O ‘braço de ferro’ entre Isabel dos Santos e o Presidente João Lourenço continua a mexer com a opinião pública interna e externa e a fazer manchetes em diversos órgãos de comunicação social e noticiários. Ao contrário do que se cogita, o assunto não pode ser minimizado e deve merecer uma atenção mais séria de quem de direito, porquanto é a imagem de Angola que está em jogo.
A este propósito, notícias apontam para a predisposição do líder da UNITA, Adalberto da Costa Júnior, preocupado com o nebuloso quadro, em promover o diálogo e mediar o conflito, considerando que Isabel dos Santos mantém a rota de colisão com João Lourenço e o seu pai, José Eduardo dos Santos, tem cada menos hipóteses de propiciar um entendimento.
As escutas entregues por Isabel dos Santos no Tribunal Superior de Londres, no âmbito do caso Unitel, através das quais pretende provar a existência de uma conspiração contra ela promovida pelo governo angolano, não deverão poder ser usadas como prova, mas produzem o efeito desejado, o de plantar a dúvida e disseminar suspeições.
Segundo um comunicado emitido em nome da empresária a 29 de Março, os ataques de que foi alvo «foram impulsionados não só por motivos políticos e financeiros, mas também como forma de distrair a opinião pública da corrupção e do suborno que assola o governo de João Lourenço, incluindo altos funcionários e a petrolífera estatal Sonangol».
Isabel dos Santos vitimiza-se e fere com gravidade a narrativa de João Lourenço, relativamente ao empenho do seu governo e do MPLA no combate à corrupção, criando incerteza na comunidade internacional.
Esta iniciativa permite extrair uma conclusão inequívoca. Isabel dos Santos mantém a intenção de continuar a ‘guerra’ com o governo angolano, esvaziando qualquer possibilidade de entendimento entre as partes desavindas.
Esta opção coloca o seu pai, José Eduardo dos Santos, numa situação difícil. O ex-Presidente angolano, mesmo que tivesse intenções de se reaproximar do seu sucessor, fica limitado pela estratégia da filha.
José Eduardo dos Santos continua em Dubai e está isolado, uma condição reforçada pelo facto de o seu principal conselheiro e homem de confiança, o general Leopoldino Fragoso do Nascimento ‘Dino’, se encontrar retido em Angola. Neste quadro, o antigo Presidente parece ter cada vez menos condições para assumir o papel de ‘conciliador’ e ‘fazedor de pontes’ que alguns lhe queriam atribuir.
Neste contexto de conflito, ganha especial relevo o conceito de tréguas promovido pelo líder da UNITA, em entrevista ao ‘Especial 360.º Podcast’ da Camunda News. Adalberto da Costa Júnior, questionado sobre a situação de Isabel dos Santos, afirmou ser preciso «olhar para o futuro», sublinhando que todos «os actores nacionais devem ser chamados».
«Devíamos procurar estes cidadãos angolanos e encontrar, através do diálogo, formas de resolver os problemas, atrair o retorno de capitais e a possibilidade de iniciativa de investimentos externos. E, sem dúvida, por via da transparência absoluta, encontrar respostas cde caráter geral a este problema (da corrupção). Não particularizo Isabel dos Santos. Tenho uma leitura abrangente para todos os assuntos através desta esfera», declarou o líder do Galo Negro (símbolo da UNITA).
Na prática, Adalberto da Costa Júnior diz que, com a UNITA no poder, o caso Isabel dos Santos seria tratado de forma diferente, privilegiando a aproximação em detrimento do antagonismo. Tratando-se de uma iniciativa ampla, constitui também um expressivo piscar de olho aos que se sentem perseguidos pelo actual governo e a um convite a cisões no MPLA. Adalberto da Costa Júnior, para chegar ao poder, precisa do apoio de quem já lá esteve. Daí este discurso inclusivo. *(Com agências)