Início Política Jovens queriam exigir alternância política mas a políca impediu a manifestação

Jovens queriam exigir alternância política mas a políca impediu a manifestação

por Redação

A polícia angolana impediu uma manifestação de jovens activistas que pretendiam «exigir alternância política» em Angola, defronte ao Cemitério Santa Ana, em Luanda. Os manifestantes acusam a polícia de ter detido dezenas de pessoas e de ter alvejado duas. Os cerca de 30 activistas protestavam também contra a violência policial em Cafunfo quando a polícia, armada, interveio.

Os activistas concentraram-se às 10:00, no largo do Cemitério de Santa Ana, tendo a polícia angolana impedido, quinta-feira (04), uma manifestação de jovens activistas que pretendiam «exigir alternância política» em Angola.
No local, foi instalado um grande dispositivo policial com vários meios, incluindo brigada canina e cavalaria, e foram erguidas barricadas de pneus incendiados nas estradas, com os serviços de bombeiros chamados a extinguir o fogo.
Os propósitos e motivações desta marcha, que devia culminar a 100 metros do Palácio Presidencial, foram apresentados esta semana em conferência de imprensa, em Luanda, por um grupo de jovens activistas da denominada “Sociedade Civil Contestatária”. «45 Anos é muito, MPLA fora», é o lema da manifestação estava agendada para o dia 04 de Fevereiro, feriado nacional em Angola, em celebração do 60º aniversário do Dia do Início da Luta de Libertação Nacional.
«Entendemos que 45 anos de governação é muito tempo e, ao longo desse tempo, o MPLA quase nada fez, antes pelo contrário, piorou, com várias assimetrias sociais, brindou o povo com assassínios em série, com desemprego, com uma saúde e educação deficitárias, com a corrupção e outros males», afirmou na quarta-feira (03) o activista e um dos organizadores da marcha, Geraldo Dala.
Segundo o ativista, o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) «já não tem nada para dar para o país», considerando ser «um projecto político falhado em Angola cujo propósito dos seus dirigentes é apenas a manutenção no poder».
Geraldo Dala disse que esta é a segunda manifestação que o movimento organiza visando «despertar os angolanos» e, por outro lado, «mostrar que o povo quer alternância política», referindo que o protesto deve decorrer igualmente noutras províncias angolanas.
A activista Lili da Conceição garantiu, em declarações à Lusa, estar pronta para a manifestação, afirmando que «Angola é um país democrático e os cidadãos/activistas apenas querem o melhor para o país». «Somos jovens formados e desempregados, o aumento do nível de preços também é preocupante, o país está a ir de mal para o pior e ninguém faz nada», disse.
Os activistas concentraram-se às 10:00, no largo do cemitério de Santa Ana e pretendiam marchar até perto do Palácio Presidencial, na Cidade Alta, em Luanda. De acordo com o activista, o governo da província de Luanda foi informado sobre esta marcha.
A manifestação foi marcada para o mesmo dia do feriado nacional em Angola, 04 de Fevereiro, cujo acto central foi assinalado oficialmente na província do Bengo numa cerimónia sob o lema: «Preservar e Honrar a Memória dos Heróis da Pátria Angolana».

Polícia atacou com armas “de alto calibre”

Dezenas de pessoas que tentaram quinta-feira sair à rua para se manifestarem, mas foram impedidos pela polícia, falam na existência de pelo menos dois feridos e vários detidos, informação não confirmada pelas autoridades.
Segundo o activista Lourenço Dombolo, no momento em que 30 manifestantes chegaram ao local de concentração, pouco depois surgiu a polícia, que dispersou o grupo e deteve 20 pessoas, que foram deixadas na via expressa, um local bastante distante do sítio da manifestação.
«Mesmo assim não parámos, continuámos e concentrámo-nos no beco. Saímos do beco defronte ao comando provincial da Polícia, começámos com a nossa marcha, fomos até aos ‘Congolenses’, de forma pacífica. A PIR (Polícia de Intervenção Rápida) apareceu e começou a fazer tiros, começaram primeiro a lançar bombas de gás lacrimogénio e por fim tiros de balas reais», contou o manifestante.
Lourenço Dombolo referiu que enquanto não soltarem os detidos, os manifestantes vão permanecer na rua, acrescentando que dois activistas foram ‘baleados’. «Um está no Hospital Beiral e o outro no Américo Boavida. Infelizmente, não estamos a conseguir entrar em contacto, porque os números estão desligados», afirmou.
O manifestante salientou que além dos 20 detidos iniciais há mais pessoas que foram levadas pela polícia, mas não consegue dizer quantas, por estarem «todos dispersos».
O activista diz não perceber «como é que uma polícia aparece em frente a um grupo de manifestantes indefesos, com armas de todo o calibre». «A polícia trouxe material de alto calibre, quer dizer, estão a seguir a ordem do senhor Paulo de Almeida (Comandante-geral da Polícia Nacional), que devia ser um comandante da Polícia Republicana mas é comandante da Polícia do MPLA (partido no poder)», criticou.
Por sua vez, Nelson Bartolomeu disse que a data de quinta-feira foi escolhida para se manifestarem por ser «um dia de reflexão». «Faz 60 anos desde que lutamos pela libertação deste país e há 45 anos que a gente conseguiu, a nossa expectativa era chutar o colono (português) e entre nós, os irmãos, dar avante a um país, construir uma nação. O que se passa não é a construção de uma nação, o que se passa é que um grupo partidário governa o país a seu bel prazer», queixou-se.
O jovem manifestante acusou o partido no poder de privilegiar apenas os amigos e de não construírem «uma política de não inclusão».
«Extraem quem não é do partido, quem não é do partido não beneficia de nada, não tem privilégios, casa na centralidade, emprego, para muitas coisas tem que haver um cartão do partido», disse.
Já Salomão Inocente disse que o objectivo da manifestação é exigir que o MPLA saia do poder, que detém desde 1975. «Os manifestantes não têm armas, não têm objectos contundentes, mas a polícia está a reprimir. Já houve relatos no cemitério Santana que foram alvejados a tiro dois manos, isso está a nos deixar preocupados, já não queremos que aconteça conforme nos aconteceu lá em Cafunfo», frisou.
«O nosso objectivo é estar solidários com os manos em Cafunfo e não só, exigir os 45 anos do MPLA fora já do poder, que estamos cansados com esse regime», sublinhou.
Um forte aparato policial estava no local, sendo constituído por Polícia de Intervenção Rápida, motorizada, cavalaria, canina, da ordem pública e bombeiros, e igualmente visível no Largo da Independência, onde os manifestantes pretendiam chegar.
Em declarações à agência Lusa, o porta-voz do comando provincial de Luanda da Polícia Nacional, disse, ao início da tarde, que a situação «é estável e está controlada» e que pequenos grupos ainda se encontravam no local, sem confirmar o registo de feridos e detidos.
«Não tenho ainda dados exactos, um balanço feito, só depois poderei adiantar com mais dados, mas pelo que saiba até agora não me chegou ainda nenhum dado relativamente a detidos ou não. Vamos aguardar que o dia termine para se fazer um balanço», informou.
(In Lusa)

Poderá também achar interessante