9O Movimento do Protetorado da Lunda Tchokwe assegura não ter qualquer responsabilidade nos acontecimentos de sábado (30) em Cafunfo e coloca-a nas autoridades.
O Movimento do Protetorado da Lunda Tchokwe assegurou segunda-feira (01.02) não ter armas nem exército e declinou qualquer responsabilidade nos acontecimentos de sábado (31) em Cafunfo, que «ceifaram vidas inocentes», os quais atribuiu às «autoridades do Governo, sobretudo da Polícia Nacional».
Segundo a polícia, seis pessoas (outras fontes referem-se a 15 mortos) que integravam um grupo de 300 elementos ligados ao Movimento do Protetorado Lunda Tchokwe foram mortas na sequência de um alegado «ato de rebelião» quando tentavam invadir uma esquadra, em Cafunfo.
Num comunicado divulgado através da rede social Facebook, o Movimento do Protetorado da Lunda Tchokwe recusa o epíteto de «rebelião armada» e condena «o acto bárbaro perpetrado por agentes das forças de defesa e segurança, contra populações indefesas» na manifestação de sábado.
Uma manifestação que, segundo o movimento, procurava apenas exprimir a vontade dos participantes em ver «os problemas das suas comunidades resolvidos e lamentar a falta de humanismo, que deveria caracterizar os agentes da autoridade do Estado».
Neste comunicado, o movimento conta que, na terça-feira passada, recebeu uma denúncia sobre «o plano das autoridades competentes de inviabilizar a manifestação do dia 30».
Esse alegado plano incluiria, segundo o comunicado, «preparar catanas e machados, rasgar a bandeira da República e arranjar notas de Kwanza falsas, com camisolas do Movimento em posse da Polícia do Cuango, que havia extraído em 2015, para aqueles que forem detidos serem acusados como provas de crime na manifestação».
Terá sido criado, segundo se lê na nota, «por um grupo de manifestantes afectos à JMPLA e outros meliantes”, os quais terão sido pagos para «criar vandalismo» a ser imputado aos activistas do protetorado da Lunda Tchokwe detidos no dia da manifestação.
O Movimento do Protetorado da Lunda Tchokwe exorta a comunidade nacional e internacional a levar em conta «o problema dos assassinatos de Cafunfo» que «são de longa data, protagonizados na sua maior parte pelos agentes da ordem e pelos agentes de segurança de empresas mineiras».
O Movimento do Protetorado da Lunda Tchokwe luta pela autonomia da região das Lundas e do Leste de Angola.
A autonomia da região das Lundas (Lunda Norte e Lunda Sul, no leste angolano), rica em diamantes, é reivindicada por um movimento que se baseia num Acordo de Protetorado celebrado entre nativos da Lunda-Tchokwe e Portugal nos anos 1885 e 1894, que daria ao território um estatuto internacionalmente reconhecido.
Portugal terá ignorado a condição do reino quando negociou a independência de Angola entre 1974/1975 apenas com os movimentos de libertação, segundo o movimento.
Oposição angolana condena
Partidos da oposição exigem um inquérito parlamentar sobre os incidentes de sábado (30.01), em Cafunfo, província da Lunda Norte, que provocaram um número indeterminado de mortos. A Polícia Nacional alega que criou comissão de inquérito.
Segundo a versão policial divulgada inicialmente, quatro pessoas num grupo de 300 elementos ligados ao Movimento do Protetorado Lunda Tchokwe (MPLT), protagonizaram um alegado «acto de rebelião» e morreram ao tentar invadir uma esquadra na madrugada de sábado. Porém, no domingo (31), a Polícia Nacional já falou em seis mortos.
Contudo, a versão é contrariada por activistas, segundo os quais as forças de segurança angolanas dispararam indiscriminadamente contra os manifestantes desarmados. O presidente do MPLT, José Mateus Zecamutchima disse à agência de notícias Lusa que 15 pessoas morreram e dez ficaram feridas, incluindo uma criança.
Num comunicado divulgado no sábado à noite, o Secretariado Executivo do Comité Permanente do partido UNITA condenou «com veemência o acto bárbaro perpetrado por agentes das forças de defesa e segurança, contra populações indefesas, que procuravam apenas exprimir a sua vontade de ver os problemas das suas comunidades resolvidos».
No mesmo documento, o maior partido da oposição angolana manifesta perplexidade face ao conteúdo do comunicado emitido pelo Comando da Polícia Nacional na Lunda Norte, cujas informações «começam a ser desmentidas no terreno».
A UNITA salienta o balanço provisório que dá conta de cerca de quinze mortos e dez feridos e manifesta «repulsa e profunda indignação» perante «as imagens horrendas, com corpos de seis cidadãos, expostos em hasta pública, ensanguentados e com indícios de fuzilamento e um agente da Polícia Nacional a torturar um ferido que se encontrava entre os mortos», lamentando o uso desproporcional da violência em tempo de paz.
Na mesma esteira, o Colégio Presidencial da Convergência Ampla de Salvação de Angola — Coligação Eleitoral (CASA-CE), terceira força parlamentar angolana, reagiu com «incontida preocupação» às denúncias de buscas e assassinatos de vários activistas da Lunda Norte.
A CASA-CE destaca a «gravidade das denúncias, suportados por conteúdos audiovisuais, que reportam episódios de autêntica selvajaria à moda primitiva» com cidadãos «gravemente feridos» expostos a humilhação e carentes de assistência médica, sob custódia de agentes da Polícia Nacional e das Forças Armadas Angolanas.
A CASA-CE insta as autoridades angolanas a instaurar um inquérito no sentido de apurar a verdade das denúncias e, caso se confirmem, responsabilizar civil e criminalmente os seus autores.
Apela ainda ao poder legislativo para agendar «com carácter de urgência, o debate parlamentar sobre o exercício dos direitos de cidadania em Angola» e encoraja o povo Lunda a manter a serenidade.
O Bloco Democrático, força que integra a CASA-CE, lamentou o massacre de cidadãos «que exerciam o direito a manifestação», um «acto que choca a consciência nacional» e em que o actual regime «mostra a sua verdadeira essência, recorrendo às armas para calar as vozes discordantes», como já tem acontecido nas manifestações realizadas pela juventude em Luanda e em outros pontos do país. *(Com agências)