Médicos expatriados enviaram carta ao Presidente João Lourenço reclamando os seus salários e pedindo a resolução do problema
Numa altura em que persiste o “braço-de-ferro” entre o Sindicato dos Médicos de Angola (SINMEA) e o Governo, dizendo este que não se vai processar os salários dos médicos que estiverem em greve e vai romper o vínculo com os mesmos, estando já a preparar “outras forças”, ou seja, novos médicos, supostamente estrangeiros, que serão “encaixados” lá “onde estiver em falta”, foi revelada uma situação melindrosa que deixa o Executivo embaraçado.
A situação tem a ver com centenas de médicos russos e ucranianos que trabalham em Angola e estão sem receber salários há dezenas de meses, tendo alguns deles endereçado uma carta ao Presidente João Lourenço apelando à resolução do problema.
Estima-se em cerca de 200 o total de médicos daqueles países do leste espalhados por 16 províncias de Angola.
Refira-se que o problema não está relacionado com a guerra na Ucrânia, pois o mesmo arrasta-se há muitos meses.
Os referidos médicos são contratados ao abrigo de determinados acordos, através de uma companhia, de que não se menciona qual e de onde, a quem o Governo angolano paga em moeda estrangeira, sendo a mesma que depois paga aos médicos estrangeiros.
Contudo, caso os pagamentos não sejam feitos à companhia contratada, ela não pode fazer os pagamentos aos médicos.
Desconhece-se, no entanto, os pormenores concretos do funcionamento dos acordos assinados pelo Governo angolano para o pagametno desses profissionais.
Assim sendo, no Huambo, os médicos disseram ter enviado uma nota ao Presidente João Lourenço, no passado dia 10 de Março, afirmando que o seu problema se arrasta há 30 meses e que a dívida ascende a diversos milhões de dólares.
“Estou aqui há quase três anos e não recebi ainda 29 meses de salários”, disse um dos médicos à Rádio Ecclesia, afirmando que os profissionais trabalharam “no tempo da Covid, não fugimos e trabalhamos”.
Outro médico disse que os expatriados estão agora obrigados a comer a comida que é entregue ao hospital. “Para mandar dinheiro para a família é muito difícil”, acresentou outro profissional.
Enquanto isso, na província de Malanje, as autoridades sanitárias estão também a ter dificuldades para pagar os salários aos médicos de nacionalidade russa há já alguns anos.
Um dos profissionais precisou à VOA, sem gravar entrevista, que vive em Malanje há vários anos e tem dificuldades sérias para garantir o sustento da família, com maior relevância para a compra de alimentos e o pagamento da propina escolar.
O Hopsital Reginal de Malanje, tal como muitos outros, está dependente de médicos estrangeiros, pois especialistas cubanos, russos e ucranianos constituem a maioria dos médicos do estabelecimento hospitalar local.
O novo director-geral daquela unidade, o médico Pedro Francisco Chagas, disse que “essa dependência às vezes causa-nos transtornos. Eles têm um sistema de férias que não obedece ao nosso calendário de férias, às vezes são férias colectivas, então, há momentos que tem um número suficiente de especialistas e há momentos que não tem”, lamentou.
“Neste momento temos três cirurgiões em gozo de férias, essa situação atrapalha um pouco o nosso trabalho”, disse o director.
Chagas acredita que a dependência estrangeira poderá reduzir nos próximos anos com o regresso dos médicos nacionais em cursos de especialização no país e no estrangeiro.
“Neste momento estamos a formar os nossos próprios especialistas, temos 21 médicos distribuídos em várias províncias a fazerem diversas especializações para reduzirmos está dependência”, concluiu. (Com agências)