A Sonangol, ainda integrada na ‘holding’ Esperança com Isabel dos Santos, diz agora ter «dignidade suficiente para aparecer sozinha», não precisando de estar associada a empresas que «não têm o mesmo calibre».
O presidente da Sonangol afirmou na sexta-feira (05) que a petrolífera pode tornar-se acionista independente na Galp, onde actualmente surge integrada na ‘holding’ Esperanza, com a empresária Isabel dos Santos, uma questão que terá de ser debatida com a Amorim Energia.
«Como Sonangol, nós somos uma empresa que tem dignidade suficiente para aparecer sozinha, não precisa de aparecer associada a empresas que, possivelmente, não têm o mesmo calibre», sublinhou Sebastião Gaspar Martins, em Luanda, numa conferência de imprensa em que foram apresentados os resultados da empresa em 2020.
A Sonangol detém 60% da Esperanza Holding, de que também é acionista a Exem Energy, uma ‘holding’ holandesa que tinha como principal beneficiário o marido da empresária Isabel dos Santos, Sindika Dokolo, que morreu em 29 de Outubro de 2020. A ‘joint venture’ detém 45% da Amorim Energia que, por sua vez, é acionista de referência da Galp, com 33,34% dos direitos de voto.
«A Sonangol pretende continuar a defender os seus interesses», salientou o responsável, admitindo que, futuramente, a petrolífera pode aparecer «independente» do seu parceiro na Galp.
«É algo que temos de discutir com o nosso parceiro Amorim Energia e, em função dessa decisão, haver ou não separação», acrescentou. Neste momento, continuou, a Sonangol sente necessidade de continuar com a Amorim Energia a defender os seus interesses na Galp e considerou que a actual participação é satisfatória, mas não descartou a possibilidade de haver um reforço.
«Temos interesse participativo satisfatório, mas se surgir oportunidade teremos de analisar», afirmou Sebastião Gaspar Martins.
«Temos hoje uma direcção de estratégia e gestão de portefólio que avalia o investimento em termos do equilíbrio de toda a empresa e verifica se a adição deste interesse participativo é, ou não, vantajoso.Se a recomendação for sim, adiciona valor, nós seguimos e vemos as formas de aumentar esse investimento», referiu. Mas, por enquanto, realçou, «o que temos é suficiente».
Quanto à acção recentemente apresentada nos tribunais holandesas contra a Exem, escusou-se a entrar em detalhes, uma vez que «o processo está em curso». A petrolífera estatal angolana recorreu aos tribunais holandeses para ficar com a participação indirecta de 6% de Isabel dos Santos na Galp, detida através da Exem, segundo a Reuters. O presidente do Conselho de Administração da Sonangol destacou ainda que a empresa está progressivamente a converter-se numa entidade de energia. A Sonangol tem já identificados dois projectos de energia solar – centrais fotovoltaicas no Namibe e na Huíla, em parceria com a Eni e a Total- e pretende prosseguir este objectivo.
«Vamos continuar a identificar outros e, em função da viabilidade e dos benefícios, vamos decidir se prosseguimos», disse o responsável da petrolífera angolana. Outra área de interesse é a dos biocombustíveis, havendo já manifestações de interesse por parte da BP, adiantou.
«Estamos a fazer um percurso que visa fazer esta transição, não significa que vamos parar os investimentos no ‘oil&gas’ [petréolo e gás] que é a maior fonte de receitas», afirmou Gaspar Martins.(In Observador)