Vários bispos católicos angolanos denunciaram segunda-feira (01.02) o que consideram ter sido um «grave massacre» de manifestantes na localidade de Cafunfo, Lunda Norte, afectos ao Movimento do Protetorado da Lunda Tchokwe.
Nas redes sociais, vários bispos católicos angolanos que integram a Conferência Episcopal de Angola e São Tomé (CEAST) também condenaram as mortes dos manifestantes pela polícia.
As autoridades policiais alegam que mataram seis manifestantes que tentaram invadir uma esquadra em Cafunfo, enquanto o Movimento do Protetorado contraria essa versão acusando as forças policiais de terem disparado indiscriminadamente contra cidadãos desarmados, provocando 15 mortos e dez feridos.
O arcebispo de Saurimo, José Manuel Imbamba, que já foi o bispo da diocese onde se localiza Cafunfo, escreveu na rede social Facebook um «desabafo em voz alta», lamentando o sangue «derramado inutilmente» e questionando se havia necessidade para «tanta violência e desumanidade».
«Os problemas sociais, de miséria, exclusão e analfabetismo são mais do que evidentes nesta região leste. Em vez da política dos músculos, não seria mais sensato cultivarmos a política do diálogo para juntos resolvermos e vencermos as assimetrias sociais gritantes tão notórias?» – questionou.
O também vice-presidente da CEAST e responsável pela província eclesiástica que tutela a diocese do Dundo, diz estar «profundamente chocado e consternado» com o sucedido, esperando que a investigação seja «vigorosa e responsabilize os que agiram mal».
Já o bispo de Cabinda, Belmiro Chissengueti, na sua reacção sobre o «massacre» na Lunda Norte, afirmou, na sua conta oficial no Facebook, que o que se passou em Cafunfo «é muito grave», defendendo «investigações independentes para se responsabilizar publicamente os culpados».
«Este país é grande demais e nele cabemos todos. É muito rico, mas é preciso que se deixe de roubar e se distribua a riqueza mediante a diversificação da economia geradora de empregos. Não podemos continuar neste paradoxo que faz das zonas de exploração de riqueza verdadeiros pântanos de pobreza», aconselhou.
Por sua vez, o bispo da diocese do Moxico, leste de Angola, disse estar com o «coração a sangrar» devido à «violência inaudita de Cafunfo com toda a dose de agressão e morte, de desrespeito a vivos e defuntos».
Para Jesus Tirso Blanco, «nada pode justificar esse tipo de execuções sumárias sem crime cometido», escreveu o bispo na conta na rede social, considerando que, no passado sábado (30), «se abriram feridas profundas que não cicatrizarão facilmente».
Em declarações à Lusa, o bispo do Dundo, Estanislau Marques Chindekassi criticou a violência e recordou que o protesto tem raízes em problemas profundos por resolver.
«Claramente que é preocupante, quando há perda de vidas humanas, nos preocupa e lamentamos, mas a questão fundamental não é esta; esta é simplesmente uma manifestação de uma realidade mais profunda», afirmou.
A Lunda Norte é uma zona de grande implantação das autoridades tradicionais e tem existido uma tensão permanente entre estas e o poder central de Luanda.
Nesta segunda-feira (01), o bispo católico que tutela a região defendeu o «diálogo como princípio fundamental» para a resolução dos problemas, referindo que depois do 04 de Abril de 2002 (Dia da Paz e Reconciliação em Angola), «nenhum angolano mais iria morrer por causa das ideias que tem».
Segundo Estanislau Marques Chindekassi, a questão daquela região do leste de Angola «é muito mais complexa» e uma manifestação “não se resolve com violência nem de uma parte nem da outra».
Enquanto isso, o Executivo central angolano ainda não pronunciou sobre a lamentável situação, mas o comandante-geral da Polícia Nacional, Paulo de Almeida, visitou de emergência no domingo (31) aquela região, e garantiu um inquérito para se apurar responsabilidades.
O comissário-geral Paulo de Almeida está a trabalhar com o Comando Municipal «para se inteirar das reais motivações da ‘rebelião’ e as consequências» de tal acto. Pelo que foi divulgado, «estão detidos 16 manifestantes, cujos processos-crime estão em preparação e serão remetidos ao Ministério Público». (In Lusa)