico para tratar a doença deste País é o povo sofredor que dia e noite sente a dor na pele. Então precisamos punir os que nos fazem sofrer e a sua punição deve manifestar-se nas urnas.
P – Se a UNITA ganha as eleições gerais não fará revanche ao MPLA?
JAG – Deixando o MPLA a governar devemos nos intertrogar: se depois de 40 anos não mudou, em 5 anos mudará o quê? Precisamos de uma nova força politica que tenha um novo paradigma político e que não fez parte dos conflitos que colocou o País à deriva. Um partido que verdadeiramente esteja lá para defender Angola e os Angolanos. Um partido que valorize os quadros angolanos independemente da crença e filiação política. Esse partido chama-se MUN – Movimento de União Nacional. Logo, em 2022, votar no MUN será o caminho certo para uma Angola de todos para todos os angolanos, que promete melhorar as condições sociais do povo e federalizar o país, onde cada cidadão se sentirá valorizado onde quer que se encontre no espaço nacional. Não lhe será necessario viajar para Luanda para ter internet, para ter um bom emprego e ter uma vida condigna. Bem haja o Angolano de Cabinda ao Cunene!
P – Para terminar, quem é José Armando Gonçalves e como pode ser entendido nas lides políticas?
JAG – José Armando Gonçalves, é filho de Gonçalves Ngongo e Cândida Jose Armando. Sou membro co-fundador do partido em formação MUN – Movimento de União Nacional, força partidária que, como se sabe, ainda aguarda pela sua legalização junto do Tribunal Constitucional (TC).
Nunca vesti a camisola de nenhum partido político, mas já prestei serviços ao governo. Estou engajado neste processo político desde 1997, que antes se denominou PIDA- Partido Independente Deusista de Angola, que por exigências legais não foi aprovado pelo Tribunal Constitucional por carregar uma nomenclatura que foi interpetrada como sendo religiosa devido à palavra “deusista”. Com a saída do promotor, conselheiro e orientador, Dr. Karl Sarney Manuel Mponda, para os Estados Unidos, reactivou-se o processo e, desta vez, já com um outro nome: MUN – Movimento de União Nacional. Mas foi um período difícil por interferência dos serviços de segurança do Estado na época, que estava por cima do lance, acompanhando todos os nossos passos e muitos que iniciaram connosco o processo PIDA, tiveram que abandonar por vários motivos. Infelizmente, eu e os outros, devido a este processo, tivemos que pagar caro: perseguição, detenções, destituição de cargos e funções e perda de emprego.