Início Política Enquanto suposto “brigadeiro” Samora diz-se vítima de vingança, novo líder da Ascofa acusa-o de embusteiro

Enquanto suposto “brigadeiro” Samora diz-se vítima de vingança, novo líder da Ascofa acusa-o de embusteiro

por Redação

O ex-presidente da Associação de Apoio aos Combatentes das extintas Forças Armadas Populares de Libertação de Angola (FAPLA), António Fernando «Samora», considera que os pareceres administrativos e as decisões judiciais tomados no percurso do processo judicial que decorre contra a direcção que dirige, na sua visão, não têm sido respeitados

Domingos Kinguari

De acordo com informação prestada ao Jornal 24 Horas online pelo brigadeiro na reforma António Fernando «Samora», o processo está viciado, influenciado pelos factos e comportamentos de certas individualidades e empresários que se viram frustrados de fazerem da Ascofa um «testa – de – ferro», «face ao novo paradigma governativo que Angola vai vivendo. Existe tráfico de influência no processo judicial que está a decorrer no Tribunal provincial de Luanda, que está a favorecer o Caetano Marcolino e o seu grupo, que beneficiam de intervenções que já resultaram em apreensões injustas, não se observando as formalidades legais», acusa.

O oficial refere que os factos que marcam e maculam o funcionamento da direcção nacional da associação nesses últimos três anos, «muitas vezes, essa verdade é escamoteada e ofuscada com a intromissão de elementos e algumas figuras públicas, cujos fins e interesses estão distantes do alcance da nossa compreensão, mas que denotam uma sensação de vingança», disse.

Em sua opinião, a Ascofa é uma organização sem fins lucrativos, «mas é parceira do Executivo, pelo facto de ambas entidades coordenarem as suas acções no tratamento de matérias cujo objecto social são os ex-militares afectos às ex-FAPLA. A Ascofa possui uma única direcção nacional presidida por mim», garante.

António Fernando avança dizendo que foram feitas alterações das insígnias da associação, uma tarefa exclusiva da assembleia-geral. A manipulação da opinião pública foi a arma utilizada por este grupo de insurrectos insensíveis aos interesses dos combatentes das ex-FAPLA’s, acentuando o recrutamento de pessoas não ligadas à Ascofa.

António Fernando «Samora» acusa Caetano António Marcolino de estar protegido pelos empresários do consórcio ABC, com anuência de algumas entidades do Ministério Público, que utilizam os documentos em sua posse para o cometimento de diversos crimes, colocando em risco a segurança nacional.   

«Capitão Samora assambarcou o património da Ascofa para fins pessoais» 

O Jornal 24 Horas online esteve no dia 9 do mês em curso na sede da Ascofa para ouvir a versão do actual presidente daquela organização, Caetano António Marcolino. Este defendeu-se dizendo que, depois da assembleia-geral que o elegeu como líder para um mandato de cinco anos, não perde tempo em responder às acusações do ex-presidente da associação, destituído por más práticas, conforme consta no processo nº 71/2018 do DNIAP, com registo nº 07/2020, que corre os seus trâmites legais em sede do Tribunal provincial de Luanda, com o processo n.º 780/20-E da 6º secção da sala dos crimes comuns. 

Mas mesmos assim, por razões de contraditório, como refere a Lei de Imprensa e a Constituição da República, Caetano António Marcolino falou sobre as acusações que pesam sobre si, proferidas pelo ex-presidente, que são bastante graves.

«Temos documentos comprovativos que vêm da mais alta instância do país, dizendo que a direcção da Ascofa dirigida pelo Samora, recebeu setenta e três viaturas que seriam distribuídas para os membros de direcção das ex-FAPLA e para as cooperativas agrícolas com o fim de se fazer escoamento dos produtos produzidos pelos antigos militares. O resultado foram os desvios, e as mesmas estão nas mãos de pessoas que nada têm a ver com a organização. Ofereceu carros para as namoradas, amigos e filhos. Os carros que foram apreendidos, muitos foram vendidos e os compradores apresentaram documentos como se fossem funcionários da instituição», disse.

O interlocutor acrescentou que o documento proveniente da direcção de pessoal e quadros do Estado-Maior General das FAA, «confirmou-nos que António Fernando ‘Samora’, nunca foi promovido a oficial – general, ou seja, nunca tinha obtido o grau militar de brigadeiro das Forças Armadas Angolanas».

«Ele passou à reforma com a patente de capitão com o NIP 89403910. A patente que ostenta de brigadeiro é falsa; outra agravante enquanto líder da Ascofa, como podem ver foi assinando e autenticando documentos com o seu próprio punho com a patente de brigadeiro, como se a Ascofa fosse uma unidade militar e ele o comandante. Todo o militar passado à disponibilidade passam na condição de reformados ou reservistas; logo, a autenticação dos seus documentos, ou a sua assinatura, antecedem ao ex-presidente, o que não foi o caso do falso brigadeiro, que provamos em documentos que fazia-se passar por esta patente para se manter respeitado pelos inferiores», sublinhou.

Caetano Marcolino fez questão de explicar que a «Ascofa nunca foi uma unidade militar; Ascofa não é pertença de uma só pessoa, a Associação faz parte do conselho social entre outras estruturas e associações parceiras do Executivo e congregamos no nosso seio todas as classes, das quais ex-oficiais, sargentos, soldados, viúvas, órfãos, amigos associados e congêneres; logo, não discriminamos ninguém no nosso seio», assegura o actual presidente da Ascofa.

Referindo que a actual direcção da Ascofa é liderada por Caetano António Marcolino, confirma que António Fernando está a responder em tribunal e que já foi constituído arguido nos crimes de abuso de confiança em concurso com o crime de falsificação de documentos autênticos ou que fazem prova. 

Defende-se dizendo que António Fernando recebeu muitos apoios da Presidência da República, entre eles, o valor de oitenta milhões de Kwanza para apoiar o aniversário da Ascofa com kits de meios agrícolas. «Perguntem ao Samora qual foi o destino que deu a estes meios. A mesma instituição financiou, a favor da Ascofa, a compra de setenta e três viaturas, num valor total de quinhentos e quarenta e três milhões, vinte e cinco mil e cinquenta e seis Kwanzas, equivalentes a cinco milhões de USD. Recebeu as viaturas e as mesmas foram levadas para fora do controlo da Ascofa o que constitui descaminho dos apoios direcionados aos ex-militares relacionados com a nossa associação», contou. 

O líder associativo assinala que o acordo firmado com o consórcio Holding, versus BPC, que se estende a outros como o Ministério da Defesa Nacional e Veteranos da Pátria, emerge de um compromisso em apoiar os ex-militares das FAPLA, e por assim dizer, foi constituída uma cooperativa de táxis denominada «Coopetáxis».

No mesmo acordo, a Ascofa representada pelo falso brigadeiro, possuía trinta por cento do valor do capital social, enquanto que a ABC-Holding detinha setenta por cento. «A ‘coopetáxis’ recebeu da ABC-Holding 100 viaturas de marca Toyota, modelo Land Cruise Prado, e treze mini – autocarros de marca Hyundai, modelo H1, compradas com financiamento do BPC».

«Contudo, constatou-se que António Fernando ‘Samora’ deu destinos incertos à mais de trinta viaturas e sete delas foram parar no Luvo na RDC, fazendo negócio consigo mesmo em detrimento do colectivo e também do consórcio. Em função dos furtos, aquele consórcio manifestou o fim do contrato, que deveria beneficiar os associados, e não Samora e sua camarilha», revelou. 

Contou ainda que «aquele consorcio ficou agastado com a sua má conduta que violou de forma grave os princípios e objectivos que nortearam a nossa parceria, ficando o ABC sem saber o destino dado às viaturas e os reembolsos financeiros, tendo sido desrespeitado o contrato de forma abusada. Os valores dos contratos eram canalizados para contas alheias fora do estabelecido e incluiu nas folhas de salário da organização alguns familiares, com o único intuito de resolver os problemas financeiros daqueles. As residências não beneficiaram a organização mas as pessoas próximas a si», enfatizou.

Caetano Marcolino esclareceu que «em nenhum momento a Ascofa fez a gestão dos meios; simplesmente Samora deu-lhes destino incerto. Recebeu do Ministério das Finanças catorze milhões de Kwanzas para apoiar as infraestruturas da organização, desde a compra de uma sede, mas quantos ex-militares beneficiaram destes projectos? A Ascofa deve albergar civis, até na Casa de Segurança da Presidência da República existem pessoas que prestam os seus serviços na condição de civis. O que é pecaminoso é saber que este senhor elaborou no seu estatuto que podia ficar até a morte, e quem o poderia substituir seria um dos seus filhos, como se a organização fosse uma herança familiar, em prejuízo dos ex-militares que mais combateram por este país. Perguntem ao Sr. Samora quem são essas pessoas que ele colocou no estatuto da organização? », interrogou.

Aquele responsável confirma que realizaram uma assembleia de membros que teve a vontade expressa dos ex-militares. «Já não se inseriu aquilo que foi o sentimento de descontentamento prestado pelos associados, mas sim a necessidade de se organizar melhor a instituição. Dentro dos estatutos foi recomendado a realização de uma série de processos que deveriam culminar com a realização dessa assembleia. Samora foi destituído por deliberação dos membros e ainda assim foi convidado para fazer parte do processo de restruturação da Ascofa. Em nenhum momento ele aceitou prestar o seu contributo dentro da comissão de gestão. Funcionou durante noventa dias para tratarmos de assuntos correntes e preparar as acções em conformação da assembleia», lembra.

Esclarece, entretanto, que «as falcatruas orquestradas pelo falso general das Forças Armadas Angolanas na reforma foram remetidas ao Presidente da República, que nos respondeu com uma nota de 21 de Outubro de 2019, que tomou conhecimento dos novos órgãos estruturantes da nossa organização. Temos uma declaração que foi escrita aos 11 de Setembro de 2019 que decreta a nulidade e assinatura de quaisquer actos efectudos pelo arguido António Fernando ‘Samora’ na qualidade de legitimar a da organização que alberga os ex-militares das FAPLA», rematou.

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