Início Política José Eduardo dos Santos vai defender-se contra acusações de corrupção e poderá atingir altos quadros do MPLA

José Eduardo dos Santos vai defender-se contra acusações de corrupção e poderá atingir altos quadros do MPLA

por Redação

A notícia está a fazer sensação a diversos níveis, tanto internos como externos. O ex-Presidente angolano José Eduardo dos Santos quer provar inocência em tribunal e esclarecer as «zonas cinzentas» dos escândalos de corrupção, nomeadamente na Sonangol, em que o seu nome surge como alegado cérebro.

José Eduardo dos Santos está a preparar a sua defesa contra todas as acusações de envolvimento em actos de corrupção de que tem sido alvo em Angola, revelou recentemente o semanário português Expresso, que cita uma fonte do gabinete do antigo estadista.

O nome do ex-Presidente de Angola aparece numa lista de acusações, entre as quais de envolvimento da Suninvest, empresa ligada à Fundação José Eduardo dos Santos (FESA), no negócio que culminou com a apropriação alegadamente ilícita de terrenos nas encostas do Miramar, em Luanda, e com a construção, na mesma área, do Hotel Intercontinental, inaugurado no ano passado.

O semanário Expresso revela, numa das suas recentes edições, que na mesma lista consta a parceria estabelecida entre a petrolífera estatal angolana Sonangol e o grupo chinês China International Fund (CIF) liderado pelo empresário sino-britânico Sun Pa, detido em Pequim por suspeitas de desvio de avultados recursos chineses em vários negócios em Angola.

Depois das suspeitas de corrupção detectadas pela Procuradoria-Geral da República (PGR) de Angola, José Eduardo dos Santos deu a conhecer que vai provar a sua inocência em tribunal perante as acusações de que é alvo.

O analista João Paulo Batalha, consultor em políticas anti-corrupção, disse à DW África que as explicações que o antigo Presidente de Angola tiver que dar sobre os negócios serão muito úteis para se confrontar as suspeitas ao longo de muitos anos envolvendo não só o seu nome, mas também outros altos quadros do Governo e do MPLA e ajudar o país a virar a página de décadas de corrupção.

«Podem ter também a utilidade, eventualmente indesejada pelos actuais membros do Governo, de revelar responsabilidades de muitos outros quadros do MPLA (partido no poder em Angola), que continuam em posições de poder neste e noutros negócios», afirma.

De acordo com o Expresso, Eduardo dos Santos predispõe-se a prestar o seu depoimento por videoconferência na Embaixada de Angola em Espanha. Vai fazê-lo também para esclarecer as informações prestadas pelo ex-vice-Presidente Manuel Vicente, ao actual chefe de Estado,

João Lourenço, que o colocam como o principal responsável por algumas das maiores operações financeiras realizadas pela Sonangol, que terão lesado gravemente os interesses do Estado angolano.

O semanário dá conta, por outro lado, que o português Mário Leite Silva, antigo braço direito de Isabel dos Santos, está também contra o ex-vice-Presidente de Angola. Num extenso documento enviado à PGR de Angola e outras entidades em Portugal, Leite Silva «pôs a nu a engenharia financeira do envolvimento da Sonangol com a petrolífera americana Cobalt e a Nakasaki, liderada em simultâneo pelo próprio Manuel Vicente e integrada também pelos generais Hélder Vieira Dias ‘Kopelipa’, antigo chefe da Casa Militar, e Leopoldino Nascimento ‘Dino’, homem de mão de Eduardo dos Santos».

Celso Filipe, director adjunto do Jornal de Negócios e autor do livro «Poder Angolano em Portugal», não crê que José Eduardo dos Santos seja responsabilizado pelos crimes de que é acusado. «A resposta pertence ao domínio da futurologia», afirma em declarações à DW África.

«É impossível dizer se isso irá acontecer ou o contrário, se nunca irá acontecer. Todavia, esta possibilidade pode ser analisada de outra forma e não surge do nada. Ela surge num momento em que Isabel dos Santos, a filha de José Eduardo dos Santos, voltou à carga no ataque ao Governo de Angola com a entrega de escutas no Tribunal Superior de Londres para provar uma teoria de conspiração contra ela. E, portanto, parece que esta possibilidade é quase uma resposta das autoridades angolanas à iniciativa de Isabel dos Santos», conclui.

O analista considera ainda que a possibilidade significa que muito provavelmente estarão esgotadas quaisquer hipóteses de entendimento entre a família Dos Santos e o actual Governo angolano liderado por João Lourenço. «O que se configura é uma escalada do confronto entre a família Dos Santos, protagonizada sobretudo por Isabel dos Santos e João Lourenço».

«O desfecho desta contenda é incerto», considera Celso Filipe. No entanto, acrescenta: «o simples facto de João Lourenço estar no poder e gozar aparentemente cada vez mais simpatias internacionais coloca o actual Presidente de Angola numa posição de vantagem relativamente ao seu contentor».

Mas «a ida de José Eduardo dos Santos a tribunal seria má para Angola», acredita Celso Filipe. «Seria um corte radical com a História e seria também o fim de uma imagem que o próprio MPLA foi construindo do anterior Presidente como o responsável pela reconciliação nacional».

«Indo a tribunal, o MPLA destruiria essa imagem de reconciliador e de pacificador, de homem da paz, que em tempos não muito longínquos atribuiu a José Eduardo dos Santos», lembra o analista. Por isso, questiona: «Será mesmo que o MPLA quer destruir a imagem do seu antigo líder?».

Por seu lado, o fundador da Transparência e Integridade Portugal, João Paulo Batalha, defende o julgamento de José Eduardo dos Santos se se confirmarem os crimes de que é acusado. «Se houver, de facto, vontade da justiça angolana e abertura de José Eduardo dos Santos para pôr tudo em pratos limpos e revelar os contornos de vários destes negócios e de várias destas suspeitas, isso pode até ser o início de um tempo novo para Angola», considera.

«Se de facto houver um consenso dos responsáveis políticos e dos responsáveis judiciais para enfrentar de uma vez a corrupção que se acumulou naquele país ao longo de tantos anos e resgatar muito do dinheiro roubado ao longo deste tempo e aplicá-lo no desenvolvimento do país», conclui Batalha. *(In DW África)

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