Angola está a acompanhar com preocupação os desenvolvimentos sobre a situação política, de segurança e humanitária que afectam a população da República Centro Africana (RCA) e as ameaças à realização das eleições presidenciais.
O chefe da diplomacia angolana, Téte António, discursou em representação do Presidente de Angola, João Lourenço, expressando na cimeira extraordinária virtual da conferência dos chefes de Estado e de Governo da Comunidade Económica dos Estados de África Central (CEEAC) a posição de Angola.
Angola reiterou, no sábado (26), o seu apoio total às instituições legítimas da República Centro-Africana (RCA), acompanhando «com muita preocupação» os últimos desenvolvimentos sobre a situação política e de segurança.
Téte António frisou que a cimeira foi realizada num momento «muito difícil» para o povo da RCA, devido às ameaças à paz e segurança, provocadas pelos novos ataques de grupos armados.
O ministro angolano das Relações Exteriores lançou um apelo à vontade colectiva da comunidade internacional, continental e regional, para que se solidarize com a situação actual da RCA.
Segundo Téte António, Angola acompanha com muita preocupação os últimos desenvolvimentos sobre a situação política, de segurança e humanitária que afectam a população civil e as ameaças à realização das eleições presidenciais e legislativas previstas para domingo.
«Exortamos todos os actores políticos para cessarem todas as hostilidades urgentemente, e a trabalharem em conjunto para garantir as condições favoráveis à realização de eleições credíveis, inclusivas, pacíficas e transparentes no dia 27 de Dezembro de 2020”, referiu o governante angolano.
O chefe da diplomacia angolana reiterou que «as eleições continuam a ser a única via legítima de acesso ao poder em conformidade com a Constituição da RCA e com as normas e princípios internacionais, continentais e regionais».
Angola exortou ainda as partes para que resolvam qualquer diferendo de forma pacífica, no interesse do povo centro-africano, «que sofre há muito tempo devido ao conflito e instabilidade».
«Apelamos, assim, à calma e à contenção da população e dos actores políticos, no sentido de trabalharem para a plena implementação do Acordo Político para a Paz e a Reconciliação (APPR-RCA), com vista a garantir ao povo centro-africano o seu direito soberano ao voto», disse.
Na qualidade de presidente da Conferência Internacional da Região dos Grandes Lagos, Angola apoia a CEEAC e a Missão Multidimensional integrada das Nações Unidas para a Estabilização da República Centro Africana (MINUSCA), bem como os demais parceiros da RCA, no âmbito da cooperação bilateral e multilateral no sentido de encontrar uma saída imediata do conflito e garantir a realização das eleições neste país, nos prazos constitucionalmente estabelecidos.
Enquanto isso, os cidadãos da RCA compareceram, domingo (27), em grande número, às eleições presidenciais e legislativas, apesar de os rebeldes abrirem fogo em algumas áreas para tentar assustar os eleitores, afirmou, ontem, o chefe da missão da ONU, citado pela AFP.
Grupos rebeldes hostis ao Presidente Faustin-Archange Touadera, que espera um segundo mandato, haviam ameaçado marchar para a capital Bangui e atrapalhar a eleição, após o Tribunal Constitucional ter rejeitado, no início deste mês, vários candidatos, incluindo o ex-Presidente François Bozize, que no mesmo domingo apelou, igualmente, ao boicote das eleições e declarou apoio aos movimentos rebeldes que controlam dois terços do território nacional.
Apesar disso, os Capacetes Azuis, as tropas rwandesas e centro-africanas reforçaram os contingentes e patrulharam Bangui, onde os habitantes responderam ao apelo do actual Presidente e compareceram em massa nas urnas. No Nordeste, em Koui, os rebeldes apoderaram-se do material eleitoral, enquanto na região de Ngaoundaye ameaçaram matar os agentes eleitorais.
«Em Bambari, a quarta cidade do país, as assembleias de voto permaneceram encerradas por causa dos tiroteios», explicou à AFP, Jeannot Nguernendji, presidente do Comité local da Paz. Bossembélé, uma vila próxima de Bangui, com cerca de 50 mil habitantes, 11 mil pessoas não votaram por falta de cartão eleitoral.
Situação idêntica ocorreu, também, em Batangafo, a 380 quilómetros a Norte de Bangui, segundo um agente eleitoral. Analistas locais consideram Touadera como favorito entre 17 candidatos, devendo os resultados completos serem divulgados até ao fim desta semana. A eleição caminhará para a segunda volta se nenhum candidato obtiver mais de 50 por cento dos votos. (In Lusa)
