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Entrevista com Emerson Campos, escritor brasileiro

por Redação

Por: Joacles Costa, correspondente do jornal 24 horas no Brasil

Joacles Costa: Nome, data e local de nascimento?
Emerson Campos Gonçalves: Emerson Campos Gonçalves, nascido no dia 05 de Janeiro de 1987 na Cidade de Belo Horizonte, Minas Gerais.

JC: Qual sua opinião em relação aos Gibis na iniciação da alfabetização?
ECG: Muitos colegas de pesquisa dentro da universidade torcem o nariz (com certa razão) para a formação literária que é fomentada pelos gibis, já que muitas vezes o conteúdo desses passa longe da educação estética e cultural que desejamos para os nossos filhos. Porém, o que muitas vezes passa despercebido é que, em muitos casos,o baixo custo dessas revistas em quadrinhos fazem com que essa seja a única possibilidade de contato das crianças da periferia com alguma forma de produção literária na infância (pelo menos foi assim no meu tempo de criança, já que não existiam dispositivos móveis, nem a possibilidade de acesso a outros tipos de produção literária). Então, com grande alegria no coração, posso dizer que tive a sorte de ter uma mãe maravilhosa e muito esclarecida que sempre incentivou meu hábito de leitura comprando essas revistinhas. Foi a leitura despretensiosa desses gibis que me apresentou o universo literário e foi a partir deles que, por conta própria, passei a buscar outros mundos através dos livros disponíveis na biblioteca da escola.

JC: Já publicou alguma obra literária ?
ECG: Apesar de ter outras obras acadêmicas publicadas e no prelo como organizador, “A morte do jornalista: causos poéticos” é o meu primeiro livro literário. Nos próximos meses está previsto o lançamento de “Convergência infinita de mídias”, meu primeiro livro acadêmico “solo”, por assim dizer.

JC: Como foi seu envolvimento mais sério com a literatura?
ECG: Até onde eu me lembre, desde sempre rabisquei poesias. Mas no começo era apenas empolgação da juventude (pelo menos eu achava isso), tanto que não conservei nenhum escrito mais antigo, foram todos devorados pelo tempo. O meu envolvimento mais sério com a literatura só começou mesmo uma década atrás, nos tempos de repórter no jornal Estado de Minas, quando passei a – sempre que possível – escrever uma reportagem ou outra em primeira pessoa para subverter o padrão engessado de um jornalismo que se apresentava como supostamente isento. A coisa deu certo, o público gostou e, além dos textos no jornal, passei a esporadicamente escrever crônicas para um círculo mais próximo de amigos jornalistas (uma grande incentivadora nesse processo foi a poeta mineira Ana Elisa Ribeiro, que era minha orientadora de mestrado). Nessa época comecei a maturar a ideia de escrever um livro de crônicas, mas com a mudança para o Espírito Santo, em 2013, o projeto acabou interrompido (e durante um tempo, a literatura como um todo também). Foi quando a Ufes surgiu no meu caminho, ainda em 2014. Fui cursar disciplinas optativas do doutorado em Letras e, entre algumas, me atraiu particularmente uma ementa que propunha realizar uma aproximação teórica entre Drummond (meu poeta favorito) e Adorno (meu filósofo favorito), ministrada pelo professor – e poeta – Wilberth Salgueiro. Eu que já era um leitor entusiasmado de poesias firmei o hábito e passei, a partir dali, a produzir de forma mais organizada meus poemas, levando a coisa um pouco mais a sério. Na sequência veio o doutorado em Educação e o caminho foi natural. A literatura passou a compor meus projetos de pesquisa e, também, parte significativa da minha vida. Acabei sendo escolhido pela poesia – embora não tenha desistido do projeto de crônicas.

JC: O que você gosta de ler ?
ECG: Entre os clássicos, como um bom mineiro preciso citar João Guimarães Rosa e Carlos Drummond de Andrade como escritores que me marcaram profundamente. E ainda marcam, a cada nova releitura.

JC: Que tipo de reflexão você quer transmitir em seus textos?
ECG: Com a minha poesia busco sempre contar um “causo”. E, como qualquer contador de causos, minha intenção é sempre valorizar a experiência a partir da leitura, causando algum tipo de incômodo. Mas escrever é preciso, escrever é uma forma de resistência. Então, ao fim, eu diria que busco incomodar o leitor de alguma forma com os textos. Se ele se incomodar e, a partir desse sentimento, refletir sobre questões sensíveis da nossa existência sobre as quais não se atentava antes, acho que minha literatura deu certo (por mais pretensioso que isso pareça).

JC: É possível o livro físico tornar-se apenas virtual?
ECG: Acho que já perdi as contas de quantas vezes, na condição de repórter, fiz essa pergunta (risos). E acho que a persistência dela é a prova de que não temos uma reposta fácil ou única. Mas eu diria que não. Acredito que as novas tecnologias forçam as anteriores a se adaptarem, mas não eliminam essas em definitivo. O suporte permanece porque a cultura permanece. A persistência dos jornais impressos (apesar da queda nas tiragens) é uma prova disso.

A morte do jornalista: causos poéticos
Emerson Campos explora seu próprio infortúnio como jornalista. A tentativa – carregada de inquietudes e ensaios – é de dar vida em seus versos àqueles que morrem anônimos, minorias invisíveis barbarizadas na máquina ofegante do capital que toma forma de cidade. Para isso, concluiu: o repórter – frio e objetivo – precisava morrer! Ao reconstruir o próprio trajeto do solo mineiro aos encantos capixabas, o poeta lança o olhar que herdou de uma vida na reportagem e passeia por causos e gêneros em que acredita. Traça, assim, um caminho de leitura que começa pela morte, metamorfoseia-se superando o tempo, une sotaques e povos, exalta o encontro de sexos e corpos no mundo de cimento, propõe algo de uma metacrítica perdida, desembarca no cenário de concepção da obra e, ao fim, derrama-se no essencial. O perigo nesta leitura, portanto, não é constatar a morte, mas decidir fazer uma revolução e renascer entre os 51 poemas”.

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