Novembro é o mês consagrado à independência de Angola e está no fim. Para fecharmos da melhor maneira conversamos com o vice – presidente do Sindicato Nacional dos Trabalhadores da Hotelaria e Turismo de Angola, Filipe Zua, que considera ter havido, desde 1975, desvio dos projectos governativos iniciados pelo Presidente Agostinho Neto
Domingos Kinguari
O sindicalista afirma que os desvios das directrizes de Neto têm a ver com a dignidade de vida que foi roubada aos antigos combatentes que deram o melhor de si para que os angolanos tivessem a independência política e económica.
“A falta de atenção aos antigos combatentes tem a ver com a alta corrupção que o país vive, com o nepotismo e tantos outros males que enfermam, nos últimos anos, a governação do MPLA, principalmente até 2017, que deve ser estirpada do nosso seio, tanto na governação como na sociedade”, alegou.
Quando do 11 de Novembro de 1975, explicou, tinha dez anos de idade. «Naquela data encontrava-me a 527 quilómetros de Luanda, ou seja, na província de Malanje, no município de Kalandula, sector de Ngumba a Senda, actual Santa Maria. O sentimento era de um bom ambiente, porque finalmente o colono português deveria abandonar o país», enfatiza.
Na sua óptica, a diferença entre 11 de Novembro de 1975 e 2021 «consiste no facto de que, no dia da independência, havia a expectativa do povo angolano em sair do jugo colonial com o fim de alcançar a liberdade que tantas vidas custou aos filhos desta pátria. Havia a esperança de que após a independência nacional os colonos teriam de abandonar o país e deixá-lo a quem pertencia», disse.
“Lembro-me que na véspera da proclamação da independência, no dia 10, precisamente, «fomos informados que surgiram confrontos entre o MPLA e a FNLA, porque este último queria impedir a proclamação da independência, o que nos obrigou a abandonar as residências e formamos barricadas de estilo controle. As mulheres e as crianças foram refugiar-se nas matas», recorda.
Quanto aos frutos da independência nacional, na sua óptica, «são vários os ganhos que o país obteve, entre eles posso enumerar a liberdade, o livre arbítrio de escolhermos os nossos destinos, a abolição da escravatura, o não pagamento de determinados impostos, o acesso a alguns serviços, estudos e outros privilégios que eram reservados simplesmente a pessoas de raça branca», disse.
Para o sindicalista, «não é verdade a afirmação de que no tempo do colono era melhor, isto, porque se perguntarmos às pessoas que viveram as agruras da colonização, a maioria dirá que a independência trouxe muitas inovações e muitas melhorias para a vida dos angolanos. Agora, houve desvios nos projectos governativos iniciados pelo Presidente Agostinho Neto, tais como a dignidade de vida roubada aos antigos combatentes, a corrupção, o nepotismo e tantos outros males que enfermam os últimos anos de governação do MPLA até 2017 e estão a ser combatidos pelo Presidente João Lourenço, embora de forma diferente da que muitos esperavam; aí sim, justificam-se as inquietações de muitos mais velhos», destacou.
Filipe Zua deixa uma mensagem de esperança para os jovens dizendo que, «para a juventude, não obstante a situação actual que atravessa o país por conta da escassez de emprego e da falta de encorajamento, os jovens devem elevar os marcos da independência que são os primordiais para cada sociedade, pois, não há presente sem passado, porque a história deve vincar-se com a passagem de testemunho para as gerações vindouras. Que Deus abençoe Angola», almejou.