Início Entrevistas Acompanhe a entrevista com o ator Roberto Rowntree ’Desde que eu era criança, eu ficava brincando de atuar.’’

Acompanhe a entrevista com o ator Roberto Rowntree ’Desde que eu era criança, eu ficava brincando de atuar.’’

por Redação

escrito por Joacles Costa 18/01/2021

Foto: Jade Dubeux

Roberto Rowntree é um ator brasileiro, produtor, diretor, roteirista, além de cantor e compositor. Ele Iniciou a carreira ainda muito jovem, com peças de teatro, banda de rock e uma breve carreira de modelo. Ao tentar uma carreira de cantor de rock internacional na Europa, iniciou seus trabalhos como produtor, tendo trabalhado para grandes empresas, tais como: FHM, Marie Claire, Dazed and Confused, Sony UK, Flying Elephant, La Republica, TV 5, entre outras.
Ao retornar ao Brasil, Roberto começa um trabalho de produção junto a Ong Viva Rio e a Rádio Globo AM, na qual cria o programa Jone Brabo Show. Então, assume o cargo de diretor da TV Comunitária do Rio de janeiro e fica responsável pela primeira transmissão ao vivo. Daí por diante, começa a produzir o Programa Jone Brabo show para a TV.
Já atuando nas novelas, o talento, dedicação e esforço marcam a carreira deste ator de prestígio. Rowntree teve passagens pela Rede Globo de Televisão, com papéis marcantes. No cinema, teve papéis cômicos inesquecíveis.

Joacles Costa: Quando você decidiu ingressar na carreira de ator? Roberto Rowntree: Desde que eu era criança, ficava brincando de atuar. Me vestia com fantasias que eram feitas com os ternos do meu avô e com o chapéu da minha avó. Eu pintava o bigode com lápis da minha mãe e fazia personagens. Era incrível fazer teatrinho. Eu queria um irmãozinho e veio irmãzinha, aí eu botava bigode e barba nela pra fazer um outro mosqueteiro. A Minha mãe era atriz. Ela resolveu ser fazer teatro quando eu ainda era criança, daí ela começou estudar com o ator e diretor Zbigniew Ziembinski e eu a acompanhava. Eu estreei no teatro aos 14 anos, porém, neste período eu tive decepçãozinha, foi aí que me encantei com a música. Comecei a ser cantor de rock, me joguei nesse mundo por um tempo, mas acho que o destino estava traçado. Eu passei muito tempo cantando, viajei para fora do Brasil, por conta do Rock’n` rol, aonde eu aprendi a trabalhar com produção. Fui trabalhar na rádio por conta das músicas, comecei a fazer personagens e quando eu vi os convites começaram. Daí estava eu de volta aos palcos de outra maneira, não cantando. Minhas bandas eram performáticas, entre uma música e outra eu falava muito e contava histórias, enfim, o teatro estava no sangue o palco estava ali, não tinha como.
Joacles Costa: Você participou do humorístico Zorra Total na Rede Globo. Existe uma tendência a classificar talentos por gênero. Não temeu ser classificado apenas como comediante?
Roberto Rowntree: Quando eu comecei a fazer personagens, era em um programa de rádio que eu criei, um programa de humor, abriu um caminho natural de eu ir para televisão, fazendo o programa de humor, veio o convite pro Zorra. Fiquei muito tempo classificado como comediante, que é um erro, pois o ator faz comédia e faz drama. Existe um preconceito, e eu sofri esse preconceito um tempo. Para as pessoas, eu era um comediante, e não sou apenas, eu sou um ator. A comédia é muito mais difícil do que o drama. Mas eu fiquei muito tempo na comédia, foi no Zorra, foi no Didi, os espetáculos teatrais, comédia uma atrás da outra. Todo ano era dois ou três espetáculos de comédia, e muito tempo eu me especializei, estudei muito comédia. Eu estudei com os grandes atores, tive o prazer de trabalhar com o Paulo Silvino, Agildo Ribeiro, Renato Aragão, Dedé Santana, Ankito, Tutuca, Rogério Cardoso, enfim, grandes nomes da comédia brasileira. Muita gente boa, muita gente grande e maravilhosa. Aprendi muito com eles, e estudei muito com os grandes nomes, eu estudei muito Buster Keaton, Charlie Chapplin, os Três Patetas, O Gordo e o Magro, Abbott e Costello, Cantinflas, Oscarito, Grande Otelo, Mazzaropi, Louis de Funès. Eu estudava cada movimento e cada gesto, poxa o Jim Carrey é uma cópia de Jerry Lewis, eu estudei Jerry Lewis pra cacete, ele é genial, eu sou desse humor “careteiro”, depois eu aprendi muito desse humor Chapliniano e com o Duda Ribeiro, que foi um grande amigo que eu tive, mas quem faz comédia bem faz qualquer coisa.
Joacles Costa: Filmes que você participou foram parar em plataformas de Streaming. Como você encara isso? O público não fica restrito uma vez que essas plataformas não atingiram ainda popularidade? Roberto Rowntree: Olha vários filmes que eu fiz atingiram as plataformas por conta da pandemia, e com ela, uma maior procura. Elas realmente não atingiram uma popularidade como o cinema, mas a Netflix já vinha fazendo um barulho bem grande, e após pandemia, tanto a Netflix como a Amazon se agigantarão. A magia de ir ao cinema, como a magia de ir ao teatro não acabam. Em relação a TV, eu acho que as plataformas vieram para derrubar, eu acho que nem as TVs fechadas estão tendo tanta força de concorrência.
Joacles Costa: O cinema parece ser o veículo que mais aproveita você. Fale sobre isso. Roberto Rowntree: Na verdade, não é que o cinema seja o veículo que mais me aproveita, eu trabalhei 10 anos na TV Globo, fiz um personagem numa novela da Record, pequeno mas eu fiz. Na TV Globo, eu tive 03 personagens coadjuvantes que cresceram. Eu fiz várias participações, enfim, não somente em novelas, como em séries de TV fechadas, e fiz várias participações a pouco tempo em séries da Fox, AXN, Warner. O cinema, eu escolhi, digamos assim, eu percebi que havia um nicho ali, o cinema independente brasileiro. Precisava de experiência e garra e eu tinha essa garra. Eu queria trabalhar, queria botar a cara, tinha experiência de produção e podia ajudar, então eu comecei a fazer a diferença. Estar ali levantando as mangas e vestindo a camisa. Poxa, fiz 19 curtas e depois vieram 11 longas até o momento, que já não eram tão independente assim. Os filmes vieram maiores, participei e vou em todos os festivais. Participei de mesas de debates, fui apresentador, jurado, enfim eu vesti a camisa, me engajei digamos assim, no cinema nacional. E assim como eu abracei o cinema o cinema me abraçou.

Joacles Costa: Quais filmes contemporâneos tem chamado a sua atenção? Roberto Rowntree: Filmes contemporâneos que chamam a minha atenção é difícil citar um só. Eu gosto muito do cinema de entretenimento americano, que é puro entretenimento, eu gosto e sou um fã assumido de Blockbuster. Gosto muito do cinema europeu que é uma linha bem diferente e eu tenho assistido muitas coisas boas do cinema espanhol, cinema Italiano, francês e alemão. O cinema indiano é maravilhoso e algumas coisas do cinema coreano. Cinema japonês, eu gosto de filmes de gênero, de terror, de ação. O bacana é esse crescimento absurdo do cinema em todo mundo, e as pessoas fazerem cinema, que é uma forma de arte espetacular. Sem falar mal da televisão, que faz coisas maravilhosas também, mas o cinema tem mais conteúdo sabe, artístico, interpretativo, fotográfico, estético, é maravilhoso e sou apaixonado.
Joacles Costa: A música, que papel teve na sua vida? Roberto Rowntree: A música é um alimento da alma que a gente tem. Tive 17 bandas, eu estudei canto no conservatório Brasileiro de Música, fiz parte do coral de lá, me apresentei com o coral durante alguns anos. Tive muitas bandas, cantei rock, cantei Hard Rock, Heavy Metal, e cantei outros estilos. Fiz alguns covers e também compunha muito, mas a música é tudo, a música é vida. Eu gosto muito de música erudita, gosto muito de jazz, de rock, samba, forró, sertanejo. Gosto das músicas de raíz. Acho que essas músicas que modernizam transformam tudo na mesma merda. Agora todas e todos os estilos, tem letras do Funk, empobreceram as letras, todas são a mesma coisa, todo mundo mexe a bunda e toma cachaça acabou aí sabe. Não tem conteúdo, não tem letra. Infelizmente o Funk se deteriorou. O Funk era um movimento tão bonito quando começou, eu participei e cheguei a trabalhar com o MC Mascote, MC Marcinho, enfim a rapaziada das antigas. Conheci o Funk antes disso, no tempo do Soul. O Monsieur Lima, Ademir Lemos e Maia Funk eu conheci essa galera pessoalmente e trabalhei com eles. Trabalhei na Rio Elétrico, aquela empresa que lançou o Tim Maia, Sandra de Sá e a Banda Black Rio. Eu conheci o funk americano antes disso. O funk brasileiro, com letra bonita, que falava da luta do cara que morava na comunidade, do amor e agora vem essa coisa que só fala “bunda desce, bunda sobe.
Joacles Costa: Na novela ‘’Salve Jorge ” da TV Globo, seu personagem quase não tinha fala e logo cresceu na trama. A que você atribui isso? Roberto Rowntree: O fato do Galego ter crescido em “Salve Jorge “, partiu de um grande esforço da minha parte, com certeza. Foi um grande esforço, e eu criava artifícios, botava o cordão e camisa aberta, anéis nas mãos, pulseiras, brinco na orelha. Desde o começo da novela eu comecei a colocar um brinco, como eu não podia falar no começo, eu fazia de tudo para expressar o mal no meu olhar, eu exercitava isso toda vez que entrava em cena. Eu fazia que meu olhar passasse uma maldade, e para que as pessoas tivessem medo, e deu certo, por um lado as pessoas tiveram medo pela expressão que eu colocava, pela intenção do personagem, por outro lado as pessoas se encantavam com esse lance meio cigano, dos anéis, do cordão, da camisa aberta, da gola da camisa por cima do paletó. Tanto que depois de um tempo, o resto do bando passou a se vestir assim, até o Russo que era o meu chefe, passou a se vestir igual a mim. Vocês podem ver se a novela reprisar, vocês vão reparar isso. Eu tinha estudado como se vestiam os mafiosos, que trabalhavam com o tráfico de pessoas, principalmente o pessoal do leste europeu, e todos se vestiam assim, e eu fui nessa onda. O fator sorte foi o seguinte, a novela tinha vários núcleos, e o núcleo dos bandidos, foi o que mais chamou a atenção. Cresceu horrores, e eu estava no núcleo que mais cresceu na novela. E eu batalhando para arrumar o meu espaço ali, e consegui, então graças a Deus deu certo, eu soube aproveitar a oportunidade.
Joacles Costa: Projetos futuros no pós pandemia, quais são? Roberto Rowntree: Projetos pós pandemia são vários. Eu tenho a minha participação num filme do Péterson Paim. Mas estou com vários projetos para o ano de 2022, só que estes projetos todos, são relacionados ao cinema e muitos eu não posso falar, não tenho autorização para falar. Agora que as leis de incentivo começaram a funcionar novamente, com tudo devagar, ainda não dá pra sair espalhando uma coisa que ainda não aconteceu. Agora tem a “Soviética” do Felipe Ramos de lá do Recife e do Reynaldo Guedes, que será lançado provavelmente no final do ano. Um filme de ação muito bacana comigo e Duda Nagle. E tem o “Jorge de Capadócia’’, um filme muito bom, que conta a história de São Jorge, que foi feito numa co-produção Brasil- Capadócia. O Alexandre Machafer, diretor que também faz o Jorge. Eu faço o Cássio, que é um guerreiro ateu, que não entende aquela religiosidade de Jorge e o acha um babaca, por conta disso. É um personagem muito bacana, foi um presente que ganhei no ano passado que tá vindo aí.
Joacles Costa: De garoto que sofria bullying na infância por ser considerado feio pelos colegas, a ator de prestígio, qual conselho você daria a quem sofre de baixa estima?
Roberto Rowntree: O bullying é muito complicado. Eu venho de uma geração que todo mundo implicava com todo mundo, por conta das diferenças, e há um limite entre a brincadeira e o bullying. A brincadeira eu acho que não podemos classificar como bullying. Tipo eu brincava de guerrinha de frutinha quando era moleque, um jogava frutinha, no outro, era super saudável, às vezes, machucava um pouco. Polícia e padrão, Pega Pega, só sei que a gente caia e se ralava todo e aí quando um ria, todo mundo ria junto, isso não é bullying. O que faziam comigo era bullying. Eu era muito magro, asmático e usava óculos. Então, as pessoas implicavam comigo. É um trauma. O bullying é um ato hediondo, que envolve fatores psicológicos e algumas patologias também. A pessoa que pratica o bullying, sofre de uma patologia severa. Eu fiz do meu bullying o patamar para ir embora. Todo mundo mexia comigo por ser fraquinho. Eu queria ser melhor que aquilo, então, eu consegui me defender. A violência não leva a nada. A paz é sempre o melhor caminho, sempre. Acho que o ser humano vai aprender isso. Vai chegar um dia em que todos perceberão que precisamos viver em paz, uns com os outros. E aquele velho mandamento “Amai ao próximo como a ti mesmo”. O mais importante da vida, se a gente se respeitar, tudo dará certo, sem paranóia. Mas enfim, a gente transforma o nosso sofrimento em crescimento.

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