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Moçambique: Tráfico de seres humanos com proporções assustadoras

por Redação

Assinalaouse na quinta-feira, 30 de Julho, o Dia Mundial do Combate ao Tráfico de Pessoas. A província de Inhambane, Moçambique, serve de corredor a traficantes que levam as vítimas para a África do Sul.

Inhambane tem servido de rota a muitos traficantes de seres humanos. Usam a província como plataforma para chegarem aos países vizinhos. Muitas das vítimas são usadas na prostituição ou para trabalhar em minas ou explorações agrícolas.
Arnaldo Osmar conta que a sua neta foi roubada ainda bebé, com apenas três meses e foi encontrada mais tarde, com quatro anos de idade, na África do Sul.
“Apareceu uma menina, que era amiga da minha filha mais velha. Ela pediu a criança e colocou-a no colo para ir fazer compras na cidade. De lá, ela sumiu. Depois de uma semana, ligou aquela gente da África do Sul a dizer que a criança estava lá”, explica Osmar.
A sua neta tem agora cinco anos. No próximo ano, deverá ingressar na escola.
É difícil obter estatísticas recentes sobre o número de casos de tráfico de seres humanos em Moçambique. As autoridades não revelam dados. No entanto, em 2018, a Procuradoria-Geral da República anunciou que o país regista cerca de mil casos de tráfico de pessoas por ano.
Um relatório do Departamento de Estado norte-americano, relativo a 2019, refere que o Governo moçambicano ainda “não cumpre plenamente os padrões mínimos” para eliminar o tráfico de seres humanos, embora esteja a fazer “esforços significativos” nesse sentido.
Em Inhambane, José Manuel Cutana, procurador do Ministério Público e coordenador provincial do combate ao tráfico de seres humanos, está preocupado com o fato de a província continua a servir de corredor para criminosos:
“Ao nível da província de Inhambane é sabido que estamos no corredor e transitam por aqui pessoas de várias proveniências”, diz.
José Manuel Cutana assegura, no entanto, que está a decorrer um trabalho nos distritos, junto à população, para alertar para o problema: “Alertar, educar e sensibilizar para as várias formas como esse fenómeno pode aparecer e, sobretudo, como pode-se evitar que este fenómeno lhes afete”, explica.
Entre as vítimas dos traficantes estão pessoas com albinismo, que são raptadas e assassinadas, sendo parte dos seus corpos usados por curandeiros que acreditam nos seus supostos poderes mágicos.
Hugo Neves Firmino, coordenador da associação “Amor a Vida”, vocacionada na proteção das pessoas com albinismo em Inhambane, diz que é preciso ir à raiz do problema e penalizar duramente os traficantes e os seus mandantes, deixando bem claro que o crime não compensa.
“É preciso que se reforce todas medidas para proteger as pessoas, não só ao nível da comunidade, mas também o Estado. É preciso que se penalize toda e qualquer pessoa envolvida no tráfico. Muitas vezes, as pessoas que estão por detrás são curandeiros”, salienta Firmino.
Bernardo Carlos, presidente da Associação dos Médicos Tradicionais de Moçambique (AMETRAMO), distancia-se firmemente dos curandeiros envolvidos no tráfico de pessoas ou de órgãos humanos.
“Não existe nada num órgão humano que possa fazer qualquer coisa para alguém ficar rico. A população deve ficar atenta porque existem muitos curandeiros falsos.”

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