Desde que chegou à Presidência que João Lourenço assumiu-se claramente contra a pessoa que lhe deu “de bandeja” o poder. Mal se viu nas vestes de Presidente da República começou logo a destilar todo o seu ódio contra José Eduardo dos Santos, chegando a pontos de contar a trajectória do MPLA, na conferência internacional organizada pelo partido, omitindo as décadas em que aquele o liderou.
Japer Kanambwa
História é história; e é feita com acontecimentos do passado. Sem passado não há presente e, consequentemente, não há história. Os cerca de 38 anos em que José Eduardo dos Santos liderou o MPLA e governou o país, mal ou bem, constam na memória coletiva do povo angolano assim como do mundo, e têm que constar na história. Tanto tempo não pode ser apagado apenas por capricho de alguém, seja quem for e quais as suas razões, sob pena de deturpar factos, acontecimentos e alterar a verdade sobre um povo, uma nação.
Se assim fôr, como se vai justificar, historicamente, a falta desse longo período de tempo às futuras gerações? O que saberão elas verdadeiramente sobre os acontecimentos do passado no seu país?
Hoje por hoje, pinta-se José Eduardo dos Santos como um “monstro” que destroçou o país. Porém, é preciso recordar a pesada herança que lhe foi entregue, pelo próprio MPLA, depois da morte de Agostinho Neto.
Dos Santos aguentou o regime que herdou em meio à guerra fria; enfrentou e contornou com serenidade as imposições soviético – cubanas; aguentou décadas de guerra civil e conseguiu, ante enormes pressões, manter a integridade territorial, a dignidade do povo angolano e chegar à paz. São fatos inegáveis e históricos.
Quanto aos erros da sua administração como Chefe de Estado, devem ser analisados num outro prisma, porque os que o acusam hoje, os detratores atuais, são os mesmos que o aconselhavam; são os mesmos que o induziam em erro; são os mesmos que o enganavam; são os mesmos que o bajulavam e, por trás, riam-se, roubavam, desmandavam e desgraçaram o país.
Nesse tempo, não houve quem discordasse com as políticas e decisões de José Eduardo dos Santos. Ninguém bateu na mesa e demitiu-se. O próprio Presidente João Lourenço sempre fez
parte das altas esferas político – militar, o que significa dizer que foi conivente com tudo o que aconteceu então.
Novas notas do Kwanza não vão melhorar a situação do país
Vem isto a propósito do lançamento das novas notas do kwanza, cuja figura de realce é a do primeiro Presidente angolano, Agostinho Neto, que entram em circulação a partir do próximo dia 30 de Julho do corrente ano.
O assunto já não é novidade. Porém, a população gostaria de saber melhor as razões que levaram a supressão da imagem de Dos Santos. Na opinião dos cidadãos, a figura de Neto está bem, mas não é o único herói de Angola digno desse realce e questionam: porque não se pensou também em outras figuras históricas, outros heróis da guerra de libertação nacional? A raínha Njinga Mbandi, rei Mandume, entre outros, não ficariam mal nas notas e seria, além de uma homenagem àqueles, uma maneira de valorizar muito mais a história de Angola.
O vice-governador do Banco Nacional de Angola (BNA), Tiago Dias, falando aos jornalistas no final da cerimónia oficial de lançamento da “nova família do Kwanza”, devia ter sido mais elegante e pedagógico quando, questionado sobre a eliminação da imagem de José Eduardo dos Santos, respondeu: “A imagem de João Lourenço também não está”!
Na mesma senda, a população questiona se a produção de tais notas era necessária no momento atual, considerando que o país tem enormes dificuldades económico-financeiras, a miséria e a fome estão a matar, o Executivo não tem soluções para acudir os cidadãos e o Estado foi gastar 30 milhões de dólares (26 milhões de euros) na produção das novas notas.
De acordo com alguns populares ouvidos pelo “24 Horas”, o Executivo não devia preocupar-se apenas com a aparência das notas e sim com o seu valor de mercado. “Mudar por mudar as notas na aparência, enquanto o seu valor baixa todos os dias foi apenas mais um gasto de recursos em vão.
O valor do nosso dinheiro é simplesmente miserável, porque para se obter até uma cesta básica de alimentos, gasta-se milhares de Kwanzas”, comentam os cidadãos, acrescentando: “Por isso, o Presidente João Lourenço e o seu Executivo não podem esperar aplausos”.