Luanda é a terra de todos e que recebe de braços abertos os seus visitantes, e que muitos quando chegam já não aceitam regressar, esta cidade acabou de completar, recentemente, o seu 447º aniversário desde a sua fundação, pelo explorador português Paulo Dias de Novais. A cidade capital apresenta muitos problemas e para serem resolvidos, só mesmo com as autarquias, segundo os munícipes, e com a nomeação dos administradores não se vai poder contar com eles, porque muitos estão preocupados em não fazerem nada.
António André
O 24 Horas, palmeou as várias artérias da cidade de Luanda aonde se constatou que um dos graves problemas da cidade fundada pelo explorador português, Paulo Dias de Novais, e que chegou de baptizá-lo de São-Paulo de Assunção de Loanda, está muito longe daquilo que era o cartão de visita que era nos anos 80 e até princípios dos anos 90.
Alguns administradores municipais mesmo com as verbas que recebem estão preocupados em trabalhar para si, do que para o colectivo, por isso as várias críticas em muitos homens que representam o governador provincial de Luanda nos municípios.
Luanda já foi na década de sessenta, portanto na era colonial, uma das cidades mais lindas de África. Com boas políticas, e com governantes comprometidos, podemos fazer com que a nossa cidade tenha de novo brilho de outros tempos.
Podemos notar que o cartão de visita é o lixo, buracos em tudo quanto é canto, tubos de água rebentados, venda desordenada em qualquer esquina, posto de iluminação com lâmpadas fodidas e ninguém faz nada. A acumulação de lixo que é um problema de saúde pública, mas apesar dos pesar ainda temos esperança que essa situação se melhor.
O articulista nasceu, e cresceu num musseque de Luanda e ficava contente quando os meus pais lhe levavam a visitar a baixa da cidade, concretamente no Porto de Luanda, Ilha de Luanda, Chicala eram sítios mais lindos, agora não tem grande atração. Havia ainda centros comerciais muito frequentados por angolanos e turistas, como a área do mercado do São Paulo, que hoje tem muitas lixeiras, do Kinaxixi, dos Trapalhões, e tantos outros sítios históricos que hoje desapareceram, e só resta o nome.
Sou optimista e acredito que as nossas autoridades vão poder resolver os problemas graves da cidade capital, penso que os citadinos têm de colaborar com as autoridades, e para além disso é necessário que se implemente as coimas para disciplinar certos comportamentos inadequados.
CAPITAL SEM PULMÃO AMBIENTAL
A nossa reportagem conversou com alguns ‘’cotas’’ para nos falarem do passado e presente da cidade capital, Joaquim Adão Marreta, também conhecido nas lides militares de ‘’Telinhas’’, de 72 anos de idade, cidadão de Luanda, concretamente do município do Kilamba Kiaxi.
Nasceu no município de Icolo e Bengo, e veio para a chamada cidade grande, em 1965, e foi estudar na escola do São Domingos, pertencente a Igreja Católica e posteriormente foi transferido para antiga Liga Africana.
Conta que, o primeiro bairro a morar em Luanda foi no enigmático bairro Popular, hoje Neves Bendinha, no Anangola, e passados alguns anos da independência, por volta de dois ou três anos, muda-se para o bairro Golfe, aonde a sua mãe construiu uma casa de madeira no terreno de Fontes Pereira. ‘’Apareço no Golfe na mesma altura em que o falecido cantor Nick, para alguns Avó Kumbi, foi morar nesta zona. Havia muitos santomenses, cabo-verdianos, e foi nesta zona aonde conheci o finado cantor Camilo Domingos’’, recorda.
Afirma que nos anos oitenta e princípios da década de noventa, Luanda não tinha muitas quantidades de lixo, como se regista agora, ‘’porque os resíduos sólidos eram controlados pelas comissões de moradores, e que havia apoio por parte das administrações municipais e existia muitos colaboradores. Hoje as comissões de moradores são chamados apenas quando existe problema na comunidade e o seu papel é muito mais abrangente. Naquela altura o lixo era recolhido de porta em porta, e hoje já não se faz isso, e acho que ainda podemos adoptar esta pratica para se evitar a proliferação de lixeiras em qualquer esquina’’, lamenta.
Refere que, não se pode fazer uma comparação de Luanda de ontem e a de hoje, ‘’é totalmente diferente, porque antigamente havia pouca população. Hoje a nossa cidade duplicou, ou seja, vivem em Luanda cerca de quatro milhões de habitante, e a metade dos angolanos habitam na capital, e muitos que vieram por causa da guerra já não querem voltar, porque não encontram incentivo e desenvolvimento como existe na capital’’, enfatiza.
Esclarece que, as boas organizações que guarda de Luanda do antigamente, é a organização dos serviços sociais, ‘’todo funcionava, porque só havia três municípios, a destacar, Luanda, Viana e Cacuaco. Estes eram autônomos. Acho que deveríamos seguir os bons exemplo que o colono deixou. Esses municípios eram orçamentados. Hoje temos nove municípios e as dotações orçamentais são sempre ínfimos, e os dinheiros não chegam na hora certa para a execução dos projectos sociais. Temos esses municípios e que são orçamentados e vejam-se pouco trabalho por parte dos administradores’’, reclama.
Elucida que Luanda até a década noventa era uma cidade limpa, acolhedora, arborizada e bem organizada administrativamente, ‘’agora já não acontece. Existe muitas desorganizações nos serviços públicos, porque a fiscalização é pouco eficaz. Hoje não se vê o desempenho dos luandenses nas actividades em prol das suas zonas de residências, e não sei se é descontentamento ou não’’, refere.
Em relação ao desaparecimento dos espaços verdes, ‘’todo o pulmão ambiental da capital desapareceu. Estou a me referir da zona verde do Alvalade que já não tem muitas arvores e que anda abandonado, a floresta da Ilha de Luanda que virou um matagal e aonde é feita queimadas e sobre o olhar silencioso das autoridades. Fora disso Luanda já não tem zona verde, mesmo nas novas construções, não existe um pulmão de arvores para harmonizar o nosso oxigênio, por isso o grande aquecimento que se vivi’’, alerta.
Para além de ser desmobilizado das FAPLA, foi também hoteleiro, recorda que, foi um dos grandes incentivadores de plantação de arvores no Kilamba Kiaxi, ‘’em frente administração municipal, na zona da Igreja do Simão Toco, plantamos muitas acácias, aonde é que estão! – Estão a cortar em vez de podarem. Isso é um crime ambiental, praticado não sei por quem’’, deplora.
Na sua óptica, ‘’para haver melhoria em Luanda, deve-se melhorar a mobilidade de viaturas, ou seja, já é altura de se reparar as estradas terciárias, para se acabar com os engarrafamentos desnecessários. Por exemplo para se deslocar em Viana, existe apenas duas vias, uma que é a avenida Deolinda Rodrigues e a outra é pelo Benfica, sentido via expressa, isso não é bom, e existe muitas outras alternativas, isso seria um trabalho feito pelos administradores distritais e não os municípios, porque são eles que vivem o drama dos moradores’’, alerta.
INCUMPRIMENTO
Maria Mendonça, de 60 anos de idade, moradora do bairro Marçal, concretamente no centro de saúde do Zangado, esclarece que, nasceu na província do Kwanza –Norte, antiga Vila Salazar, veio para Luanda quando tinha onze anos, e foi viver em casa da sua madrinha para dar continuidade aos estudos. ‘’O primeiro bairro que vivi em Luanda foi no Marçal, e depois no Cazenga, no antigo Congo Pequeno’’, lembra.
Lamenta que Luanda se tornou numa cidade anarquista, onde cada um faz o que bem entende, porque as autoridades não fiscalizam as leis, ‘’o incumprimento das normas e regulamentos contribuem para agravar ainda mais os problemas. Tenho a convicção de que os problemas da capital serão apenas resolvidos com a implementação das autarquias, e com as nomeações dos administradores muitos deles não estão preocupados em melhorar as condições de vida das populações. Uma cidade como Luanda não sei se vai conseguir superar os problemas de uma cidade com mais de quatro milhões de habitantes’’, disse.
Refere que, ‘’os problemas de Luanda são complexos, mas se houver estreita colaboração entre os cidadãos e as autoridades, poderemos por exemplo ter uma capital livre do lixo, dos buracos na estrada, da falta de urinorios públicos, zonas verdes, locais de diversão quer para adultos e idosos’’, enfatiza.
LUANDA EM OBRAS
A cidade de Luanda, concretamente nos nove municípios, estão a beneficiar de dezenas de projectos no âmbito do Plano Integrado de Intervenção nos Municípios (PIIM), e continua a debater-se com a venda desordenada, estacionamento de viaturas em locais impróprios, construção anárquicas, o registo de actos de vandalismo de bens públicos e privados.
Com a execução dos projectos do PIIM, com a construção de escolas, centros e postos de saúde, reparação de estradas, que não obedecem os padrões da construção civil, que é a falta de drenagem, mesmo assim apontam para dias melhores quanto a oferta destes serviços.
QUE FUTURO PARA LUANDA?
Sem transportes públicos, aonde o candongueiro controla todo, e sem uma malha comercial digna desse nome, sem saneamento básico, com escassos mini mercados, sem cinema, sem teatro, nem sequer uma livraria Luanda já não tem, e a única é a Lusíada que não existe todo o tipo de livros, apenas os técnicos.
A baixa, sobretudo a sua parte central, a extensa avenida Rainha Njinga é a parte pobre da marginal, reconstruída e embelezada pela independência. Aí coexistem as classes mais altas e as mais baixas, como dois mundos intocáveis. A degradação dos vários edifícios coloniais, contraria com os arranhas –céus de vidro, que parecem enfeites numa Luanda que precisa de ar, de vento e de céu.
O futuro de Luanda é, pois, para nós uma incógnita, como uma equação simples, mas que se complica pela incompetência, pela corrupção transversal à sociedade. O que vai acontecer a tantos edifícios degradados do tempo colonial? – Como será a cidade de Luanda daqui a quinze anos? – O futuro a quem pertence? – Quem agarra Luanda com coragem e sem medo? – Os velhos, que ainda são bibliotecas vivas, estão em risco de extinção.
Em seu lugar, uma multidão dessincronizada de jovens, por enquanto jovens, imigrantes, vindos de todo o lado, que de Luanda só sabem que têm de ganhar o pão nosso de cada dia e, utopicamente, um emprego.
CIDADE CAPITAL PALCO DA MIGRAÇÃO INTERNA
Segundo o estudo do Instituto Nacional de Estatística, (INE), efectuada em 2022, intitulado, ‘’projecção da população da província de Luanda de 2014 a 2050’’, estima-se na capital vive a maior concentração da população que é de 9.079.811.
O estudo justifica que, para o cálculo das projecções da população para esse período, foram utilizadas, como principal fonte de dados, as informações recolhidas no recenseamento geral da população e habitação, Censo de 2014.
Revela que, Luanda tem estado em declínio na mortalidade infantil e infanto – juvenil e também no aumento da esperança de vida ao nascer. Por outro lado, os dados disponíveis mostram que a prevalência de VIH em mulheres grávidas é geralmente baixa e não há forte evidência de que esteja a aumentar, embora com alguma variação.
Enquanto que, o nível de fecundidade em Angola desde altura do estudo era ainda muito alto e, que ainda não existe nenhuma evidência de que a fertilidade esteja a diminuir, e este comportamento está relacionado a factos de prevalência do uso de métodos contraceptivos que ainda é baixa, o início da actividade sexual, do nascimento do primeiro filho e do primeiro casamento ser precoce, e ainda existir desejo por maior número de filhos.
Revela que, a taxa global de fecundidade de 2019 a 2024, vai reduzir em 0.125 filhos por mulher por ano na área urbana e 0.25 filhos por mulher por quinquénio na área rural de cada uma das dezoito províncias do país.
Os dados do Censo de 2014, mostram que pouco mais de meio milhão de angolanos mudaram de província nos últimos cinco anos, sendo cerca de 240 mil nos últimos doze meses, antes do recenseamento.
No entanto, segundo o documento que temos estado a citar, justifica que, o maior destino dos migrantes internos tem sido as áreas urbanas, sobretudo a província de Luanda. O padrão de migração interna anual manter-se-á nos próximos dez anos, até 2024 em todas as províncias, excepto o Bengo.