Início Política O caso de trapaceiros ‘condenados’ que em vez da prisão vão para casa em liberdade

O caso de trapaceiros ‘condenados’ que em vez da prisão vão para casa em liberdade

por Redação

Se fosse um cidadão comum, sem recursos avantajados, um «gatuno de galinhas» que fosse condenado e a sua defesa interponha recurso, seriam tratados da mesma forma? Esperariam o recurso em casa? Eis a questão que deixa «pulgas atrás da orelha» de analistas e cidadãos em geral, por causa dos casos de indivíduos próximos do poder, que lesaram gravemente o Estado, mas que, depois de ‘condenados’, lhes é permitido aguardar pelos recursos em casa e por muito tempo.

Este quadro da questão volta ao de cima e com destacado ênfase, devido ao facto de, nos últimos dias, o antigo ministro da Comunicação Social e ex-director do extinto Gabinete de Revitalização da Comunicação Institucional e Marketing da Administração (Grecima), Manuel Rabelais, e o seu assistente, Hilário Santos Alemão, depois de terem sido condenados a penas de prisão, aguardarem em liberdade o julgamento do recurso interposto pela defesa junto do plenário do Tribunal Supremo (TS).

Manuel Rabelais, também deputado do MPLA com mandato suspenso, foi condenado a 14 anos e seis meses e o seu assistente a 10 anos e seis meses, de prisão, pelos crimes de peculato e de branqueamento de capitais na gestão da instituição, que terá resultado num desfalque equivalente a mais de 117 milhões de dólares, em 2016 e 2017.

Segundo especialistas, os prazos para a decisão em segunda instância não são rigorosamente cumpridos em Angola e, entretanto, uma amnistia ou um indulto presidencial pode anular as penas aplicadas. Muitos recursos entregues a tribunais superiores nunca são analisados, deixando os condenados praticamente livres.

Para o advogado Salvador Freire, líder da organização ‘Mãos Livres’, falando à VOA, a suspensão das penas, decidida na segunda-feira pelo juiz, é um procedimento jurídico normal despido de qualquer interesse que, subjectivamente, possa ser entendido como visando favorecer os implicados.

O jurista diz não haver qualquer dualidade de critérios entre este processo e o que envolveu o também deputado e antigo ministro dos Transportes, Augusto Tomás, que antes do julgamento já se encontrava em situação de prisão preventiva. «São normas estabelecidas e não é que uns sejam melhores que outros», defende.

O jurista Pedro Capracata também diz concordar com o princípio judicial aplicado pelo TS, mas chama a atenção para o que qualifica de «processos de combate à corrupção que utilizam o jurídico para atingir fins políticos».

Na mesma esteira, a aguardar pelo julgamento do recurso estão também o ex-presidente do Fundo Soberano de Angola, José Filomeno dos Santos “Zenu”, e Valter Filipe, acusados do desvio de 500 milhões de dólares no conhecido «caso BNA».

O filho do ex-presidente de Angola, José Eduardo dos Santos, e o antigo governador do Banco Nacional de Angola foram condenados, em Agosto de 2020, a cinco e oito anos de prisão, respectivamente, pelo crime de burla por defraudação, na forma continuada e tráfico de influências. Até agora, o recurso não foi analisado e continuam em liberdade.

Enquanto isso, recorde-se que tem havido casos de indíviduos que lesaram o Estado e atiraram o país para o abismo da miséria que, condenados, ou a espera de julgamento, acabam por ser soltos ou se permite que viagem para o exterior, a pretexto de problemas de saúde.

Como tem sido largamente referido, recentemente houve o caso de Augusto Tomás a quem foi permitido sair da cadeia em que se encontrava a cumprir pena, porque, supostamente, foi infectado pela Covid-19, para ficar em quarentena na sua residência. Depois disso, nada mais se disse sobre a situação do ‘marimbondo’e cogita-se mesmo que tudo não passou de uma desculpa para o libertar.

Sublinhe-se que Augusto Tomás, ex-ministro dos Transportes, fora condenado a 14 anos de prisão. Entretanto, por alegada pressão partidária, ou seja do MPLA, a pena foi reduzida a 8 anos pelo Tribunal Supremo, que alegou irregularidades no processo. Contudo, desde o início do julgamento de Augusto Tomás, foram identificadas influências (pressões) políticas.

Segundo analistas, estas situações não acontecem por acaso «estão dentro de um plano que tem o objectivo de dar uma capa de credibilidade ao propalado combate à corrupção», depois de, no anterior julgamento envolvendo figuras do MPLA, o da chamada ‘burla tailandesa’, «terem sido ilibados, também por influências políticas, os principais mentores da falcatrua e o ex-porta-voz do partido, Norberto Garcia» que, posteriormente, ainda foi ‘premiado’ com a nomeação de director do GAPI.

Ainda de acordo com os analistas, em relação a tais procedimentos, «está a haver ‘dois pesos e duas medidas’, porque há indivíduos presos por pequenos delitos que, em caso de doença, não são libertados, nem vão para casa e, às vezes, nem recebem tratamento médico condigno e há casos de presos que morrem nas cadeias por isso. Entretanto há o Hospital – prisão, para atender casos de presos que estejam a padecer de alguma enfermidade», esclarecem.

Continuando, acrescentam que «no caso de Augusto Tomás ter sido infectado pela Covid-19, estando na cadeia, pressupõe-se que não tenha sido o único caso, e para isso há o protocolo sanitário definido pelas autoridades competentes, de acordo com o Regulamento Sanitário Internacional e com o Regulamento Sanitário Nacional, para esses casos. Não se compreende como é que um preso, condenado a pena superior, seja mandado para casa cumprir quarentena, porque a partir do momento que foi condenado, é criminoso, a contas com a lei e não tem direito a mordomias. Imagine-se o descalabro que seria, se todos presos que sejam acometidos por uma enfermidade forem mandados para casa para se curarem…», remataram com ironia! *(Com agências)

Poderá também achar interessante