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Entrevista com o escritor Wagner Silva

por Redação

Por: Joacles Costa, correspondente do jornal 24 horas no Brasil

Joacles Costa: Como tudo começou?
Wagner Silva: Minha mãe me lia livros infantis e o clima da minha casa tinha a trilha sonora da poesia do samba. Depois me veio o rap dos Racionais mc’s, por volta dos 12 anos, quando entendi o poder da rima, do ritmo, e das metáforas em contextos que eu via e vivia na periferia. Aos 13 anos me apaixonei por livros através da Cecília Meirelles, ao ler o poema “Motivo” tive o meu; e através do Carlos Drummond de Andrade com “Amor Natural”, que folheei na biblioteca da escola e me maravilhei, como se o amor e o sexo existissem sem nenhum preconceito, moralidade, mesquinharia, só desejo, beleza e usufruto.

Joacles Costa: Quais são seus livros publicados?
Wagner Silva: O Classe Média Baixa (2014), e o Nix: microfone por tubos de ensaio (2018). Ambos pela Editora Pedregulho.

Joacles Costa: Quando começou a escrever?
Wagner Silva: Por volta dos 16 anos comecei a escrever Rap mas como não existia um contexto de Slam e Batalhas, como há hoje, foi mais espontâneo que eu enveredasse pelos livros, devido aos estudos para o vestibular, ao curso de Letras na Universidade e o contato com pessoas envolvidas com a produção literária em seus vários âmbitos.

Joacles Costa: O que o leitor encontrará nos seus textos?
Wagner Silva: Formas de pensamentos que influenciam na compreensão, no questionamento e na formação de opinião sobre contextos. Algo de Influencia na negritude e nas atitudes antirracistas. Algumas Influências na sensibilidade estética (Por que usar essa roupa? Por que ouvir essa música?

Joacles Costa: O que é preciso para escrever bem?
Wagner Silva: Leia muito, escreva muito, que isso irá potencializar o seu desenvolvimento e a sua formação. Abra todas as possibilidades de trabalho com a escrita.

Sobre o romance: Nix: microfone por tubos de ensaio é o contexto do rap feito por mulheres e as demandas do movimento negro. Conta a história da Kaissa, rapper e assistente social. O enredo gira em torno de seus shows, seus namoros, suas parcerias musicais, as demandas do abrigo onde trabalha e as surpresas que encontra em sua turnê internacional. Tudo começa com um amuleto que vem da África durante o Brasil Colonial e chega às mãos da Kaissa. É também sobre o que esse amuleto irá lhe possibilitar:

Nix: microfone por tubos de ensaio”

  • Pode ter certeza que um dia eles vão construir um lar com suas
    cabeças sãs, e sua base vai se erguer com o que a sociedade tem de melhor.
  • Amém!
  • Que seja: amém! – fala Wil com ar de riso.
  • Você levou o papo a sério, hein, queimou minha língua.
  • Nada, só cuidei dela com a minha
  • Uau, que cantada, você está ficando bom, Wil.
  • Vem cá, então (a puxa e dá um beijo no seu rosto).
  • Até mais.
  • Até.
    Um bom humor negro é o tempero do fogo, é tipo uma brincadeira
    que machuca, mas que no futuro pode resultar em uma profissão.
    Quando os dois dão as costas um pro outro ambos abrem um sorriso
    de satisfação que faz com que o dia deles seja mais bonito.
    Relacionando os saberes o casal fazia da Assistência Social e do
    Direito um lugar de intervenção, como se grafitassem nos prédios de
    suas áreas e pilhas de papéis fossem devoradas por essas pinturas que,
    de tão bem alimentadas, bem digeridas e saudáveis, tudo fosse mudando
    para melhor.
    Os dois se separaram e os prédios que grafitaram começaram a se
    deteriorar, mas o grafite resiste, não há risco de desabamento.
    Talvez isso seja o amor.

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