Início Política Bónus de Natal: Deputados angolanos não passam de uma cambada de abutres carniceiros

Bónus de Natal: Deputados angolanos não passam de uma cambada de abutres carniceiros

por Redação

A notícia “explodiu” e fez mais estragos que uma bomba. Passado o primeiro momento de estupefacção, o assunto continua a irritar os cidadãos e a ser motivo dos mais jocosos comentários e insultos aos deputados, que agora estão a ser chamados de “abutres”.

Japer Kanambwa

Tudo tem a ver com os anunciados 4 milhões de kwanzas de bônus de Natal para Nandó e os deputados, relativos à quadra festiva.
Foi amplamente divulgado que o Parlamento angolano decidiu que o presidente da Assembleia Nacional, Fernando da Piedade “Nandó”, e todos os deputados com assentos, usufruirão de um bônus natalício de quase quatro milhões de kwanzas retirados do fundo do país para fazer equivalência aos salários que os mesmos recebem.
A resolução 43/20 assinada por Nandó é baseada no cálculo em 1,9 do índice multiplicador sobre o salário ilíquido do deputado sem cargo, para o bônus de Natal. Sob este pressuposto, os deputados receberão, além do salário, mais 3.832.190,59 Kzs, que se juntam aos 14 salários anuais, visto que todos recebem subsídio de férias e 13º mês.
Com um salário base mensal do deputado sem cargo de 547.311,01 kzs, será acrescentado o somatório dos subsídios mensais (exceptuando o subsídio de cargo) e 1/12 avos dos subsídios de férias e de Natal, o que totaliza 2.016.942,42 kzs, multiplicado por 1,9 vezes o valor de rendimento médio mensal, o que corresponde a 3.832.190,59 Kzs de bônus de Natal.
Se multiplicado este valor pelos 220 deputados da Assembleia Nacional, o estado angolano terá uma despesa de 880 milhões de kwanzas com o bónus de Natal, o que equivale a mais de um 1,2 milhões de dólares norte-americanos.
Estas contas deixaram alarmada e bastante agastada a sociedade em geral, considerando o momento crítico que se vive no país, a crise em todos sentidos que assola os cidadãos e as próprias instituições públicas, como falta de medicamentos na maioria das unidades hospitalares pelo país, o encarecimento diário da cesta básica, o alto preço dos testes da Covid-19, a carência de materiais de bio-segurança, em muitos casos até o simples sabão não existe, em muitas comunidades não há água potável, crianças morrem de fome, entre variadíssimas outras carências, «mas há dinheiro para “abutres” que se dizem representantes do povo, esbanjar na quadra festiva».
O que mais espanta, é que os tais deputados, principalmente os da dita “oposição”, não tugiram nem mugiram ante tamanha aberração, ou seja, seria aberração se fossem realmente “representantes do povo” e se Angola não estivesse transformada «num corpo inerte onde cada abutre debica o seu bocado».
Recentemente, um analista disse que, em Angola, não há partidos da oposição. O que há são partidos da situação e de conveniências que apenas satisfazem os seus interesses. Os discursos só surgem quando o partido no poder fica com o saque todo. Mas, quando apanham migalhas desse saque, tudo é um “mar de rosas”; o país é um “paraíso”; deputado é para ter os bolsos cheios, o que conta é a sua família, os problemas do povo não têm pressa, é para se ir resolvendo!
Quando Agostinho Neto, num dos seus históricos discursos, afirmou, no âmbito da conjuntura internacional, que «Angola é um corpo inerte onde cada abutre debica o seu bocado”, apelava aos angolanos para que defendessem a sua Pátria e não permitissem nunca que tais “abutres” (os estrangeiros), tranformassem o país na sua «apetecível carniça», sugando as riquezas nacionais em detrimento dos angolanos.
Pobre Agostinho Neto, se soubesse que as suas previsões materializaram-se, mas de uma forma contrária, pois, hoje por hoje, os “abutres” são alguns filhos da terra, ávidos de poder e riqueza, que não honram a sua condição humana, tranformados em canibais que matam e comem os seus próprios irmãos e vendem a sua Pátria ao desbarato, sem pensar nas consequências dos seus ignóbeis actos para as novas gerações.
Mais que agastados, os angolanos estão tristes, porque compreendem que, em vez de “representantes do povo”, os que estão na Assembleia Nacional, independentemente das cores partidárias e dos discursos contraditórios, são apenas os seus algozes. Uma cambada de “abutres” insaciáveis que quanto mais comem, mais querem.
Quantas famílias estão a padecer, quantas pessoas não têm o que comer e vestir, quantas crianças definham todos os dias com fome e com falta de tudo, quanta miséria anda à solta pelas ruas e becos de todo o país, quanta gente espera por um gesto solidário e quem devia liderar o apoio a todos, só pensa na sua própria barriga e esquece-se do povo e dos seus eleitores.
Já se fala em campanhas eleitorais e, daqui a pouco, esse povo cujos problemas não têm «pressa para serem resolvidos», já será importante para votar, depois volta a ser “lixo”!
Qual foi o deputado, de qualquer partido, que propôs, ao menos, que juntassem um pouco dos tais “bónus”, sejam de quatro ou de um, milhões, para organizar uma doação de cestas básicas aos cidadãos carentes e/ou um “Natal solidário” para crianças? Nenhum!
Depois da bomba ter “explodido”, com todos estragos que fez, em jeito de “mea culpa”, o Grupo Parlamentar do MPLA desmentiu que os deputados irão receber um bónus de Natal no valor de quatro milhões de kwanzas.
Para justificar, numa nota, referiu que houve uma «má leitura e interpretação da Resolução 43/20 de 3 de Dezembro, porque «em momento algum a resolução faz referência ao aumento de valores».
Entre várias explicações, consideradas pouco convicentes, afirma que «o bónus a que os deputados teriam direito corresponde a 1.039.300 Kz».
«A bancada parlamentar está consciente do momento económico-financeiro que o país está a atravessar e solidariza-se com a austeridade e gestão parcimoniosa que o Titular do Poder Executivo está a imprimir. Aliás, o Executivo não tem verbas para atender tal valor. Portanto, tudo o resto é falso, tendencioso e de má fé», remata.
Enquanto isso, determinados deputados da dita “oposição”, fizeram-se despercebidos e mostraram-se mesmo admirados sobre a alegada resolução aprovada pela Assembleia Nacional de Angola que lhes dá bónus de aproximadamente 4 milhões de kwanzas para cobrir as suas despesas durante as festas de Natal e fim de ano.
É caso para dizer: «É preciso ter mesmo cara de pau»!!!

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