O presidente do partido Movimento de União Nacional (MUN), Karl Manuel Sarney Mponda, afirma que o povo angolano é conhecido como um povo que pouco questiona, que acredita facilmente em promessas de algumas individualidades que, infelizmente, quando atingem os seus objectivos, pura e simplesmente dão “o dito pelo não dito”.
Victor Kavinda
É o caso, principalmente, não só de muitos políticos da nossa praça, mas também de diversos fazedores de opinião, analistas famosos, entre outras figuras públicas, que perdem-se no “calor da emoção”, prometem “mundos e fundos” e depois tombam no descrédito.
Vem isto a propósito da conferência de imprensa recentemente realizada em Luanda pelos partidos UNITA, Bloco Democrático (BD) e o projecto partidário PRA-JA, que afirmaram estar a trabalhar para relegar o MPLA para a oposição.
Para o líder do MUN «existe uma tendência, por parte de alguns cidadãos, uns com muitos benefícios, outros simplesmente fanáticos, para influenciar a opinião nacional de que têm condições reunidas para vencer o regime e que a oposição está junta, unida e que pela primeira vez arremessarão o MPLA para a oposição.
Em sua opinião, aquela visou simplesmente uma jogada política para confundir a mente dos angolanos, questionando a razão de Abel Chivukuvuku ter estado à mesa da conferência com a sigla do PRA-JA. «Qual é o impacto que o Abel gera na ‘estratégia’ da UNITA»?
«Quando Abel Chivukuvuku, em 2012, desvinculou-se da UNITA e criou a CASA-CE aliado a outros políticos, a acção foi vista dentro do ‘Galo Negro’ como uma acção de desfalque de votos na sua eterna tentativa de vencer o MPLA», disse.
Para Karl Mponda, «a UNITA aposta em tudo para vencer as eleições de 2022 e conhece a realidade do Abel que conseguiu ganhar espaço na arena política depois da sua saída da UNITA, tudo indica que o ‘chumbo’ do PRA-JA foi benéfico para a UNITA, pois, uma vez legalizado o PRA-JA, Abel jamais se sentaria a uma mesa tripartida. Nesta senda funcionou a estratégia da UNITA, mas Abel, por orgulho e pelos seus princípios, não pode regressar à UNITA de forma vulnerável sem reivindicar um grande estatuto. A UNITA soube usar politicamente bem o regresso de Abel, evidenciando a sigla PRA-JA, mesmo sabendo que este projecto de partido não possui status jurídico. Foi a única forma de consolar Abel e aproximá-lo novamente da UNITA. Por essa razão o distintivo do PRA-JA apareceu na mesa, uma vez que o importante é que o Abel traga toda sua turma para a UNITA».
Assim sendo, no que tange ao impacto presidencial, «será difícil para Abel Chivukuvuku trazer um impacto que catapulte à UNITA para a Presidência da República, se ele mesmo não for o ‘cabeça-de-lista’ e auto-signatário do ‘bilhete de passagem’. O único benefício de ter Abel de volta à UNITA , é trazer de volta os votos que ele mesmo levou em 2012. No entanto, não há certeza que estes votos levem a UNITA a vencer as eleições», sublinhou, acrescentando: «a ser assim volto a perguntar: o Abel entra neste jogo como quem? Como uma pessoa singular ou presidente dum projecto de partido ‘chumbado’»?
Quanto a Justino Pinto de Andrade e o seu Bloco Democrático (BD), «fazendo-se uma leitura rigorosa do quadro político angolano, a pergunta que ressoa deste quesito é: quais são as coordenadas geográficas do Bloco Democrático no tabuleiro do xadrez político do país? Qual é o impacto que o BD gera? Talvez Justino Pinto de Andrade seja uma pessoa sincera, mas a questão maior é saber a partir de que perspectiva o BD foi elevado no âmbito da ‘tripartida’, se não possui influência política capaz de mudar a tendência do eleitorado a nível nacional? Nunca concorreu às presidenciais, nunca teve assento parlamentar, pode-se considerar o PRS, a FNLA, acima do BD», alegou o presidente do MUN, Karl Manuel Sarney Mponda.
Em seu entender, na política da “estratégia” da UNITA, «o BD é o elo mais fraco e mais usado pela UNITA. Volto a perguntar novamente: se o BD não tem expressão política suficientemente forte para reverter o resultado das eleições a favor da UNITA, que quer chegar à Presidência da República a todo custo e controlar o Parlamento, porque hoje já se fala demagogicamente que ‘estas três figuras políticas’ podem levar o MPLA à oposição, a pergunta é: o que o BD traria a esta mesa? Nada, mas o BD foi a posição mais frágil nessa ‘estratégia’ da UNITA».
Isso tem a ver, disse o político, porque o BD já estava nas previsões de Chivukuvuku para constituir uma plataforma para participar nas próximas eleições. «A UNITA sabendo desta possibilidade, e querendo ao mesmo tempo que Abel regresse às suas fileiras para trazer com ele o que levou quando abandonou as fileiras da UNITA em 2012, foi preciso executar uma ‘jogada’ para impedi-lo de juntar-se ao BD».
«Como a UNITA quer a todo custo ter todos os votos a seu favor, não tem outra opção a não ser bloquear com urgência todas as possibilidades que Abel Chivukuvuku possui de candidatar-se em prejuizo da UNITA, como fez em 2012. Neste âmbito a única opção foi trazer o BD à tripartida, demostrar publicamente que o BD é ‘grande e imponente’ na estratégia para vencer o MPLA. Na realidade, o que a UNITA fez foi impedir Abel de candidatar-se pelo BD como ‘cabeça-de-lista’», elucidou.
Assim sendo, o líder do MUN considera maquiavélica «a forma como a UNITA consegue balançar o xadrez para manipular outras entidades políticas em seu próprio benefício e em detrimento do bem comum; porque se fosse para o bem de todos e do país, o encontro contaria com todos os Partidos da oposição e Abel seria um convidado especial sem exibir a sigla PRA-JA, porque a própria UNITA, que sonha ser governo, deveria ser o primeiro a respeitar as leis do Estado que os amnistiou».
Karl Mponda conclui que «o BD foi levado a fezer parte da ‘tripartida’ por uma simples razão: impedir Abel Chivukuvuku de candidatar-se. Esta é a razão do BD ser colocado à mesa apesar de não possuir expressão política ou capacidade de mudar uma vírgula sequer no xadrez político nas próximas eleições. Justino caiu na armadilha e Abel, mais uma vez, foi condenado e vetado. O PRA-JA acabou», rematou.